A central do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que atende Caxias do Sul e Vacaria recebeu, entre os dias 1º de janeiro e 28 de dezembro de 2017, 110.914 ligações. Destas, 29,25% (32.445) viraram atendimentos. Os demais – 70,75% das chamadas para o 193 – dividiram-se entre trotes, pessoas que ligam para pedir informações, que discam por engano ou têm outras demandas, ligações interrompidas, chamadas repetidas (quando mais de uma pessoa liga para o mesmo fato) e fora da abrangência. Ainda tem duas outras classificações: quando o sistema atende a ligação, mas a pessoa fica na fila e acaba desligando e quando a pessoa desliga antes de ser atendido pelo sistema.
Juntos, a BM, os Bombeiros e o Samu contabilizaram 224.193 ligações indevidas até a manhã do dia 28 de dezembro 2017, considerando trotes, enganos e pedidos de informações alheios ao serviço. O número representa 76,7% do total de 292.274 ligações. De forma geral, são crianças ou adolescentes em horários de entrada ou saída da escola discando de telefones públicos.
O diretor-geral do Samu em Caxias, Thyago Coser, diz que os auxiliares de regulação (as pessoas que atendem aos chamados) são experientes e conseguem detectar quando se trata de trote. O problema é que pode ocorrer de uma pessoa realmente estar precisando do serviço e não conseguir completar a chamada porque a linha está ocupada por uma ligação indevida. Já aconteceu de a ambulância ir atender a chamados que não existiam.
Conforme a equipe, existem pessoas que ligam para testar se o cartão do celular está funcionando, para desabafar e para pedir número de outros serviços.
Alguns simulam ocorrências que podem originar deslocamentos desnecessários de ambulâncias e equipes. Mas, a maioria é para perturbar mesmo. São pessoas que ficam mudas ou dando risadas enquanto o auxiliar poderia estar atendendo outra pessoa.
Vale lembrar que todas as chamadas – sem exceção – feitas ao 193 são identificadas. Em casos de repetidas ligações de um mesmo telefone, o número vai para uma espécie de lista que o identificará, nas próximas chamadas, como possível trote. Em casos extremos, é feito boletim de ocorrência na Polícia Civil.
– Não quer dizer que esse número não vá precisar de um atendimento, mas sinaliza (o sistema) que esse número já ligou no passado e era um trote. Abre um alerta para identificar a ligação – explica Coser.
Uma das formas encontradas para conscientizar a gurizada _ o público que mais passa trotes _ são as visitas feitas pela equipe do Samu e o mascote Samuzinho às escolas.
Projeto de Lei quer penalizar quem passa trote ao Samu
Outra medida que deve ajudar, e muito, a reprimir essa prática negativa é um projeto de lei da vereadora Paula Ioris (PSDB). A proposta prevê multa de 20 valores de referência municipal (cada VRM equivale a R$ 31,33) para os titulares de linhas telefônicas que forem utilizadas para trotes ao Samu. Na reincidência a multa será aplicada em dobro.
O projeto determina, ainda, que o montante arrecadado será destinado "ao aprimoramento, ampliação e modernização tecnológica das unidades operacionais" do serviço, "na compra de equipamentos e para campanhas de conscientização." Em caso de não pagamento, o valor poderá ser cobrado via judicial. Os números serão repassados às empresas de telefonia que terão o prazo de 30 dias para fornecer as informações. As ligações originadas de telefones públicos também serão identificadas.