Confira no Crônicas de Natal deste final de semana a história de Cinthia Zorgi.
Como toda família italianíssima, as lembranças vêm de muitas formas, como o som do sino do Papai Noel chegando, as vozes em alto e bom som falando ao mesmo tempo, todos arrumados chegando com pratos repletos de amor, os gritos das crianças empolgadas com os presentes, a alegria da roupa nova para a data, as cantorias, os teatros e mensagens preparadas carinhosamente, e claro, os aromas e sabores das receitas que não podem faltar. E nestes tantos anos de Natais lembrados, percebemos a importância de cada familiar ali presente com sua experiência e presença insubstituível.
Ouça o áudio da carta:
As matriarcas vó Maria e vó Elda estiveram presentes em muitos Natais das famílias Zorgi e Curra, e amavam aquela movimentação toda dos preparativos. Todo este amor de ambas trouxe uma tradição, mantida até hoje, nas nossas famílias paterna e materna, onde a véspera de Natal é comemorada com todos os tios, primos e bisnetos, cada vez na casa de um dos cinco irmãos do pai Telmo, ou filhos. Já na família da mãe Maria do Carmo, acontece o tradicional almoço de Natal, os quais aconteciam na chácara em duas mesas enormes, já que todas famílias dos sete irmãos estavam presentes. Com o passar dos anos, o almoço acontece na casa de um dos queridos tios.
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Para que ambas comemorações acontecessem, e ainda aconteçam, tudo é planejado meses antes, onde cada talento gastronômico e artístico vem a tona nas duas famílias. Na Família Zorgi, tudo começou com a vó Maria, na tradicional casa da Avenida Júlio, de Flores da Cunha, onde encontrava-se um Natal com o melhor pudim do mundo. A tradição de reunir a família teve continuidade através das tias, em proporcionar lembranças aos seus filhos pequenos, e deu muito certo.
O pernil assado preparado pelo pai não pode faltar, levando todo dia 24 para ficar pronto e “assistido” pelos primos, tios e curiosos de plantão (é um evento a parte); os sanduíches enrolados da mãe, conforme a receita antiga da vó Elda são um sucesso e sem eles a noite não começa. O fricassê da tia Mari é dos deuses e é disputado na ceia (precisa ser rápido); a decoração das primas é maravilhosa e torna todo ambiente encantador para a chegada do Papai Noel. Mas, antes de tudo, o mais emocionante: a reunião de todos para assistir apresentações das priminhas que fazem todos chorar de emoção, as orações e claro alguma cantoria. Falando em música, surgem nítidas as lembranças dos LPs do Roberto Carlos tocando e do cantar alegre da tia Tere, contagiando a todos.
Ao longo dos anos de Natais na família Zorgi sempre tivemos o Papai Noel, nosso tio Orides, dono de uma voz inconfundível e que chegou até de carroça uma vez. Hoje, apesar de não terem na família mais crianças que acreditem no Bom Velhinho, ele continua aparecendo (variando entre os primos que a roupa serve). Acho que nos comportamos bem!.
Chegando o almoço de Natal, no dia 25, a família Curra entra em cena, a qual cabia inteirinha na mesa grande feita de pinheiro e na mesa das crianças, unindo todos para uma refeição repleta de lembranças. As receitas da vó Elda estão ali presentes, as quais a mãe e as tias regem divinamente, todas guardadas em um livro reescrito à mão, através dos papéis amarelados e das lembranças.
Todos presentes, inclusive com as novas gerações Curra, ficamos em silêncio ouvindo as mensagens de reflexão, novamente juntos em torno do mesmo Menino Jesus que todos os anos a vó trazia na manjedoura, e assim oramos. Felizes com o encontro, é hora de reviver os sabores antigos como do chester com recheio doce e com recheio salgado, os fios de ovos, as frutas, os vinhos e claro os doces maravilhosos das tias.
E o Papai Noel? Sempre surgia do nada, do meio do verde da chácara, de surpresa, mas era estranho que algum dos seis tios sumia... Valia até trocar a roupa escondido no mato ou dentro do carro, a turminha estava de olho. Tios queridos preparem a roupa, este ano queremos reprise do Papai Noel para os pequenos, a magia continua.
Natal é um momento de observar, de envolver e deixar-se envolver, de sentir as pessoas que estão próximas, sentir seus abraços, ouvir suas histórias e aproveitar e agradecer por momentos assim que nos preenchem de quem somos. Sorte a nossa de fazer parte de duas famílias incríveis que nos ensinaram a valorizar estes momentos, com o real significado de que presente é estar presente.
Um agradecimento especial a cada familiar por proporcionar momentos de Natais felizes e inesquecíveis, em especial aos meus pais Telmo Guilherme e Maria do Carmo, e as irmãs Bianca e Vanessa, protagonistas desta história de vida.
Cinthia Zorgi, artista gráfica.
*Crônicas de Natal é um projeto assinado por Adriano Duarte, Andressa Paulino, Juliana Rech, Luan Zuchi e Manuela Balzan.
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