Prestes a ingressar no auge da temporada do turismo de inverno, Bento Gonçalves enfrenta uma onda de violência poucas vezes vista. Com três mortes em apenas 14 horas, a cidade já responde por quase um terço dos assassinatos de toda a Serra neste ano.
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Em menos de três meses, Bento Gonçalves já teve mais da metade de assassinatos do ano passado
Mãe e filho são mortos em Bento Gonçalves
Em termos de crimes contra a vida, o município só fica atrás de Caxias do Sul no ranking da violência, ainda assim por uma diferença pequena: com 115 mil habitantes, neste ano Bento tem 19 mortes, sete casos a menos do que Caxias, com 483 mil moradores e 27 assassinatos até a última quarta-feira (28). Considerada a proporção de habitantes, Bento é mais violenta do que Caxias.
É muito para os padrões de uma cidade. Os 19 casos em menos de três meses equivalem à média homicídios que ocorria há dois ou três anos atrás, que oscilavam entre 15 e 20 casos por ano.
De acordo com o secretário de Segurança de Bento Gonçalves, tenente-coronel José Paulo Marinho, a situação é preocupante. Ele encaminhou à Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) um apoio para a vinda de uma turma de PMs em formação. A ideia é fazer com um grupo em treinamento permaneça como efetivo na cidade, porque faltam policiais para compor o quadro.
— Nunca na história do município havíamos nos aproximado de 30 homicídios em um ano. No ano passado, foram 34. Neste ano, estamos atingindo mais da metade desse número em três meses — alerta o secretário.
As duas mortes mais recentes também causam espantam pela circunstâncias. Se no dia 15 de março, um triplo homicídio já havia chamado a atenção da população, ontem foi a vez da execução de mãe e filho em plena rua. Por volta das 9h de ontem, Ida Paula dos Santos, 65 anos, e Carlos Alberto dos Santos, 42, foram emboscados na Rua Pastor João Rodrigues de Jesus, no bairro Zatt, em Bento Gonçalves. De acordo com o delegado plantonista Arthur Reguse, eles saíam de casa em um veículo Siena vermelho quando foram alvejados por diversos disparos de pistola. O filho levaria a mãe para uma consulta médica. Carlos Alberto tinha antecedentes e já havia cumprido pena por tráfico de drogas. A polícia acredita que o alvo dos disparos fosse ele, que foi atingido em diversas partes do corpo, principalmente na cabeça e no tórax. A mãe dele, por sua vez, acabou sendo baleada por estar junto no veículo. Os dois morreram antes de receber socorro médico.
O veículo utilizado para cometer o crime foi um HB20 branco roubado em Alvorada e com placas clonadas de Porto Alegre. Os assassinos abandonaram o carro a duas quadras do local do crime. A autoria das execuções e a motivação inda estão sendo investigadas pela Polícia Civil. Por volta das 19h30min de terça-feira, Andrei Ostrowski Trindade, 22, já havia sido a tiros no bairro Eucaliptos, no lado oposto da cidade.
Dois bairros concentram 10 mortes
Dos 19 assassinatos registrados em 2018 em Bento Gonçalves, seis ocorreram no bairro Zatt e quatro no Municipal, o que reforça a vulnerabilidade desses locais.
Para o secretário Marinho, o aumento dos homicídios se deve a uma crescente disputa de pontos de tráfico de drogas que, além do Zatt e do Municipal, se concentra no Eucaliptos, Ouro Verde e Tancredo Neves, comunidades que também enfrentam problemas sociais.
A delegada do 1º Distrito Policial de Bento Gonçalves, Maria Isabel Zerman Machado reafirma que o crescimento dos índices de homicídio tem relação direta com o tráfico e que há uma dificuldade na elucidação dos casos também em função de falta de provas, pois as testemunhas residem perto dos locais dos crimes e têm receio de colaborar. Das mortes deste ano, apenas três casos foram solucionados.
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