Jair Bolsonaro e apoiadores não estão sorridentes à toa. O resultado das urnas em todo o país é melhor do que previam analistas, embora menos do que ele projetava. Na Serra, o candidato do PSL saiu vitorioso em todas as cidades. Em Caxias do Sul, por exemplo, conquistou 61,85% dos votos válidos - 158,2 mil votos (apuração até as 22h de domingo). Em Bento Gonçalves, o número foi ainda maior: 71,3% dos válidos. Antônio Prado, Canela, Flores da Cunha, Gramado, São Marcos, Vacaria e outras tantas também optaram pelo candidato do PSL.
Os números que deram o primeiro lugar a Bolsonaro são reveladores. Os 49,01 milhões de votos (apuração até as 22h de domingo) para o parlamentar representam apenas 6,9 milhões de votos a menos do que a totalidade recebida por todos os outros 12 candidatos, ou 61% a mais do que o rival do segundo turno, Fernando Haddad (PT), que obteve 30,72 milhões de votos. É o terceiro melhor resultado de um candidato a presidente no primeiro turno desde 1989, ano em que as eleições diretas voltaram a ocorrer no Brasil após o fim do regime militar. A diferença de 17% de votos a mais em relação a Haddad só perde para a eleição de Lula, que obteve 23% a mais de votos em comparação ao segundo colocado em 2002, e para Fernando Henrique Cardoso, que recebeu 21,3% a mais dos votos em relação ao segundo colocado, em 1998. Fernando Henrique garantiu um segundo mandato ainda no primeiro turno. Lula, por sua vez, só ganhou no segundo turno.
É reflexo da campanha de um candidato cuja escalada foi a mais estável e mais ascendente entre os demais, conforme apontaram as pesquisas. Sandro Fantinel, presidente do PSL em Caxias do Sul, aposta na migração de votos dos outros candidatos para garantir a eleição de Bolsonaro.
— A gente acredita que os eleitores do João Amôedo e do Álvaro Dias, que têm ideologias muito próximas a de Jair Bolsonaro, e grande parte dos eleitores de Alckmin, Meirelles e Cabo Daciolo vão vir com a gente porque eles não querem o PT. Haddad teve os números do Lula, os votos que Lula sempre teve. Não acredito que ele consiga passar dessa numeração aí — diz Fantinel.
A grande questão é que candidato é esse que vem pela frente. Se o primeiro turno mostrou um Bolsonaro polêmico e afeito a discursos conservadores e estimulador de intrigas com mulheres, negros e movimentos como o LGBT, ontem Bolsonaro parecia ter colocado o pé no freio e afirmou que acataria o resultado da eleição, fosse ele ou outro beneficiado. Se ele não compareceu aos debates com os outros candidatos no primeiro turno, ontem admitiu que pretende enfrentar o rival Haddad nos debates do segundo turno. Contudo, no pronunciamento pelo Facebook logo após a confirmação dos resultados, o candidato voltou a questionar o voto pela urna eletrônica dando a entender que ele deveria ter sido eleito ainda ontem:
— Faltam três semanas para o segundo turno, vamos junto ao TSE buscar soluções para isso que aconteceu. Tenha certeza que se tivesse confiança no voto eletrônico, já teríamos o nome do presidente da República no dia de hoje _ disse o candidato, que também pregou um país unido, mencionou o apoio parlamentar para governar o Brasil e o objetivo de reduzir o tamanho do Estado para combater a corrupção e também promessa de atacar a insegurança.