As indústrias possuem papel fundamental no desenvolvimento e crescimento da região, na ótica do Corede Serra. Para o fortalecimento dos negócios tradicionais instalados há um processo consolidado, baseado em ações promovidas pelas governanças dos arranjos produtivos locais e redes de cooperação.
Mas para a coordenadora-executiva do Corede, Mônica Mattia, é preciso romper com velhas formas de conduzir a atividade produtiva baseada em baixos custos, agregando ao negócio tecnologia e inovação em processos, produtos e marketing.
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Para fazer a economia girar na Serra, futuro governo do Estado precisa ser parceiro da inovação
Grasiela Tesser, diretora de Projetos e Inovação da Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de Caxias do Sul, afirma que o trabalho de parques tecnológicos no Rio Grande do Sul, tão difundido como alternativa de desenvolvimento, é uma ação que não sobe a Serra da maneira que se espera.
— Foi apontado a questão dos polos tecnológicos no Brasil pelo (jornal) Valor Econômico e o Rio Grande do Sul não aparece. Então, precisamos estar nesse mapa. Quando falamos de inovação, vemos propostas de forma individual, pois lá fora estão inovando e as empresas daqui percebem que precisam avançar nisso — analisa Grasiela.
Esse movimento de ir atrás das novidades encontrou eco na Soprano, um dos empreendimentos mais tradicionais de Farroupilha e com unidades na região e fora do país. Confrontada pela chegada ao mercado das chamadas fechaduras inteligentes por parte da concorrência, a fabricante precisou desenvolver um novo produto fora da unidade. Para viabilizar a inovação, a Soprano retirou o projeto da organização, destinou uma verba à parte e concebeu um produto com ajuda de uma startup no Complexo Tecnológico Unitec da Unisinos, em São Leopoldo.
— A fechadura teve que ser pensada fora da empresa por causa da cultura que já temos. Para desenvolver uma expertise que não temos — revela Júlio Bortolini, coordenador da Unidade Smart.
Se a aposta parece de risco sob o ponto de vista do modelo tradicional, o retorno é surpreendente. A chamada Smart One utiliza um sistema de abertura por meio de um smartphone, permitindo o cadastro de até 500 usuários simultâneos, agendamento de funcionamento de chaves, geração de relatórios de acesso e outros recursos. No Brasil existe uma norma de fechaduras, onde o modelo é só para o país. Antes da invenção da Soprano, as fechaduras digitais vinham de fora.
— Empresas que não se aliam com esses negócios contemporâneos vão sofrer muito nos próximos anos. Você pode ser surpreendido ter um produto no mercado que substitua o teu. Ao criarmos, a Smart One, fizemos uma fechadura única, com padrão brasileiro, não existe igual no mundo — orgulha-se o executivo da Soprano.
A médio e longo prazo, a meta é a ampliar a linha de produção.
— O governo do Estado deveria ter a incumbência, criar formas de viabilizar esses ecossistemas modernos — complementa Bortolini.
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OPINIÃO DAS LIDERANÇAS
— É preciso um Estado que transmita confiança no sistema tributário, que mostre como vai fomentar a inovação, que transmita a segurança e facilidade para abrir empresas, para que a Serra não seja apenas um celeiro formador de talentos que vão embora. Para isso, é preciso ter apoio institucional, ter métodos, estar aberto à iniciativa das inovações, de direcionamento estratégico e planejamento. O próximo governo precisa ter pessoas com mentalidade para isso, ser pautada por uma agenda de inovação.
Grasiela Scheid Tesser, diretora de Projetos e Inovação da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias
— A questão tributária é o principal entrave, no caso, a ST-ICMS (Substituição Tributária), que é a antecipação do imposto. Hoje, a indústria vende e tem que recolher todos os impostos que a cadeia gera, o que significa um custo muito alto para as vinícolas nesta operação. Pedimos a exclusão da ST, o que não é a redução de impostos e sim que cada setor pague a sua parte separadamente. Para o Estado é muito cômodo manter assim, pois é mais fácil fiscalizar apenas um setor, mas esse peso tributário nas vinícolas é um entrave. Como 90% da produção vitivinícola no país é no Estado, o governo deveria ter um interesse especial no setor. O governo também precisará manter o Fundovitis, em que uma parcela do ICMS vem em benefício do setor.
Oscar Ló, presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin)
— Percebemos, e não só por parte da micro e pequena empresa, que a infraestrutura de nossas estradas tem sido um empecilho de muitos anos e precisa ser trabalhada urgente pelo próximo governante. A região metropolitana de Caxias, com mais de um milhão de habitantes, não tem acesso com estradas duplicadas, apesar da grande produtividade. Temos um dos maiores polos de microprodutores rurais e a maior demanda é sair do interior até os grandes centros, e pelo caminho enfrentam dificuldades diárias não só pela condição das estradas como pela demora. Isso afeta também o nosso turismo. As pequenas e micro empresas também precisam de linhas de crédito para sua a realidade. O governo precisa trabalhar na criação de um programa específico para esse setor.
