A família da menina de seis anos, baleada na saída da escola no dia 29 de março em Caxias do Sul, ainda se recupera do susto de ver a única filha sendo uma das vítimas mais recentes da violência da cidade. A criança permaneceu nove dias internada no Hospital Geral e recebeu alta na última sexta-feira.
A recuperação considerada rápida pela família é o que traz conforto e esperança aos pais. Apesar de o crime ter ocorrido na saída da aula, eles devem manter a menina na Escola Municipal Luciano Corsetti, no bairro Kayser. Ela deve voltar a frequentar o colégio na semana que vem e diz a todo momento que sente muita saudade dos coleguinhas.
— A escola é muito boa e não tem nada a ver com o que aconteceu. Estamos recebendo muito apoio dos professores. Inclusive, a profe dela mandava todo dia vídeos e fotos dos amiguinhos torcendo por ela — conta a mãe que trabalha como metalúrgica no bairro Industrial.
Falante e muito receptiva, a garota, que mora com os pais no bairro Esplanada, lembra com detalhes do momento em que foi atingida pelo disparo.
— Eu fui dar um abraço na tia da van e senti uma "batida" na minha barriga. Cai no chão, de lado, mas não conseguia me virar porque doía muito quando eu respirava — lembra a menina.
Leia mais
Polícia tem suspeito para ataque junto a escola em Caxias do Sul
Escola de Caxias deve ter segurança reforçada após ataque de atirador na saída de alunos
"Ele foi correndo e atirando contra as crianças", diz morador sobre ataque junto a escola em Caxias
Criança baleada em saída de escola de Caxias do Sul está na UTI
Duas crianças e um homem são baleados na saída de escola no bairro Kayser, em Caxias
Menina baleada na frente de escola recebe alta do hospital em Caxias do Sul
O tiro atingiu o rim direito da estudante e o projétil permanece alojado no corpo dela. O local ferido ainda está em processo de cicatrização, uma vez que teve que comportar um dreno durante o período no hospital.
Confira a entrevista completa abaixo:
Quando vocês souberam que ela havia sido atingida pelo tiro?
Como a gente trabalha de dia, ela vai de manhã para a escolinha e, depois, vai de van para a escola, à tarde. A mesma van traz ela no fim do dia para casa. A gente estava tranquilo aquele dia, como qualquer outro, quando, por volta das cinco e meia, a vice-diretora ligou para cá e falou o que tinha acontecido. Achamos que ela tinha sido atingida pelos estilhaços. Ficamos muito assustados, mas não achamos que era tão grave.
Como foi o período de internação no hospital?
Ela passou por uma cirurgia ainda na quinta-feira (29 de março). Os médicos fizeram uma limpeza e tentaram localizar a bala. Ela ficou bem ruinzinha na UTI, mas no sábado de manhã (dia 31 de março) ela já acordou muito melhor. Ficamos com medo porque, como atingiu um dos rins, ele não tava funcionando direito. Mas não deu nem 15 dias de internação. Foi uma recuperação milagrosa.
De que forma vocês se mantiveram esperançosos?
Somos evangélicos e nos reunimos numa corrente de oração. Caxias inteira abraçou a causa. Muitas pessoas que a gente nem conhece orou por ela. A vida dela é um milagre.
E como será lidar com a sensação de insegurança que ficou?
Querendo ou não, a gente tem medo. A questão da violência é algo que está se multiplicando. Há dois ou três anos, Caxias não era assim. O que deixa qualquer pessoa com medo é o que está acontecendo com as nossas crianças (referindo-se à morte violenta da menina Naiara de sete anos, em março).
Como ela está agora?
Ontem (segunda-feira) a gente esteve lá (no hospital) para ver se ela vai precisar retirar o projétil. Os médicos acham que está perto de algum músculo, mas vamos falar amanhã com o cirurgião para saber se terá uma nova cirurgia.
E ela ainda está muito assustada?
A princípio, ela está tranquila, mas não nos perde de vista. Ainda estamos dormindo com ela até passar o susto. Ela não quer ficar sozinha de jeito nenhum. Estamos recebendo apoio da escola e da Smed (Secretaria Municipal da Educação) com psicólogos que vão falar com ela quando voltar para a aula. Mas vai dar tudo certo a partir de agora. Foi uma fatalidade que aconteceu no momento. Agora é bola pra frente.
Sobre o inquérito:
Os primos Daniel Grade da Silva, 23 anos, e João Vitor Soares da Silva, 18, seguem recolhidos no sistema penitenciário. Daniel está na Penitenciária Estadual, no distrito do Apanhador, e João Vitor continua no Presídio Regional de Caxias do Sul. Daniel é apontado pela Polícia Civil como o responsável pelos tiros que atingiram as duas estudantes e o homem na frente da Escola Luciano Corsetti. João Vitor, por sua vez, era quem pilotava a moto usada na fuga. A dupla foi detida na semana passada e deve ser indiciada por tripla tentativa de homicídio. Conforme a delegada Suely Rech, o inquérito deve ser concluído assim que todas as testemunhas forem ouvidas e houver o recebimento das perícias. A motivação do crime teria sido a venda de uma motocicleta em 2016, o que gerou uma desavença entre Daniel e o homem baleado na frente da escola.