Uma carreata organizada por pais de estudantes da rede particular de Caxias do Sul pediu desconto nas mensalidades na manhã desta quinta-feira (9). A mobilização começou por volta das 10h30min na Rua Sinimbu, em frente à Praça Dante Alighieri, com arrecadação de alimentos e roupas para doação. Escoltados pela Brigada Militar (BM), cerca de 20 veículos com cartazes e faixas iniciaram o percurso pelas ruas da cidade por volta das 11h20min. Durante o deslocamento, contudo, o número de manifestantes aumentou.
A carreata passou em frente às principais instituições de ensino da cidade, circulando pelo Centro e pelos bairros São Pelegrino, Lourdes, Sagrada Família e Villaggio Iguatemi, entre outros. A mobilização foi organizada pelas redes sociais por famílias que enfrentam dificuldades financeiras devido à paralisação das atividades em setores da economia. A principal reclamação do grupo é a falta de disposição das escolas em negociar um desconto. No máximo, segundo eles, o que as instituições aceitam é avaliar casos específicos, mantendo a cobrança para quem tem possibilidade de pagar. Os pais argumentam, por exemplo, que as escolas estão economizando em gastos para manter a estrutura, como água e energia, e que essa redução poderia gerar um abatimento de 30% da mensalidade.
— Quando aumenta a mensalidade, a justificativa é que os custos subiram e quando cai dizem que não serve de justificativa. São dois pesos e duas medidas - reclama Juliana Spielmann, 43 anos, uma das organizadoras do protesto. Ela tem dois filhos de sete anos em escola particular e trabalha com o marido no comércio da família, agora fechado.
Para a família da cabeleireira Adriana Fonseca, 40, a situação ficou mais dramática na semana passada, quando o marido foi desligado do trabalho. Ele trabalhava como autônomo na manutenção de um hotel da cidade e já não recebia devido à paralisação das atividades. Por ser terceirizado, também não tem direito a indenizações pela rescisão de contrato. O casal tem uma filha de oito anos em uma escola particular e, com ambos sem trabalhar, tentam encontrar soluções para arcar com as despesas.
— Entrei em contato e a única coisa que falaram é que poderia acertar mais pra frente, não deram abertura. Estamos gastando internet e luz, temos que imprimir folhas. Estou com meu salão fechado desde o dia 14. Meu marido é MEI (microempreendedor individual) e fizemos o cadastro para o auxílio do governo, mas ainda não veio resposta. Meu filho está na faculdade e conseguiu 15% de desconto — desabafa.
A situação é semelhante para Andreiza Pistorello, 42. Fotógrafa de eventos e manicure, não consegue trabalhar devido à paralisação dos dois setores em que atua. O marido, técnico em eletrônica, que também atua no setor de fotografia, está desempregado desde outubro. O casal tem uma filha de oito anos na rede privada de ensino.
— Não tenho como trabalhar, como vou manter a escola dela? Não queremos nada de graça, queremos desconto. Como uma criança em fase de alfabetização vai aprender com uma folha de PDF? Não se compara uma aula que a pessoa acompanha presencialmente com uma aula à distância (sistema adotado por várias escolas) — reclama.
O Sinepe, sindicato que representa as escolas privadas, diz que não é cabível a redução nem a postergação das mensalidades porque as aulas continuam, apesar de não serem presenciais. No entanto, a entidade diz que as instituições são sensíveis e estão abertas a avaliar casos particulares de famílias com dificuldades financeiras.
O coordenador do Procon de Caxias, defende o diálogo como uma opção inicial:
— Temos que ter uma negociação dentro dos princípios da boa fé e do bom senso. Caso contrário, o Procon irá intermediar. Entendemos que deve haver uma divisão de prejuízos. Essa é uma excepcionalidade e o cidadão não poderá absorver integralmente os custos disto — diz.