O crime que escancarou a movimentação e poder de fogo da primeira facção indiciada em Caxias do Sul vai a júri popular hoje. Na noite de 16 de outubro de 2016, cinco criminosos dispararam mais de 40 tiros no bairro Planalto para matar Jonas Almeida de Mello, um suposto rival na venda de drogas.
Os disparos também vitimaram a comissária de bordo Lilian Cassini, namorada do alvo da emboscada. Os assassinos foram perseguidos por policiais militares até a Vila Ipiranga, onde houve confronto e quatro criminosos tombaram. O único sobrevivente foi Anderson Lima de Miranda, que responde pela sequência de crimes em frente aos jurados.
Leia mais:
"É um cenário cinematográfico", diz oficial da BM sobre confronto em Caxias
"Era uma guria do bem, não queria violência", lamenta irmão de jovem morta em Caxias
Cerco à facção que dominava tráfico é explicação para redução de homicídios
Facção criminosa que domina bairros de Caxias planejava matar policiais
O réu é acusado de duplo homicídio qualificado, duas tentativas de homicídio contra policiais militares, porte ilegal de armas de fogo e receptação de um Palio roubado.
Os fatos daquela noite, aliado a informações sobre um plano de vingança contra brigadianos que nunca se concretizou, desencadearam a Operação Fratelli. O indiciamento de 19 investigados por associação criminosa em 18 de abril de 2017 foi a primeira vez que a Polícia Civil e o Ministério Público confirmaram oficialmente a ação de uma facção no município. Na época, o relatório policial de 24 páginas apontava o domínio da organização criminosa sobre a venda de drogas em cinco bairros: Planalto, Reolon, Santa Fé, Pioneiro e Cinquentenário II.
Os reflexos da Operação Fratelli motivaram, nesta semana, a decisão pela transferências dos líderes da facção para um presídio federal. O pedido já teria sido aceito pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), que indicou como destino a casa prisional de Mossoró (RN).
As transferências de Michel De Souza da Silva, o Michelzinho, Edenilson Reduzino Alves, o Nilsinho, Jeferson da Silva, o Jé do Reolon, e Alan Robson Livinalli Lora, o Alan, porém, ainda precisam ser aceitas pelo juiz federal daquela comarca e não têm previsão para ocorrer. O vazamento da decisão causou desconforto no Poder Judiciário e em órgãos de segurança.
O QUE DIZ O RÉU
:: Em juízo, Anderson Lima de Miranda afirmou que em nenhum momento tinha arma de fogo e que sua única participação nos fatos foi conduzir o HB20. Mirandinha relatou que foi chamado por Pavan para “fazer uma mão”, o que acreditava ser um assalto e não um homicídio. Declarou que foi Pavan quem lhe entregou o colete balístico e pediu que o vestisse.
:: Sobre a fuga da abordagem policial, Mirandinha declarou que não parou o veículo por estar em prisão domiciliar e porque alguns dos outros quatro ocupantes eram foragidos.
:: Sobre o confronto na Vila Ipiranga, o acusado declarou que o bando subiu a escadaria para se esconder na casa de um amigo, mas este não estava em casa, por isso continuaram fugindo até um matagal.
:: Os policiais militares, segundo Mirandinha, teriam chegado atirando e os criminosos se entregaram. Os policiais, então, teriam se aproximado, perguntando o nome dos bandidos e efetuado tiros a queima-roupa. Mirandinha alega só ter sobrevivido por estar de colete balístico e ter se fingido de morto ao cair de bruços. O acusado ainda afirmou não ter conhecimento sobre conflitos de facção, afinal havia saído há pouco tempo do presídio.
O QUE DIZ A BM
O tenente-coronel Jorge Emerson Ribas, comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), afirma que em relação à declaração do apenado Anderson Lima de Miranda, trata-se de um indivíduo com vasta ficha criminal e de grande periculosidade à sociedade caxiense.
— Na noite dos fatos, ele integrou uma quadrilha que executou de forma covarde e com requintes de crueldade um casal no bairro Planalto e, ainda que o jovem assassinado tivesse conduta social questionável, em nada justifica terem sido executados. Entendemos que sua declaração não merece qualquer tipo de credibilidade, seja por parte da Imprensa ou da sociedade em geral. Após a execução do mencionado casal, tal bando, fugiu com a intenção de garantir a impunidade, estando todos portando armamento de uso restrito, em grande quantidade e de grosso calibre, além de estarem portando colete balístico de origem também criminosa.A declaração desse indivíduo criminoso, renovo, de alta periculosidade, não merece credibilidade e muito menos amparo por uma sociedade que deseja menos violência social.
Todos os policiais militares que atuaram na perseguição colocaram a sua vida em risco e o confronto armado que se sucedeu, foi realizado de maneira técnica, corajosa e meritória de pleno reconhecimento social, conforme ficou apurado em já solucionado inquérito policial militar – justifica o comandante.