As cirurgias eletivas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estão suspensas nos dois maiores hospitais de Caxias do Sul devido à superlotação dos leitos. A medida foi adotada a pedido da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e afeta quem tinha procedimento marcado para os próximos dias. Os casos que não exigem internação estão sendo atendidos normalmente nos hospitais. O Virvi Ramos anunciou que não terá alterações e seguirá realizando cirurgias, pois o volume de atendimentos contratados é baixo e boa parte do serviço é ambulatorial.
Conforme a secretaria, a decisão foi provocada por uma constatação preocupante. Na sexta-feira passada (23), 15 pessoas em estado grave aguardavam leito nos prontos-socorros dos hospitais Pompéia e Geral (HG) e não havia qualquer possibilidade de encaminhamento por falta de vagas. No mesmo dia, as administrações das duas casas receberam documento com a orientação da SMS para interromper as cirurgias eletivas, o que possibilitaria a liberação de leitos para pacientes da urgência e emergência.
Alexandre Avino, diretor técnico do HG, relatou à reportagem que os 237 leitos da instituição estão ocupados. Conforme ele, não é possível dizer o número exato de procedimentos que deixaram de ser feitos nos últimos dias. O hospital realiza de 20 a 30 cirurgias eletivas por dias, em média. Contudo, muitos desses casos são de pacientes que não precisam de internação. Conforme Avino, esses procedimentos são chamados de ambulatoriais e não foram suspensos. A superintendente administrativa do Pompéia, Daniele Meneguzzi, informou que os 179 do SUS estão todos ocupados. A instituição também é referência para outros 48 municípios da região.
— Hoje estamos com 12 pacientes internados, mas sem leito. Havia 20 pacientes antes, mas nos últimos dias, alguns receberam alta direto do pronto-socorro e outros conseguiram leitos. Quinze cirurgias eletivas deixaram de ser feitas essa semana. Amanhã (sexta-feira, 30), vamos avaliar a situação — comentou Daniele.
A estimativa é de que os serviços voltem ao normal na próxima semana, mas a suspensão deve fazer com que a fila se estique ainda mais. Em junho, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) apontou que 5.046 pessoas aguardavam por algum tipo de cirurgia eletiva em Caxias por falta de capacidade da rede hospitalar em absorver os pacientes. No topo da lista dos procedimentos autorizados e não realizados, estava a traumatologia, com 1.216 pacientes. Em segundo lugar, o procedimento mais aguardado era a cirurgia geral com 1.155 pessoas, seguida pela ginecologia com 390 mulheres aguardando. Em julho, a fila reduziu para 4.849 pessoas.
A suspensão de cirurgias eletivas são corriqueiras em Caxias, mas geralmente envolve uma única casa hospitalar, caso do Hospital Geral, que já adotou diversas vezes a medida nos últimos meses. A suspensão simultânea mais recente desse tipo de serviço em mais de um hospital só havia ocorrido em maio do ano passado durante a greve dos caminhoneiros. Na época, os hospitais adotaram a medida para poupar materiais médicos, uma vez que o abastecimento estava precarizado. Em julho de 2016, houve outra interrupção das cirurgias eletivas em todos os hospitais do SUS da cidade devido à superlotação provocada pelas doenças de inverno.
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Nicola aguarda cirurgia desde o ano passado
Entre os pacientes afetados pela longa espera está Nicolas Oliveira Machado, quatro anos. Na fila desde o ano passado, a criança tem as amígdalas muito grandes, que prejudicam a saúde e interferem na alimentação, por exemplo.
— Ele está perdendo muito peso porque não consegue comer, só ingere líquidos — explica a mãe de Nicolas, Camila Fabiana de Oliveira.
Conforme a mãe, quando ele consulta com o otorrinolaringologista, Nicolas toma antibiótico por sete dias e melhora. Entretanto, depois deste período, as dores voltam e ele apresenta febre. Em setembro do ano passado, a secretaria da Saúde entregou à mãe um papel informando que este tipo de procedimento cirúrgico estava com agenda fechada, sem previsão de retorno.
A secretaria da Saúde, porém, garante que o município continua ofertando esse tipo de cirurgia e que a agenda não está fechada, mas há, sim, uma demanda reprimida. Segundo o órgão, a espera é de um ano e os pacientes estão sendo chamados conforme disponibilidade de agenda do serviço e de sua equipe profissional, levando-se em conta também a prioridade de cada caso. Ainda de acordo com a pasta, o contrato com o prestador prevê a realização de cinco cirurgias de otorrinolaringologia por mês, que é a capacidade máxima. Por esse motivo, os pacientes com indicação cirúrgica estão sendo chamados conforme disponibilidade de agenda. Também leva-se em conta também a prioridade de cada caso.
A secretaria de Caxias está avaliando junto ao prestador do serviço a possibilidade de aumentar a oferta na renovação do contrato, prevista para outubro. As consultas na área de otorrinolaringologia também continuam sendo ofertadas, sendo marcadas para daqui 30 dias.