Doar tempo, atenção e carinho ao outro é rotina na vida de pelo menos 500 pessoas em Caxias do Sul. Esse é o número de jovens e adultos ativos na Parceiros Voluntários que exercem alguma função sem remuneração em empresas e entidades da cidade. O total de cadastrados na organização não governamental, que seleciona e encaminha os interessados, é de cerca de 2 mil, mas mesmo com apenas 1/4 dos inscritos trabalhando, o presidente da Parceiros, Nelço Tesser, se diz contente:
– O trabalho deles beneficia, direta ou indiretamente, mais de 10 mil pessoas em Caxias. O número de interessados vem crescendo um pouco a cada ano, mas sempre é preciso mais. Na Europa e na América do Norte, há um grande incentivo para que as pessoas sejam voluntárias desde pequenas. No Brasil, essa tendência está chegando. Ainda não são todos que entenderam que fazer o bem é bom, além de ser muito importante para a cidade, o país – afirma Tesser.
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A cultura do voluntariado, que ganhou uma data especial e é lembrado em todo o mundo nesta segunda-feira, mostra-se cada dia mais essencial para que muitos serviços, inclusive aqueles que deveriam ser oferecidos pelo poder público, funcionem de forma eficaz. Ou simplesmente existam, como é o caso do Sábado Solidário, um dos projetos do Banco de Alimentos de Caxias. No segundo sábado de cada mês, voluntários recebem doações de alimentos em 41 supermercados da cidade. Depois, tudo é distribuído a famílias que precisam. Hoje, há mais de 100 cadastrados e dispostos a dedicar um pouco do seu final de semana para auxiliar e receber os mantimentos.
– Nesse ano, já foram recolhidas e destinadas 80 toneladas de alimentos, todos recebidas por pessoas que trabalham sem ganhar um único real e que estão lá simplesmente para ajudar o próximo. Não teríamos funcionários para isso, não seria possível pagar a todos pelo trabalho. A alegria e a força de vontade dessas pessoas é que nos ajuda a matar a fome de muitos – afirma Assis Ferreira Borges, coordenador do Banco de Alimentos.
Há mais de oito anos, Danio César Rech, 44 anos, destina parte do seu sábado para ajudar o banco. Vendedor de imóveis durante a semana, ele sempre encontra um tempinho para atuar como voluntário:
– Claro que cansa, que sempre tenho bastante coisa para fazer em casa. Mas, se a gente quer, a gente sempre consegue ajudar. É tão bom ver alguém feliz com o teu trabalho que não tem dinheiro que pague essa felicidade.
Quando todos saem ganhando
Tem quem procure o trabalho voluntário para rechear o currículo ou para cumprir carga horária, mas a maioria busca o voluntariado simplesmente para fazer o bem. Em alguns casos, a cumplicidade entre quem ajuda e é ajudado é tão grande que laços se formam sem muito esforço. É o caso da psicanalista Léa Signori, que começou a atuar no Lar da Velhice em 1989 e nunca mais se afastou. Por acreditar que o seu trabalho fazia (e faz) a diferença, ela afirma que nunca pensou em desistir da atividade no lar, que abriga cerca de 70 idosos, a maioria em vulnerabilidade social. Hoje, como presidente do Lar da Velhice, Léa demonstra afeto com os internos e guarda na ponta da língua o nome de todos.
– No início, quis transformar o espaço em um lar de verdade. Lutei para isso. Completo 28 anos de trabalho voluntário no Lar da Velhice e não me arrependo de nada – garante.
Além de Léa, pelo menos mais 15 voluntários se revezam nas atividades do lar semanalmente. Esse número é bom, segundo a presidente, mas o espaço tem serviço para, pelo menos, mais cinco ou 10 pessoas. Há necessidade de gente com conhecimento técnico na área da saúde, por exemplo, mas também de quem tem apenas habilidades em algumas áreas.
– Muitos querem ajudar, mas cuidamos para que os interessados tenham comprometimento. Se o idoso criar um vínculo e essa pessoa deixar de aparecer, essa relação será muito prejudicial. O que era para ser bom, pode se tornar péssimo – alerta Léa.
Vínculos formados
Há pouco menos de um ano, Tiago Alexandre Borges, 30, integra o time de voluntários do Espanta Dodói, serviço de recreação terapêutica que existe no Hospital Pompéia desde 1994. Atualmente, 12 pessoas doam algumas horas para praticar tarefas simples, porém fundamentais para minimizar o sofrimento dos pacientes e facilitar sua reabilitação física, mental e social. Tiago vai pelo menos três vezes por semana ao Pompéia para divertir e conversas com doentes, crianças ou adultos.
– Muitos encerraram o tratamento e vão para casa. Quando retornam ao hospital, avisam ele. Querem o Tiago lá para animá-los. O trabalho dos voluntários se soma ao da equipe médica, é uma troca do bem – diz a coordenadora do Espanta Dodói, Andréia Velasques Pacheco.
Essa é a primeira vez que Tiago faz voluntariado. Realizado, garante que, enquanto puder, vai ajudar ao próximo:
– Um dia parei e pensei que precisava fazer algo pelos outros. Quero fazer ainda mais.
Para ser voluntário
Novos voluntários devem participar da reunião de conscientização na Parceiros Voluntários. Para agendar, é preciso entrar em contato pelo (54) 3218.8084. A reunião serve para apresentar o voluntariado organizado, as entidades sociais conveniadas e quais atividades estão precisando de auxílio. As próximas reuniões ocorrem dia 8, às 10h, e no dia 15, às 14h. Uma das exigências é que o voluntário dedique ao menos três horas por semana à atividade.
O voluntariado
Segundo a Lei de nº 9.608, de 1998, é uma "atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade" que não gera vínculo empregatício "nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim".
O perfil do voluntário em Caxias
:: 70% mulheres
:: 30% homens
Públicos mais procurados e atendidos
:: 50% crianças
:: 30% idosos
:: 20% adultos (pessoas com deficiência, dependentes químicos, migrantes, moradores de rua)
Principais locais de atuação
:: Serviço de convivência e fortalecimento de vínculos
:: Centro de convivência e lares para idosos
:: Casas de acolhimento institucional
:: Instituições que trabalham com pessoas com alguma deficiência
:: Instituição que trabalha com migrantes
:: Comunidades terapêuticas
:: Instituição de que trabalha com pacientes de hospital