O Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio, de Farroupilha, apresenta dois novos motivos para visitação. As sacristias do antigo Santuário foram repaginadas e batizadas como Livrai-nos do Mal e Santo Sepulcro. Os ambientes de reflexão, oração e aprendizado fica, cada um, em um dos lados do altar principal. Um dos espaços, o Livra-nos do Mal, teria sido cenário do folclórico ritual de exorcismo de uma moradora de Farroupilha na década de 1940. Além dos relatos de testemunhas da época, registrados em livro, as grades retorcidas da janela da sacristia alimentam a imaginação dos devotos -é por ali que o demônio teria deixado o Santuário. O visitante pode, por meio de objetos e descrições, desmistificar o ritual e entender mais sobre o exorcismo - permitido pela igreja, mas que só pode acontecer com regras bastante rígidas.
— Sempre há a especulação dos detalhes. Todo dia vem gente aqui perguntar, ou é a escola que quer fazer um vídeo, as pessoas que à noite ficam perto da janela explicando pro outro. Há uma lenda. Mas entendo que a religião não é vivida à base do medo. Se vive à base da confiança e da esperança. Então, não queremos que elas se assustem com isso, mas que vivam a fé a partir desta confiança — explica o reitor do Santuário e idealizador do projeto, padre Gilnei Fronza.
O espaço Livra-nos do Mal, portanto, quer mostrar que o bem impera diante do mal. Há dezenas de crucifixos doados por devotos pendurados em uma grade. Um confessionário antigo também está exposto, lembrando da importância da confissão para manter-se "livre do pecado", no entendimento da igreja católica. Objetos usados durante o ritual, como uma estola de padre, água benta e a cruz estão envidraçados; bem como um um aspersório, objeto onde se coloca água benta usada para abençoar o povo. Outros itens chamam a atenção: dois livros de Ritual de Exorcismos. Além da versão moderna, há um exemplar escrito em latim, datado de 1827.
— O exorcismo não pode se transformar em um espetáculo. É preciso respeito com a dor e sofrimento do outro. A solidariedade impede que isto se torne um espetáculo — lembra padre Gilnei.
— Quando rezamos e pedimos a Deus que nos livre do mal, a gente lembra que o bem vence sempre o mal. Com esta sala, queremos dar um senso positivo à força de Deus, e mostrar que o mal não é mais forte que Ele. Batizamos como filho de Deus, somos muito amados — lembra o bispo dom Alessandro Ruffinoni.
A EMOÇÃO NO SANTO SEPULCRO
* O espaço Santo Sepulcro, uma das salas que antes abrigava objetos de ex-votos e agora está repaginada, remete ao sepulcro de Jesus Cristo.
* O ambiente se assemelha a uma gruta, já que as paredes perderam seu reboco e ficaram com pedras à vista: a ideia é fazer o local parecido com o tumulo santo, em meio a uma escavação rochosa.
* O objetivo também é mostrar a originalidade da sacristia, erguida em pedras, o que remete ao trabalho dos imigrantes que se estabeleceram na comunidade de Caravaggio e são responsáveis por erguer o templo religioso.
* No centro da sala, há uma imagem de Jesus Morto ao lado da estátua de Nossa Senhora das Dores, que representa o lamento pela morte de Cristo. Há também 14 lamparinas presas a uma grande cruz que representa as estações da Via-Sacra. A ideia é que este seja mais um ambiente de oração e acolhida para os fiéis.