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Você já deve ter ouvido falar que os seus avós viveram ou viverão mais do que você. Essa teoria, ou simplesmente sensação, provavelmente é resultado da vida cada vez mais apressada que temos hoje: com múltiplas funções e sem planejamento, sobra pouco tempo para praticar exercícios, se alimentar corretamente ou dar atenção à saúde mental. O resultado dessa equação é uma rotina de cansaço, que reflete na qualidade de vida e, consequentemente, no tempo em que viveremos. Mas embora alguns estudiosos acreditem que a geração nascida no início do século 20 é exceção e que as pessoas hoje com menos de 50 anos não vão chegar aos 100, muitos garantem que a expectativa de vida está crescendo.
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Estatísticas nos ajudam a acreditar que será cada vez mais comum conhecermos pessoas com idade de três dígitos (ou perto disso). Projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicou, em 2010, que a população idosa vai mais do que triplicar até 2050 no Brasil. Há sete anos, o Brasil tinha 19,6 milhões de pessoas acima dos 60 (10%); em 2050 esse número deve saltar para 66,5 milhões (29,3%). Dados do último Censo indicam que Caxias do Sul segue a tendência do aumento da expectativa de vida. Embora o montante de pessoas com 100 anos ou mais tenha caído de 2000 para 2010 (anos das últimas contagens oficiais), passando de 61 para 24, o número de idosos entre 95 e 99 anos quintuplicou, pulando de 24 para 128. Um aumento bem significativo também foi contabilizado nas faixas etárias entre 85 e 89 anos e 90 a 94. O avanço da medicina com o passar dos anos, a oferta de alimentos e as condições sanitárias são fatores que ajudam a prolongar a vida, segundo o geriatra e psiquiatra Roberto Bigarella.
— O aumento da expectativa de vida é um fenômeno mundial. No século passado (século 19), a média nos países desenvolvidos era 34 anos, hoje passa dos 80. Estamos vivendo mais, o que é bom, mas essa situação também deve servir de alerta. Tanto a medicina, como as políticas públicas, devem avançar muito ainda nos cuidados dessa faixa etária. Ainda não sabemos como cuidar dos idosos mais idosos, como chamamos aqueles a partir dos 90 — acredita.
Hoje, não se sabe oficialmente o número de idosos com mais 100 anos que há em Caxias, mas alguns, em função da idade e do do carisma, são figuras conhecidas nas comunidades em que vivem. Nesta reportagem, contamos a história de mulheres que esbanjam simpatia e força de vontade.
Os felizes 103 anos de dona Percila
Impossível não se cativar pelos cabelinhos brancos e o sorriso fácil de Percila Boff Fochesato. Mas é a trajetória da idosa de 103 anos, comemorados em setembro, o que mais encanta. Mesmo com a memória um pouco fragilizada, a caxiense lembra de detalhes de algumas fases da vida, como a criação dos cinco filhos e o tempo em que precisou cuidar do marido, Caetano, morto há 40 anos.
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Percila mora há mais de 70 anos no bairro São Pelegrino, sempre próxima de familiares. Os filhos se revezam na rotina de cuidados com a mãe e não se espantam com a sua idade, já que as tias, irmãs de Percila, também passaram dos 80 anos. A senhora passa os dias em casa e já não se locomove como uma vez. Precisa da ajuda de um andador e é preciso falar um pouco mais alto se quiser a sua atenção.
Questionada sobre qual o segredo para passar dos 100 anos, Percila apenas sorri. Um pouco tímida, garante que não sabe a fórmula, mas diz que se sente feliz por estar ser uma centenária.
Jorgina leva a vida dançando
São os personagens da turma do Chaves que fazem Jorgina Maria da Conceição gargalhar sem parar. Mas também é só escutar uma musiquinha, seja de qual ritmo for, para a senhora de 100 anos abrir um sorriso e começar a mexer os frágeis braços. É essa alegria de viver, acreditam os familiares, o segredo de Jorgina para ser uma centenária bem disposta. Natural de São Joaquim (SC), ela vive em Caxias com uma das filhas desde 2014. Passa os dias assistindo televisão e rezando na residência que fica no Loteamento São Gabriel, região do Desvio Rizzo. Mas o que ela gosta mesmo é de se distrair estourando plástico-bolha.
— Para ela, não tem tempo ruim. Ela precisa da gente para algumas coisas, mas é muito independente. A alegria dela contagia, parece que ela não sofre com o que não precisa — diz a neta Rita.
Jorgina não sabe o segredo para viver tanto, e tão bem, mas a genética pode ter influência: a mãe, Inês, morreu aos 104 anos. Assim como a vó Doce, Jorgina está com a saúde em dia e só toma um remédio diário para controlar a pressão. Vai ao médico só quando é preciso, dorme toda a noite e não dispensa uma refeição com polenta e carne de porco. A família diz que cuida da alimentação da centenária e incentiva hábitos como a leitura. Todos os dias, Jorgina pega o livrinho Minutos de Sabedoria e lê para quem estiver próximo. Um pouco debilitada para caminhar, ela lamenta por não poder ir mais até o Santuário de Caravaggio a pé.