Um dos crimes mais tristes da história de Caxias do Sul completa dois anos neste domingo. Na tarde de 16 de julho de 2015, a estudante Ana Clara Benin Adami, 11 anos, foi assassinada com um tiro nas costas quando ia para a catequese no bairro Pio X. Até hoje sob investigação, a morte causou comoção na época, levantando questionamentos sobre a segurança no bairro e na cidade como um todo. Nos dias posteriores ao crime, o caso parecia ser um ponto de partida para mobilização da sociedade contra a violência, como tantos outros ao longo das últimas décadas. O engajamento, porém, foi momentâneo.
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Por outro lado, o contexto de insegurança na cidade só piorou e a indignação diante de crimes como o de Ana Clara só pode ser percebida em comentários nas redes sociais, o que é muito pouco. Os números de roubo a pedestre, delito do qual Ana Clara teria sido vítima, aumentaram, as facções se fortaleceram, as cracolândias se proliferam e o efetivo policial nas ruas reduziu. São elementos que compõe uma realidade em que 15 adolescentes foram assassinados em Caxias desde janeiro de 2016.
Outro problema que persiste é a circulação de usuários de drogas pelo bairro Pio X, e muitos deles vivem cracolândias no vizinho Euzébio Beltrão de Queiróz. São para esses lugares, onde só a polícia entra, que assaltantes costumam buscar refúgio após cometer crimes na área central, caso do Pio X.
Para o pároco Izidoro Bigolin, a imagem de Ana Clara e sua família permanecem vivos na comunidade do Pio X. Ele lembra da comoção na época e da forte reação para clamar por segurança, mas lamenta que pouca coisa aconteceu.
– Teoricamente não mudou nada. Mas há mais cuidado de todos (do bairro). Felizmente, não aconteceu mais nenhuma morte (no Pio X). Há uma preocupação grande dentro das famílias e nas instituições, como igrejas e escolas.
Lembrança
Uma missa em homenagem a memória de Ana Clara Adami ocorrerá às 11h deste domingo na Igreja Pio X.
Investigação prossegue
A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) possui duas linhas de investigação sobre a morte de Ana Clara que apontam para o mesmo suspeito: Gedson Pires Braga, o Cavernoso, 24 anos. Uma das dificuldades da apuração é que, um mês depois do crime, o suposto autor foi executado a tiros em uma disputa envolvendo grupos de traficantes no Euzébio Beltrão de Queiróz. O assassinato impossibilitou qualquer reconhecimento pessoal, por exemplo.
Responsável pela investigação, o delegado Joigler Paduano prefere não comentar o caso para preservar a investigação. O titular da DPCA reitera que, desde o início, todas as possibilidades são apuradas.
– Continuamos no aguardo de algumas diligências serem realizadas. Assim que (os resultados) aportarem na delegacia, o inquérito será concluído e remetido ao Ministério Público – se limita a comentar.
AS DUAS LINHAS DE INVESTIGAÇÃO