O município de Nova Pádua deu a Jair Bolsonaro (PSL) a maior votação percentual entre as cidades do Rio Grande do Sul no segundo turno das eleições. O candidato alcançou 92,96% dos votos válidos. No primeiro turno, o percentual tinha sido de 82,75%. Com uma população estimada pelo IBGE de 2.548 habitantes, a cidade de economia baseada na agricultura tem 2.308 eleitores. No segundo turno, Bolsonaro obteve 1.770 votos, enquanto Fernando Haddad (PT) conquistou 134 votos (7,04%).
No município emancipado há 26 anos, a votação maciça em Bolsonaro pode ser explicada por três motivos: os prefeitos eleitos, as composições das legislaturas da Câmara de Vereadores e o sentimento antipetista. Mas nem sempre houve uma supremacia da direita. Em 1992, na primeira eleição municipal, os paduenses elegeram o prefeito Dorvalino Pan e os vereadores Guido Baggio, Clademir Tonet e Elói Marin, todos do PDT. Na disputa de 2000, Pan voltou à prefeitura pelo PDT, mas depois trocou para o MDB.
Porém, nas outras eleições municipais, o poder esteve predominantemente nas mãos de PP, MDB e por último do PSDB. Dos nove parlamentares eleitos em 2016, são quatro vereadores do PP, três do MDB e dois do PSDB, todos de partidos de centro ou centro direita.
O sentimento antipetista da cidade chamada de “pequeno paraíso italiano” não é de hoje. Nas eleições de 2014, os paduenses haviam demonstrado nas urnas a contrariedade à reeleição de Dilma Rousseff (PT). Na ocasião, o candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) obteve no segundo turno 88,14% dos votos válidos (1.650), contra 11,86% (222) de Dilma.
Para o secretário de Administração e Fazenda, Pedro Quintanilha (PRB), a votação de Bolsonaro é reflexo de uma manifestação espontânea da população, sem que tenha havido a organização de um grupo bolsonarista na cidade, como ocorre em outros municípios. Quintanilha diz ainda que há um descontentamento geral da forma de fazer política do PT.
– O Bolsonaro não é o melhor presidente, mas é a esperança de fazer melhor.
Com a expressiva votação, o prefeito Ronaldo Boniatti (PSDB) pretende convencer Bolsonaro a participar da abertura oficial da 14ª Festa de Produtos Coloniais (Feprocol), que ocorre em fevereiro de 2019.
Família Finger exercitou o clássico voto antipetista
Na tarde de quinta-feira, a reportagem procurou conhecer os eleitores de Bolsonaro e Haddad. Na cidade mais bolsonarista do país, a tarefa de encontrar um eleitor de Bolsonaro é fácil. O vendedor de produtos agrícolas Gustavo Finger, 42 anos, recebeu a equipe do Pioneiro em sua casa na área urbana da cidade. Ele conta que dois fatores influenciaram a decisão: a falta de recursos para a realização de um exame em um de seus filhos, diagnosticado com encefalite herpética, em 2016, que deixou o menino com sequelas, e as propostas apresentadas pelo deputado federal Jair Bolsonaro. Edineia, 37, esposa de Gustavo, também é eleitora do capitão do Exército.
Filiado ao PSDB, ele conta que buscou se informar pelos meios de comunicação sobre as propostas dos candidatos antes de definir seu voto e diz que descartou votar na alternativa oferecida por seu partido, Geraldo Alckmin, após as notícias de falta de merenda nas escolas estaduais de São Paulo e pelas denúncias de corrupção contra integrantes do partido no Estado governado por Alckmin.
Antes de decidir-se por Bolsonaro, a família cogitou votar em João Amoêdo, do Novo, mas, entre agosto e setembro, definiu a escolha por simpatizar com as propostas do candidato que seria eleito para a economia e educação.
– Me atrai a questão da economia liberal e da educação sem erotismo. Nós temos um viés católico e somos contra a separação de sulistas e nordestinos. Quando começou a campanha, fidelizamos o voto no Bolsonaro. A gente estudou muito antes de tomar a decisão.
Finger conta que procurou informações sobre os rótulos de Bolsonaro de machista e de homofóbico.
– Esses rótulos não condizem. Mas escândalo de corrupção, nenhum. Isso pesou muito para a nossa escolha. A falta de médico para o meu filho atribuo à corrupção.
Um dos 134 invisíveis
Os 134 eleitores de Fernando Haddad em Nova Pádua são praticamente invisíveis. Alguns são conhecidos por nome, sobrenome ou apelido, mas evitam falar por receio de represálias políticas e pelo clima de confronto que se instalou na eleição. Um produtor rural aceitou conversar com o Pioneiro com a condição de não ser identificado, apesar de os amigos saberem sua opção partidária.
– Aqui é uma cidade pequena e o preconceito é grande – diz no início da conversa por telefone, na noite de quinta.
Apesar do preconceito, ele ressalta que seu grupo de amigos do futebol sempre respeitou sua preferência política.
Eleitor do PT desde jovem, diz que preferiu não se filiar no partido que governou o país por 14 anos. Segundo o agricultor, o PT é o único partido político com propostas em todas as áreas.
Ele ressalta que o PT foi a sigla que mais investiu no desenvolvimento da agricultura familiar e deveria ter o reconhecimento dos moradores de Nova Pádua.
– Nos governos do PT, conseguimos comprar máquinas com juros baixos. Meu pai tem 50 anos na agricultura e não conseguiu o que conseguimos em 10, 15 anos quando o PT governou o país.
Para o agricultor, Bolsonaro é igual ao ex-presidente da República, Fernando Collor.
– Não existe quem faça milagre.
Sobre as denúncias de corrupção contra o PT, o agricultor afirma que nem tudo é verdade e destaca que Haddad é melhor do que Bolsonaro. Apesar da preferência pelo petista, ele diz a eleição de Bolsonaro pode acalmar os ânimos entre os adversários.
– O clima dessa campanha foi de ódio, muito desrespeitoso. Gostaria que o Haddad tivesse ganhado, mas o clima seria pesado.