O último final de semana de 2017 foi trágico na Serra: dos cinco casos de afogamentos registrados no Rio Grande do Sul, três aconteceram na região, nas cidades de São Francisco de Paula, Nova Roma do Sul e em um rio na divisa entre Caxias do Sul e São Marcos. Essas ocorrências elevaram para 21 o número de vítimas em todo o ano passado. Em comum, todas as vítimas se banhavam em rios e lugares considerados impróprios, todos sem a presença de salva-vidas.
Nos últimos 16 anos, conforme dados do 5º Comando Regional de Bombeiros (5º CRB), com sede em Caxias do Sul, 199 pessoas se afogaram durante o banho ou a pesca em rios e açudes da região. Desde o começo de 2017, 21 pessoas morreram afogadas na Serra, sendo que 15 casos foram registrados entre janeiro e março. Isso porque é justamente com a chegada dos dias mais quentes que aumenta o número de vítimas por afogamento, situação que está entre as maiores causas de mortes no Brasil. Para garantir uma temporada sem imprevistos, a precaução vai desde o planejamento do passeio até o tipo de alimento que é consumido naquele dia. A prevenção, aliás, é responsável por evitar 99% das mortes na água.
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— A maioria das pessoas, infelizmente, esquece completamente de qualquer dica de segurança quando está diante do rio, da piscina, do mar ou de um açude. Ingerem bebidas alcoólicas, comem alimentos pesados e pulam na água. Em praticamente todos os casos que atendemos, faltou medo e sobrou imprudência. Eles (os banhistas) esquecem de planejar o passeio, de pensar que algo pode dar errado e é aí que as tragédias se desenham — lamenta o comandante do 5º CRB, major Ederson de Albuquerque Cunha.
Rios, açudes e represas estão entre os locais que concentram mais mortes desde 2001. Outros dados levantados pelos bombeiros e analisados pelo major apontam que a maioria das mortes aconteceu aos finais de semana, principalmente nos domingos entre o meio-dia e as 18h. Homens foram as principais vítimas. Há vários registros também de jovens com idades entre 14 e 21 anos.
A falta de planejamento e de levar junto qualquer objeto que possa ajudar no caso de um afogamento é considerada pelo major como a principal causa de tantas mortes no verão. Outro ponto, conforme ele, é a falta de noção de como se ajudar uma pessoa que está se afogando.
— Sabemos que é impossível dizer para um pai não se jogar na água para resgatar o filho que se afoga. Mas, as pessoas precisam ter consigo algo que possa facilitar esse resgate. Uma simples corda, uma garrafa plástica, enfim, algo que flutue, pode salvar uma vida. É preciso pensar nos mínimos detalhes para que a diversão não acabe numa tragédia.
Banhistas invadem locais proibidos
Na busca de um local para se refrescar, muitas pessoas ignoram placas de alerta e entram em águas desconhecidas. Em Caxias do Sul e região, onde não há locais que ofereçam condições favoráveis, os banhistas acabam se aventurando em rios, açudes e até barragens onde constam alertas de perigo. Das mortes por afogamento registradas em 2017, 10% estão relacionadas a pessoas que morreram tentando salvar outras que se afogavam. Os outros 90% são de casos de pura imprudência.
Foi o que aconteceu com quatro integrantes de uma mesma família que morreram afogados após entrarem na Barragem do Blang, em São Francisco de Paula, em 22 de janeiro passado. Logo após o almoço, Leonardo Stoll de Souza, seis anos, Bruno Stoll de Souza, 13, Santo Leonel Pinto Stoll, 22, e Marcelo Pinto Stoll, 24, divertiam-se na água quando caíram em um buraco e foram sugados. Os quatro acampavam no local com outros familiares desde a manhã do dia anterior. Na barragem, constam placas proibindo a entrada na água.
Em Caxias do Sul, lagoas, como a do bairro Desvio Rizzo, e todas as barragens possuem placas proibindo a entrada na água. Mas, frequentemente, pessoas são vistas se banhando e ignorando qualquer alerta de perigo. De acordo com o comandante do 5º CRB, major Ederson Cunha, a profundidade de rios e lagoas varia muito, o que pode causar afogamentos. Em represas, então, é expressamente proibido nadar. Segundo ele, os rios da Serra têm características em comum como, por exemplo, a presença de correnteza, poços e redemoinhos.
— São situações que variam conforme a geografia do local. A orientação é simples: não se deve entrar na água em locais proibidos. O afogamento não é uma fatalidade, é um acidente que pode ser evitado. Se a pessoa não conhece aquele rio, não deve entrar — reforça.
A atenção também vale para clubes privados onde existem piscinas ou até açudes internos. Nestes locais, as famílias precisam observar se há presença de salva-vidas, conforme determina a Lei 14.201 de 2013. Ela diz que só pode ser liberada a entrada na água se houver a presença de profissionais capazes de fazer um resgate com segurança. Neste caso, os bombeiros não têm responsabilidade, já que o local não é público.
MORTES NA REGIÃO EM 2017
:: 3 de janeiro: Andrius Nestor Monteiro da Silva, 16 anos, morreu afogado em São Francisco de Paula.
:: 22 de janeiro: Leonardo Stoll de Souza, seis, Bruno Stoll de Souza, 13, Santo Leonel Pinto Stoll, 22, e Marcelo Pinto Stoll, 24, se afogaram numa barragem em São Francisco de Paula.
:: 22 de janeiro: Rodrigo da Silva Machado, 27, e Pablo Garcia Pereira, 23, morreram no Rio Caí, em Caxias do Sul.
