As enormes mesas dispostas em frente ao palco Nostra Itàlia, da 32ª Festa da Uva, estão tomadas por cerca de 70 crianças. As bolachas, os salgadinhos e refrigerantes entregam que é a hora do lanche, oferecido pela direção da Escola Municipal 19 de Abril, do bairro Cidade Industrial, aos seus alunos do 4º e 5º anos. Naquela tarde, a garotada teria uma imersão no conteúdo estudado ao longo do ano: a história da imigração italiana na Serra.
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Para os professores, comandar uma excursão de jovens curiosos e inquietos pode ser uma das experiências mais desafiadores da profissão. A "profe" Kelim Venturini, 39, contudo, não esconde a empolgação por poder oportunizar aos seus pupilos experimentar na prática aquilo que é passado em aula, que também representa uma realidade que pouco acessível ao cotidiano da maioria.
— Para as crianças, que são "fominhas" por informação, tudo é muito novo. Assistir a um artista pintando, uma nonna cozinhando a polenta. Desde o dia que a gente avisou que viria, acho que elas não dormiram mais. Até a pulseirinha que vai no pulso querem levar pra casa, como lembrança. É bacana ver como elas dão à Festa um sentido muito diferente de nós, adultos, que muitas vezes enxergamos mais o lado comercial — comenta a profe.
A união da turma salta aos olhos, principalmente em torno de um menino cadeirante, vítima de paralisia cerebral. Além do próprio cuidador, os meninos e meninas são atenciosos e solicitos. Kelim explica que a solidariedade vai além.
— Três alunos não tinham os R$ 10 que pedimos para pagar o transporte. Eu me ofereci para pagar, o diretor também. Hoje, um dos alunos chegou com R$ 10 que pediu para a mãe, porque queria pagar para o coleguinha poder ir — orgulha-se.
Responsável por 21 alunos, Kelim revela que esse número fica na sua cabeça o tempo todo, enquanto olha para as crianças e repassa a contagem uma por uma. Tudo para garantir a segurança e que a experiência seja tão bacana quanto possível:
— Quando chegar o fim do dia eu vou estar exausta. Mas a felicidade de poder mostrar na prática aquilo que a gente ensina em aula é tão grande, que, quando for tomar meu chimarrão e contar para minha mãe tudo o que aconteceu, vai ser com a sensação de que valeu a pena.