Um dos requisitos para trabalhar como motorista ou cobrador de ônibus em Caxias do Sul é saber lidar com assaltantes. Parece brincadeira, mas é uma realidade entre os funcionários da Visate. Com 98 roubos ao transporte coletivo registrados até a quinta-feira passada, o primeiro quadrimestre de 2017 é o pior dos últimos 19 anos. Um dos operadores do turno da noite da linha Santa Fé, por exemplo, foi assaltado quatro vezes em dois anos de trabalho. Três crimes ocorreram nos últimos meses.
Leia mais
Primeiro quadrimestre de 2017 registra o maior número de roubos a ônibus em Caxias do Sul desde 1999
"Como que não vou andar com ônibus do meu bairro?", questiona passageira em Caxias do Sul
BM e Polícia Civil prometem ações contundentes contra pico de roubos de ônibus em Caxias do Sul
– São dois assaltantes, geralmente, um que fica na porta e outro que vem no caixa. Eles não costumam ter nada, só ficam com a mão embaixo da roupa e ameaçam. No último caso (dia 20 de abril), o cara estava com uma faca. Ele me rendeu e não tirou a faca debaixo das minhas costelas até descer do ônibus. O que eles querem é o dinheiro. Só sei de uma vez que o bandido também levou o relógio de uma passageira que estava na frente – relata o funcionário que, por segurança, tem sua identidade preservada.
Apesar de serem um alvo dos criminosos, os operadores de ônibus parecem acostumados com a situação e evitam pensar no assunto.
– No começo era assustador, mas já não dou mais bola. Virou uma coisa normal. Só ficamos esperando. É ruim (seguir trabalhando após o assalto), mas levo com tranquilidade. Sei de colegas que ficam bem mal. Acho que estou acostumando e também tenho um treinamento, de quando servi o Exército, para não entrar em desespero – aponta o cobrador do Santa Fé.
A Visate afirma que a segurança dos funcionários é tratada com prioridade. A recomendação é que não seja feito qualquer movimento brusco e que o dinheiro seja entregue aos ladrões. O supervisor de segurança da empresa ressalta que os veículos circulam com pouco dinheiro, afinal a maioria dos passageira utiliza o cartão.
–O dinheiro é da empresa e não é cobrado do funcionário. Sabemos que na maioria dos assaltos não há armas, mas não há como ter certeza. A orientação é que os operadores tentem manter a calma e entreguem o dinheiro. Lembramos que é muito raro ocorrer uma agressão. Infelizmente, não há muito mais para aconselhar – comenta Renato Cordeiro.
Assaltada na manhã de 6 de abril, a cobradora da linha Reolon/Mariani conta que a preocupação é maior com os familiares. Para ela, todas as profissões têm seu risco.
– Um metalúrgico pode sofrer um acidente. Não é que me sinto segura, mas corremos o risco de ser assaltado em qualquer momento. Só de andar nas ruas estamos a perigo. Crimes acontecem em todo lugar e a qualquer horário. Na nossa comunidade (a operadora também mora na Zona Norte), a quantidade é maior por ser uma região pobre. Mas, para mim, é tranquilo – opina.