Jovenil Vitt Lima, presidente da Associação das Empresas de Pequeno Porte do RS (Microempa)
— O primeiro compromisso é com os trabalhadores e investir no setor produtivo, que vai gerar empregos em outras áreas como comércio, serviço, turismo. Estado, União e municípios precisam estar numa só sintonia, independentemente de partido. Caso contrário, a roda da economia não vai andar. Esse compromisso também envolve a saúde, a educação e a infraestrutura.
Claudecir Monsani, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e região
— A Serra necessita de apoio do governo estadual para que se que tenha um plano de governo, que trate do turismo enquanto economia. Que se crie possibilidade para cumprir o Programa de Regionalização e invista em pesquisa para o segmento. Que trabalhe a promoção do nosso destino turístico. Que estabeleça dotações orçamentárias para transferir às governanças regionais e crie legislação para dar condições de legalidade às governanças regionais. Que retome os projetos da Câmara de Gastronomia. Que tenhamos equipes internas de apoio. Que o Conselho de Turismo seja atuante. Que incentive o empreendedorismo para o segmento e invista em infraestrutura (rodovias, sinalização).
César Nicolini, presidente da Associação de Turismo da Serra Nordeste (Atuaserra)
— A primeira coisa é acompanhar o setor da uva e do vinho para para uma luta conjunta por um preço justo para os produtores. Além do apoio à produção, o governo precisa estar mais presente nas câmaras setoriais. A diminuição da carga tributária dos derivados da uva é uma das sugestões. É importante desburocratizar e flexibilizar as leis sanitárias e ambientais, apoiar a agroindústria e cooperativismo, lutar contra a importação de produtos lácteos e ter uma extensão rural (ensinamentos sobre a agricultura, pecuária e economia doméstica) voltada para a realidade regional.
José Luís Pietá, coordenador regional dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de 22 municípios da Serra
— O Estado tem que seguir mantendo o olhar para o turismo cultural de nossa região, através da Lei de Incentivo à Cultura. Precisamos de apoio com ações junto ao governo federal para as questões de ferrovia, de rodovias, de ciclovias e de melhorias para facilitar o acesso. O treinamento de mão de obra em larga escala, por meio de convênios com instituições. é mais do que necessário, pois temos pessoas treinadas para a indústria e não para o turismo. Precisamos de muitos cursos na área.
Tarcísio Michelon, diretor-superintendente da rede Dall'Onder e empresário reconhecido por estimular o turismo da Serra
— Investir principalmente na infraestrutura rodoviária. Temos a ligação principal do nosso polo ao resto do país por uma rodovia com parte de pista simples e vista como via secundária na saída para Farroupilha, onde há uma sinaleira que interrompe o tráfego. A ampliação da extensão BR-448 (entre Esteio e Portão), para que o acesso a Porto Alegre fique facilitado, é outra tarefa. Numa segunda frente, o governo precisa ampliar as linhas de crédito e trabalhar em cima da questão tributária, que é uma das mais altas do país para a nossa competitividade. O apoio do governo nas políticas de inovação também é necessária. Para isso, precisa trabalhar nas questão dos arranjos produtivos locais como instrumentos de desenvolvimento, manter e ampliar essa união entre os diferentes setores.
Reomar Slaviero, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs)
— Não podemos pensar em ações mirabolantes se o futuro governo não fizer primeiro o dever de casa, que é colocar o salário em dia do funcionalismo, tratar a saúde e a educação. Por outro lado, o governo pode ser parceiro no sentido de trazer mais empresas para a nossa região, que vão gerar empregos, como a Havan. Também falamos muito da questão tributária, mas creio que não devemos esperar grande mudança em função de o Estado estar com esse problema financeiro. Temos que pedir que não aumentem a carga tributária.
Idalice Manchini, presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Caxias do Sul e região
— Precisa investir em infraestrutura. Somos uma região de turismo e estradas boas incentivam a visitação, geram empregos nos hotéis, na gastronomia e no comércio. Também entendemos que o apoio à indústria, como políticas de governo, vai favorecer o comércio também.
Silvio Luiz Frasson, presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio de Caxias do Sul (Sindicomerciários)
— O futuro governo precisa rever o impacto do ICMS. A redução da alíquota é importante para buscar o desenvolvimento da região. Pesa muito essa diferença de um Estado para o outro. Por outro lado, o setor moveleiro também requer atenção da infraestrutura de transporte e logística, uma área que precisa de investimentos. Estamos numa retomada lenta, mas temos esperança de que o próximo governo faça o que precisa ser feito. Há uma expectativa de melhora no país a partir das eleições. Edson Pelicioli, presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves
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