Pilar do desenvolvimento do jornalismo caxiense, é difícil encontrar empreendimento dentro da área na cidade nas últimas quatro décadas que não teve ao menos uma mãozinha de Paulo Cancian. Ele morreu aos 67 anos na manhã desta quinta-feira (20).
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Antes da comunicação, porém, veio o futebol na vida profissional do jornalista:
— Ele foi goleiro do juvenil do Juventude. O futebol sempre foi uma paixão dele. Mas acabou voltando para o jornalismo. Ele foi um dos principais jornalistas de Caxias do Sul, sempre foi atento às questões do Juventude, lembro disso, na minha primeira passagem pela presidência do clube — comenta Walter Dal Zotto, empresário e atual presidente do Juventude.
Apesar de competente arqueiro, a paixão por informar foi mais forte. Em 1969, Cancian começou como redator na Rádio Caxias, o que lhe deu a oportunidade de atuar na nascente TV Caxias, hoje RBS TV. Na época, já mostrava indícios de sua marcante versatilidade.
— Ele acabou saindo da TV Caxias e veio trabalhar comigo, como meu assessor na Madezatti — lembra Edemir Zatti, empresário e vice-presidente do Sindimadeira RS.
Ali nasceu uma relação que persistia até hoje. Há cerca de 20 anos, Cancian passou a auxiliar na publicação de informes do sindicato e prestou serviços de assessoria de comunicação enquanto sua saúde permitiu.
— Ele entrevistou centenas pessoas de Caxias, de todas as áreas. Com certeza leva com ele um pouco da história da cidade. O sindicato perde um grande colaborador — lamenta Zatti.
Em 1973, Cancian personificava o profissional multimídia muito antes da internet, quando, depois de experiências na rádio e na TV, começou a atuar no nascente Jornal de Caxias. Ali começou a parceria com o jornalista Renato Henrichs, que duraria 45 anos. Os dois compartilharam projetos também no Pioneiro, na época em que o jornal passou a circular todos os dias.
— Ele sempre foi uma fábrica de ideias, sempre muito atuante — recorda Henrichs.
Entre os destaques da atuação conjunta, Henrichs destaca a criação da Folha de Hoje, em 1989, jornal que Cancian ajudou a idealizar. Quem conviveu com o jornalista sempre destaca sua personalidade de agregador, que mantinha uma boa relação com todos que conhecia. Essa foi uma das qualidades que pesou para o empresário Paulo Triches, criador da Folha.
— Eu não entendia nada desse assunto, toda parte editorial era feita por ele. Ele trouxe pessoas para trabalhar, porque tinha muita liderança, além do aspecto profissional. E eu diria que arrumei um amigo, uma pessoa que deu vazão às minhas ideias - define.
Triches lembra com carinho da impressão da primeira edição da Folha:
— Era sábado, 22h. Queríamos ver aquilo impresso no papel. E essa vibração era tanto minha quanto dele, era mais que um trabalho. Realmente, eu diria que não há outra pessoa em Caxias que vá ocupar o lugar dele.
Tanta experiência não era motivo para soberba. Pelo contrário, o jornalista estava sempre disposto a compartilhar o que aprendeu com anos de prática, conforme Carlos Heinen, ex-presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias, entidade de quem Cancian sempre esteve próximo.
— Ele foi um instrutor de muitos profissionais na nossa cidade. Tinha uma facilidade de transmitir os conhecimentos e passava uma confiança da certeza de estar na frente do melhor professor. E, para qualquer iniciativa que precisasse da experiência dele, ele atendia prontamente — avalia.
Quem chega mais perto de captar a essência da carreira gigante de Cancian é Renato Henrichs, um de seus mais longevos colegas:
— Ele é o mais expressivo, mais legítimo e mais querido representante de um tipo de jornalismo que está em desaparecimento. É um jornalismo de uma geração que teve ideias, comprometimento comunitário e tesão. Caxias perde um representante desse tipo de jornalismo, extremamente importante inclusive para o crescimento da cidade, não só econômico, geográfico, mas comunitário, cultural. E eu, particularmente, perco um amigo que dividiu todas essas aspirações.