– Sou da primeira turma de mulheres da Brigada Militar, tive que abrir muito caminho para chegar aqui.
Essa foi a resposta de Cristine Rasbold, tenente-coronel que assumiu a cadeira de comandante no 36° Batalhão de Polícia Militar (36° BPM), em Farroupilha, nesta semana, ao ser questionada sobre ser a primeira mulher a liderar um quartel na Serra. Mesmo que a diferenciação entre gêneros ainda passe pela cabeça de alguns, para a curitibana criada em Porto Alegre esse é assunto superado. Aos 53 anos, sendo 31 dedicados à BM, ela diz que precisou, em muitos momentos, provar que merecia vestir a farda de brigadiana. A valentia e o desejo de se superar, acredita, são cultivados desde a infância, época em que sonhava entrar para as Forças Armadas.
– Meu pai é advogado e sempre quis que um dos meus irmãos fosse militar, mas nenhum quis, um é jornalista e o outro advogado. Aí fui lá e peguei o posto para mim – brinca.
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Desde 2012 como tenente-coronel, o segundo posto mais alto da Brigada, Cristine chega na Serra com a intenção de integrar os órgãos de segurança de Farroupilha e ainda aprimorar as ações de policiamento nas demais cidades de abrangência do 36° BPM, Nova Roma do Sul, Nova Pádua, Flores da Cunha, São Marcos, Antônio Prado e Ipê. Tendo que lidar com a deficiência no efetivo da região, atuará na liderança ao lado do major Luís Fernando Becker, que liderou o batalhão farroupilhense até o ano passado e agora será subcomandante. A vinda de Cristine foi em função da titularidade de tenente-coronel, obrigatória para o cargo de comando.
– Na BM, vamos recebendo missões de tempos em tempos. Agora a minha é aqui em Farroupilha. Ser comandante é uma honra e sempre um desafio. Em Porto Alegre, chefiei o 1°BPM, fui chefe do Estado Maior e respondia pelo comando da Capital nas férias do comandante (tenente-coronel Mário Yukio Ikeda). Então, agora é só deixar o trabalho fluir e, para isso, preciso conhecer mais a cidade e saber dos problemas da população. Mesmo em Porto Alegre, acompanhava os problemas da Serra, sei dos emblemáticos assaltos a banco – adianta a coronel, também formada em Direito.
Cristine está morando em Farroupilha desde o início da semana, onde ficará de segunda a sexta. Nos finais de semana, naqueles em que não será preciso dedicação exclusiva da comandante no posto, volta para Porto Alegre e para a companhia do marido e do filho de 19 anos:
– A preocupação com a minha família foi a primeira coisa que veio na minha cabeça quando soube que viria para a Serra. Tentei organizar uma logística e espero que dê tudo certo. Sempre estarei aqui em momentos-chaves, como a procissão de Caravaggio, famosa aqui, né? E, quando não estiver, temos a tecnologia. Dificilmente desgrudo do celular.
Cristine se considera uma pessoa discreta - o hábito de sempre prender o cabelo rente ao pescoço e a preferência pelo batom cor de boca podem reforçar a característica - e avisa que não assumiu o comando do 36° BPM com data para ir embora.
– Farroupilha será uma experiência ímpar nesse final de carreira (ela já serviu por 31 anos e o tempo máximo de serviço na BM é 35 anos). Não tenho período certo para ficar aqui, dependendo da visão estratégica do comando. Mas o tempo em que ficar, quero que o efetivo trabalhe de maneira harmonizada e que, quando eu sair, as pessoas pensem que fiz coisas boas para a região – espera.