A rede privada em Caxias do Sul enfrenta superlotação, mas não há registros de pacientes aguardando em poltronas. O Complexo Hospitalar Unimed chegou a ter 100% dos leitos ocupados na semana passada e acionou os hospitais credenciados como Pompéia, Saúde e Círculo. Um dos termômetros da alta procura é o chamado hospital-dia, modalidade de atendimento onde o paciente fica 12 horas ou 24 horas internado.
Conforme a direção, todas as 10 vagas estiveram ocupadas porque não havia leitos clínicos, contudo, o serviço prestado é o mesmo. O diretor-clínico do complexo, Primo Agostinho Piccoli Neto, considera que o extremo de temperaturas sempre produz alta demanda.
– As pessoas permanecem mais tempo no hospital, idoso e criança vão e vem com muita facilidade. Quando temos necessidade maior do que o disponível, se aciona a rede, mas os cenários mudam constantemente. Hoje posso estar com lotação, amanhã não – complementa Isabel Argenta Cervelin, coordenadora operacional do complexo.
O Hospital do Círculo reabriu nos últimos dias uma ala que estava desativada para dar conta da demanda, conforme Carlos Alberto Moreira de Souza, coordenador de serviços de emergência. O setor 300 tem 12 leitos clínicos. A administração da instituição liberou horas extras e pretende fazer a contratação de funcionários.
– Já estou aqui há 8 anos e nunca vi uma procura tão elevada. A reativação do setor 300 é justamente para dar um melhor atendimento.
Na quarta-feira (17), a ocupação atingiu 98% das vagas. Em semanas anteriores, a taxa oscilava entre 70 e 75%. A diferença é que as doenças do frio tem favorecido uma alta procura desde o início da semana. Na correria do pronto-atendimento, a médica Rafaelle Furlan mostrava a quantidade de pacientes que haviam dado entrada na observação em apenas duas horas: 12 pessoas, a maioria ocupando camas.
– Temos um pouco de tudo. No inverno, surgem mais os casos de doenças respiratórias e cardiológicas – explica Rafaelle. O Hospital Virvi Ramos, que atende SUS e convênios, abriu 15 leitos como suporte para o atendimento dos pacientes encaminhados pela UPA da Zona Norte. O espaço é temporário e o contrato terminará no final de agosto. Depois, o hospital seguirá atendendo com as vagas normais. Diferentemente do HG e do Pompéia, o Virvi só recebe pacientes via regulação da secretaria, ou seja, não interna alguém sem ter uma cama disponível nos quartos.
– Hoje, se não tivesse esses 15 leitos, haveria mais pacientes em poltronas na cidade – analisa a diretora executiva de Saúde e Educação da Associação Cultural e Científica Virvi Ramos, Cleciane Simsen.
Situação da rede hospitalar exige soluções rápidas
Para o diretor técnico do HG, Alexandre Avino, a situação da rede hospitalar exige discussão inteligente e soluções rápidas, pois não é problema restrito ao inverno. Uma alternativa seria a ampliação do hospital, obra iniciada em 2014 e paralisada desde 2017 por falta de recursos.
– Na nova estrutura, teria como aumentar a capacidade em 60% dos leitos para pacientes críticos e duas vezes a capacidade da UTI adulto.E também tem de haver esforço conjunto para orientar a população a respeitar a escala de gravidade,não tem porque lotar o pronto-socorro de hospitais – apela Avino. O Pompéia adotou procedimentos internos para agilizar a confecção de laudos de exames e cirurgias, o que ajuda no giro das vagas. Há dois anos, conforme Daniele Meneguzzi, a média de internação ala do SUS era de oito dias,quantidade que baixou para 5,5 dias.A espera dentro do hospital para cirurgias também reduziu. Há alguns anos, havia pacientes que ficavam um mês internados à espera de um leito de UTI para o pós-cirúrgico.
Agora, com a disponibilidade de um leito fixo para cirurgia cardíaca e um leito fixo para neurologia, a permanência é menor, mas às vezes pode chegar a 10 dias.
– Esses dias a menos significa atender mais pacientes, por isso tivemos que repactuar com a prefeitura aumento do teto – compara a superintendente administrativa.
Como o vai e vem de pacientes é imprevisível, o Pompéia não conseguiu realizar nenhuma cirurgia cardíaca eletiva por falta de UTI entre os dias 8 e 12 de julho. Na última semana, os sete leitos de observação na emergência, que deveria manter pacientes por algumas horas, estavam ocupados por pessoas em tratamento há vários dias. O diretor-clínico do complexo da Unimed diz que a demanda é real e existe em função da sazonalidade, mas reconhece que é preciso identificar formas para equilibrar.Primo Agostinho Piccoli Neto revela que o plano tem 300 pacientes domiciliares, com um aparato ou atendimento médico só possível de encontrar nos leitos clínicos. Fosse ao contrário, seriam 300 pessoas a mais ocupando os hospitais da cidade.
– Também temos 20 mil pacientes monitorados, atendidos pela medicina preventiva, com algum tipo de doença, que precisam desse cuidado redobrado para evitar a hospitalização – detalha o médico.
Para os gestores, o agravamento de doenças como diabetes e obesidade, entre outras, além do envelhecimento da população contribuem para a situação atual. O quadro é agravado pelos acidentes e violência.
– É uma bola de neve. A ocupação do leito UTI ou clínico acaba bloqueando as cirurgias eletivas, por exemplo. Se houvesse mais leitos na cidade, talvez isso não ocorresse – aponta Cleciane Simsen.