Os números da Polícia Federal na Serra apontam que comprar armas não é tão difícil quanto o apontado em manifestações nas redes sociais. Se os requisitos existentes não são considerados absurdos e os números mostram que a maioria das pessoas consegue adquirir uma arma, por que tantas pessoas se manifestam nas redes sociais afirmando o contrário? Como se iniciou esse mito de que é impossível para o cidadão se armar no Brasil?
Para Marcos Rolim, doutor em Sociologia e presidente do Instituto Cidade Segura, a desinformação é uma estratégia de políticos mal-intencionados que querem alterar a legislação para atender aos seus interesses.
— Este mito veio do discurso de deputados eleitos pelas indústrias de armas, que querem reduzir o controle sobre armas. Eles alteram a realidade para transitar uma proposta cretina com mais facilidade (de acesso às armas). Ao meu ver, quem tem preocupação com segurança pública deveria exigir que os policiais apreendessem armas e restringissem essa circulação. Defendo que policiais recebam um bônus por arma apreendida. Em Pelotas, já está tramitando (um projeto de lei) para prever este prêmio — acredita Rolim.
Um dos pontos mais criticados pelo estudioso no Estatuto de Controle de Armas de Fogo, proposta que está para votação na Câmara dos Deputados para substituir o Estatuto do Desarmamento, é a retirada de impedimentos para que pessoas que respondam a inquérito policial, processo criminal ou que sejam condenadas por crime culposo (não intencional) tenham acesso a armas.
— É uma proposta que não é séria. A atual Bancada da Bala (composta por políticos de diversos partidos) quer que qualquer pessoa possa ter uma arma. Hoje, o estatuto é fundamental pois quem é flagrado com uma arma ilegal é preso na hora. Não importa se esta pessoa pretendia ou já havia cometido um crime — argumenta.
Enquanto os pró-armas apontam que a violência continua a aumentar no Brasil e que o Estado é ineficiente em proteger a sociedade, os manifestantes a favor do Estatuto do Desarmamento respondem que mais armas em circulação nas ruas resultariam em mais assassinatos por motivos banais.
— No Brasil, as pessoas não sabem discutir no Facebook e vivem se xingando no trânsito. Imagina você estar num bar e dois caras brigarem. Agora, imagine os dois estando armados. Essa ideia (de que é preciso facilitar o acesso as armas em favor da segurança) ser apresentada ao público e ser repetida por quem não entende é um escândalo — avalia Rolim.
"Armas legais é que vão parar nas mãos dos criminosos"
Sobre o argumento de ter armas para se defender de assaltantes, Marcos Rolim lembra que bandidos utilizam do efeito surpresa e que os próprios comandantes da Brigada Militar e Polícia Civil recomendam não reagir diante desta desvantagem. O estudioso ressalta que são as armas roubadas do cidadão, de vigilantes e de policiais de folga que estão nas mãos dos criminosos:
— Não existe no mundo uma indústria que produza armas para bandidos. Todas as armas que estão nas mãos de bandidos foram, um dia, compradas legalmente. Como bandidos tem acesso a armas? Cometendo assaltos. Também é uma desinformação dizer que estas armas (nas mãos de criminosos) são produto de contrabando: 85% das peças apreendidas são produzidas no Brasil.
O efeito surpresa utilizado pelos assaltantes também aparece nos relatos de moradores do interior de Caxias do Sul. De acordo com o presidente do Sindicato Patronal Rural de Caxias do Sul, Valmir Susin, os agricultores não relatam dificuldades para comprar armas e gostariam de ver mais policiamento no interior.
— Quando tem arma e vê que tem uma pessoa estranha, claro que ajuda bastante. O problema é que eles (assaltantes) pegam de surpresa. Quanto te assaltam, tu estás desprevenido. Temos vários relatos que dinheiro e armas são as primeiras coisas que os bandidos levam. É problemático ter arma e não ter também é. O bom, mesmo, seria não ter assalto — afirma Susin, que ressalta que o sindicato não é favor do Estatuto do Desarmamento.
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