Atender acidentes de trânsito, pessoas que passam mal em diversas situações e outros tipos de ocorrências faz parte da rotina das equipes médicas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pelo telefone 192, em Caxias do Sul. Nesse tipo de situação, todo e qualquer minuto pode fazer a diferença para salvar de uma vida. Por isso, não há tempo para ser perdido. No decorrer dos últimos 12 meses, baseado em dados de agosto de 2020 a julho de 2021, a central caxiense do Samu recebeu 93.228 ligações. Deste total, 45% (ou 42.262 ligações) passaram por Regulação Médica.
Foram 18.146 chamados que se transformaram em despacho de ambulância para atendimento de urgência ou emergência. Em média, o Samu realizou 1.512 atendimentos na rua por mês pelo serviço. No entanto, a grande maioria dos contatos (55% das chamadas) não eram de atendimento. Elas se dividem em 29% (27.096) em pedidos de informações, 15% (13.592) enganos, 4% (3.633) ligações interrompidas e outros 3%. Além disso, a central contabilizou 3.625 chamadas consideradas trotes.
A diretora geral do Samu em Caxias, Carolina Cunha Lima, vê esses números em queda no comparativo com anos anteriores. Segunda ela, o fato de a maioria das chamadas não ser de urgência, não gera prejuízos.
— Não nos prejudica porque faz parte do trabalho do Samu orientar a população. Se não identificamos situação de urgência, que precisa de uma ambulância, mas, sim, de uma consulta, orientamos que busque um médico, procure o Pronto Atendimento ou uma UBS. Tranquilizamos o solicitante e indicamos a melhor a forma para o caso que está sendo apresentado — explica.
Entretanto, de acordo com Carolina, as divergências entre o que é dito pelos médicos e o desejo das pessoas na ligação, acaba gerando alguns desconfortos e extensão no atendimento, mesmo que raros.
— Mesmo com as orientações, as pessoas, por fator emocional, não entendem que o fato não caracteriza uma emergência ou urgência. No nervosismo ou medo faz com que se queira uma ambulância, mas não é bem assim. Por isso, os médicos têm esse manejo e treinamento para lidar com essa parte. Se fosse mandar ambulância para todos os casos, não teríamos condições. É claro que, se o quadro do paciente se alterar, o atendimento com ambulância é feito, sem dúvida — ressalta.
Bombeiros vivem situação parecida nos atendimentos por telefone
Na central do 5º Batalhão de Bombeiros Militar de Caxias (5º BBM), o cenário é parecido com o que ocorre no Samu, com muitas chamadas não tendo ligação com a corporação e, sim, com outros órgãos de segurança da cidade.
De acordo com o major Lúcio Junes Lemes da Silva não é possível mensurar em números exatos essa situação. Ele ressalta que, mesmo não sendo função dos bombeiros, todos devem prestar ajuda e informação para a população. Sobre trotes, o major vê esse número se reduzindo com o tempo. Em 2020, contabilizando toda a área do batalhão, foram 44 ligações.
— Em um universo de milhares de ocorrências, 44 acaba sendo aceitável. Não podemos dizer que zerou, mas ficou bem reduzido. Anos atrás os trotes ocupavam grande parte das ligações. Esse problema está quase superado — ressalta
Para Lemes, isso se deve a uma maior conscientização por parte da sociedade, principalmente dos jovens.
— Alguns eram imaturos e não entendiam que o acionamento de uma viatura podia desguarnecer a cidade e comprometer um atendimento que poderia acontecer. A democratização e a universalização das redes sociais acabaram dando um entretenimento diferente para as pessoas — argumenta.
Vale lembrar que a pessoa que realiza trotes pode ser enquadrada no Código Penal Brasileiro. Em um dos artigos, o 265 — atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer outro de utilidade pública —, a pena é de reclusão de um a cinco anos, além de multa. Há também a possibilidade de enquadramento no artigo 266 — interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento. Nesse caso, a pena é de detenção de um a três anos, mais multa.