Confira no Crônicas de Natal desta segunda-feira a história de Tania Scuro Mendes.
Início de novembro: época de escolher canções, mensagens e, o principal, a pequena peça teatral. Folheávamos livros, cadernos antigos retirados de baús e até enciclopédias para encontrarmos novidades. Após as aulas e os temas de casa, nos reuníamos para realizar ensaios, muitos ensaios. Crianças levam o Natal a sério. As meninas incumbiam-se dos desenhos e pinturas decorativas, e os meninos, especialmente os mais velhos, construíam o palco e a engenhoca que abria a cortina em duas partes em um mágico puxar de corda. Mas quem seria a plateia?
Ouça o áudio da carta:
Era necessário convidar, na verdade convocar pais, irmãos, vizinhos e amigos. No princípio, esse era o evento: as apresentações inspiradas no Menino Jesus. Depois, os adultos, motivados pela meninada da rua, organizaram almoços e mais almoços a cada ano. E todos vinham trazendo diferentes pratos de delícias, enquanto outros eram preparados por grupos no recinto. Foram tempos de infância e limiar da adolescência comemorados com encontros.
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Para nós, aprendizes de divisões de tarefas e de responsabilidades, a culminância era o grandioso espetáculo, apresentado sempre ali, no porão de um dos vizinhos, que alugava a casa de fundos onde minha família morava. Os aplausos nunca foram o primordial porque os planejamentos já eram festejos celebrados por todos. Mal percebíamos que animávamos a essência natalina, oportunizando confraternizações, comunhão e, mais do que isso, orando com ações.
Não experimentei Natais assim em outras fases da vida, porque nada se compara ao poder criativo das crianças. Uma delas vive no meu coração e me faz acreditar que aqueles parabéns cantados a Jesus ecoam na religiosidade tolerante e admiradora, que busca a compreensão e o convívio com as diferenças, mesmo neste mundo adulto, por vezes tão distante do verdadeiro sentido de Natal.
Tania Scuro Mendes, professora.
*Crônicas de Natal é um projeto assinado por Adriano Duarte, Andressa Paulino, Juliana Rech, Luan Zuchi e Manuela Balzan.
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