Aguardada há mais de um ano, a abertura da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Zona Norte é vista pelo novo governo – ao lado da melhora no atendimento a pacientes das unidades básicas de saúde (UBS) e da revisão da distribuição do quadro médico – como alternativa para a desafogar o Pronto-Atendimento 24 Horas (postão). Em reportagem na edição de segunda-feira, o Pioneiro mostrou que os profissionais do postão estão sobrecarregados e que grande parte das consultas não é de emergência/urgência, ou seja, poderiam ser atendidas nas UBSs, situação que é de conhecimento da administração atual.
Como já havia sido afirmado pelo prefeito eleito, Daniel Guerra (PRB), o corte de despesas está nos planos para que o município tenha condições de bancar a contrapartida financeira para abrir a UPA. O plano é abrir as portas da unidade no primeiro semestre de 2017. O futuro secretário da Saúde, Darcy Ribeiro Pinto Filho, não informa os valores necessários, mas a gestão atual estima que, para funcionar 24 horas por dia, o novo posto necessite de cerca de R$ 20 milhões por ano, dos quais Estado e União repassariam apenas R$ 8 milhões. Um dos cortes que já deve ser sentido é no número de cargos de confiança (CCs) na Saúde: segundo Ribeiro, deverá passar dos atuais 11 para apenas três. Ele não informou qual será a economia feita com esse ajuste.
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Conforme o futuro secretário, a abertura da UPA também dependerá de pequenas obras físicas e da chegada de um equipamento de raio-x, que já está licitado. Quando à formação da equipe de profissionais, Ribeiro diz que, antes de apresentar contratações, a ideia é conhecer como está distribuído o quadro atual da saúde. Hoje, por exemplo, ele deve se reunir com a equipe do postão para conhecer as necessidades.
– Nosso entendimento preliminar é que precisamos reavaliar a distribuição dos nossos recursos humanos. Vamos inicialmente trabalhar avaliando o que temos, em todos os níveis – explica.
Enquanto pacientes reclamam da baixa oferta de consultas nos postinhos dos bairros e a atual titular da pasta de Saúde, Dilma Tessari, rebate dizendo que há casos em que sobram vagas, Ribeiro aposta em alternativas. Uma das políticas que deve ser instalada é a de uma consultoria online:
– Se o médico se deparar com algo mais complexo, ele poderá fazer uma consultoria a um serviço online disponível, possivelmente vinculado a uma instituição de ensino. E aqui em Caxias temos condições perfeitas para isso, de dar ao médico condições de resolver na hora. Não vejo falhas no sistema atual, o que estamos avaliando é uma gestão um pouco diferente – adianta.
Diferença entre cargas horárias dificulta as escalas
O quadro de médicos do postão – que hoje conta com 114 profissionais –, até pode ser avaliado como amplo, mas a secretaria da Saúde argumenta que há dificuldade em montar as escalas de plantões. O quadro inclui clínicos gerais, pediatras, psiquiatras e um infectologista.
Segundo a atual secretária da Saúde, Dilma Tessari, o problema está na carga horária: ela estima que mais da metade do quadro cumpra jornadas de 12 horas semanais, o que significa um dia de plantão. A maior dificuldade está nos finais de semana, que acabam sendo fechados com horas extras, quando o médico aceita trabalhar no sábado ou domingo. Também há contratos de profissionais com cargas de 20 e de 33 horas semanais.
– É muito difícil fazer uma escala com vários tipos de horários. Aí, tem licença maternidade, licença prolongada por problema grave de saúde... Acaba que esse número (114 médicos) nunca é bem esse – esclarece Dilma.
Na visão da secretária, a resolução do problema passa, obrigatoriamente, pela contratação de mais médicos: pelo menos mais 10 clínicos gerais e três pediatras.
Agressão no postão
O estresse envolvendo profissionais e pacientes, revelado na segunda-feira pelo Pioneiro, culminou com um caso de agressão dentro do Pronto-Atendimento 24 Horas. O incidente foi registrado na polícia na madrugada de segunda-feira pela Guarda Municipal. De acordo com a ocorrência, um guarda ouviu gritos vindos do corredor da pediatria. O médico alegou ter sido agredido pelo pai de uma paciente, que sofreu um acidente de trânsito. O pai teria afirmado que o profissional de saúde negou o atendimento.
A secretária Dilma Tessari não quis comentar o fato. A secretaria divulgou uma nota lamentando a agressão sofrida pelo profissional. O comunicado diz ainda que o caso será investigado e acrescenta que a secretaria tomará todas as medidas cabíveis para que fatos como este não se repitam e que os ambientes destinados ao atendimento médico sejam preservados.