:: 29 de janeiro: Vagner Adão Magrin, 23, afogou-se no Rio das Antas, em São Marcos.
:: 5 de fevereiro: Rosane Sales Cristão, 31, morreu enquanto nadava em uma barragem na localidade de Linha Julieta, em Farroupilha
:: 7 de fevereiro: Gabriel Gasperin Pinto, 14, Adão Pinto Vieira, 65, Bruna da Silva Vieira, 20, Brenda da Silva Vieira, 14, morreram afogados em um açude no distrito de Vila Oliva, em Caxias do Sul.
:: 20 de fevereiro: Cristian Rodrigues Xavier, 19, nadava no Rio das Antas, em Nova Roma do Sul, quando se afogou.
:: 24 de março: Laudenir de Oliveira Gomes, 25, afogou-se numa represa de Caxias do Sul.
:: 8 de outubro: Riquelme Diehl, um, morreu afogado ao cair em uma piscina em Flores da Cunha.
:: 14 de outubro: Flávio Antonio Sartori, 53, pescava no Rio Turvo, entre André da Rocha e Muitos Capões, quando o barco virou e ele se afogou.
:: 21 de novembro: Antonio Hannauer, 45, morreu após cair em um açude em Carlos Barbosa.
:: 30 de dezembro: Josoé Boeira, 40 anos, morreu afogado quando tomava banho no Rio das Antas
:: 31 de dezembro: Matheus de Oliveira Flores, 18 anos, morreu afogado uma queda d'água na localidade de Passo do Inferno, em São Francisco de Paula. No mesmo dia, Ana Flávia Popsin, 36 anos, afogou-se quando se banhava no Rio São Marcos, na divisa entre São Marcos e Caxias.
:: Principais causas de afogamentos: banho, pesca e suicídio
:: Municípios com mais incidentes: Caxias do Sul, Vacaria e Bento Gonçalves.
:: Locais de incidência: rios, açudes e represas.
:: Meses com mais casos: janeiro, novembro, dezembro e fevereiro
:: Dias com mais ocorrências: domingo, sábado e sexta-feira
:: Horários: 12h às 18h, 18h às 0h e 6h às 12h.
:: Faixa etária da maioria das vítimas: mais de 21 anos, de 14 aos 21 anos e de zero aos 14 anos.
DICAS PARA EVITAR TRAGÉDIAS
:: Banhe-se sempre próximo ao posto de salvamento (guarita) com salva-vidas;
:: Pergunte ao salva-vidas o melhor lugar para o banho;
:: Não superestime sua natação - 46,6% dos afogados acham que abem nadar;
:: Tome conhecimento e obedeça as sinalizações de perigo;
:: Tenha sempre atenção com as crianças;
:: Evite álcool e alimentos pesados, antes de entrar no mar;
:: Mais de 85% dos afogamentos ocorrem em buracos e valas;
:: Seja prudente ao tentar salvar alguém, pois muitas pessoas morrem desta forma. Sempre que possível chame um salva-vidas;
:: Antes de mergulhar em águas, verifique a profundidade;
:: Afaste-se de animais marinhos como água-viva e caravelas;
:: Evite o banho próximo às plataformas de pesca, desembocaduras (foz) de rios e costeiras, pois nestes locais existem correntes de retorno (repuxo) permanentes.
:: Assim que avistar uma pessoa se afogando, ligue imediatamente para o Corpo de Bombeiros (telefone 193)
:: Em rios: observe a correnteza, os buracos e os galhos submersos.
:: Em açudes e barragens: verifique a profundidade, os galhos e lodo no fundo.
:: Em cascatas: veja profundidade, pedras e água.
:: Evite brincadeiras como simulações de afogamento ou forçar a cabeça de um amigo para dentro da água.
:: Siga as placas de orientação sobre perigo.
:: Evite banhos em períodos de enchente ou em zonas de correnteza.
:: Antes de banhar-se, informe-se sobre a correnteza e a profundidade.
:: Mantenha-se distante de rochas.
Em piscinas
:: Quando a piscina estiver fora de uso, faça um cercamento de proteção com altura mínima de 1.50 m e, no máximo, 12 cm entre as barras verticais. O cercamento reduz os afogamentos de 50 a 70%. Evite a colocação de brinquedos próximo a piscina. Isto atrai as crianças. Mais de 40% dos proprietários de piscinas não sabem realizar os primeiros socorros.
:: Crianças devem sempre estar sob a supervisão de um adulto. Cerca de 89% das crianças não têm supervisão durante o banho de piscina. Quase 90% dos afogamentos em piscinas ocorrem por distração do adulto (hora do almoço ou após). Leve sempre as crianças consigo caso necessite afastar-se da piscina.
:: Boia de braço não é sinal de segurança. Apenas 2,5 cm de água são suficientes para afogar uma criança. Boa parte dos afogamentos acontecem em razão de 10 segundos de desatenção (tempo, por exemplo, de pegar uma toalha).
No mar
:: Tome banho em pontos assistidos por salva-vidas.
:: Colabore com o trabalho dos salva-vidas: respeite as bandeiras de sinalização.
:: Reconheça suas habilidades e seus limites.
:: Não ultrapasse profundidades superiores à cintura.
:: Evite pontos com correntes, obstáculos e em desembocaduras de rios.
:: Evite mergulhar perto de costões.
:: Cuidado com as superfícies escorregadias e cortantes dos costões.
:: Nunca perca crianças de vista e indique a elas onde devem tomar banho.