Uma reivindicação de pelo menos quatro anos tira o sono de moradores do bairro Cruzeiro, na zona leste de Caxias do Sul. Desde 2012, lideranças comunitárias pedem uma sinaleira para o cruzamento das ruas Bortolo Zani e Dionísio Lorandi. Vizinhos e empresários próximos à esquina já perderam as contas de quantas vezes já ouviram o barulho de veículos se envolvendo em acidentes ao passar pelo trecho.
Para constatar o problema viário, basta ficar alguns minutos observando o fluxo de veículos: para acessar a Bortolo Zani ou mesmo cruzar a via, condutores que seguem pela Dionísio Lorandi se arriscam na passagem, sem ter visão adequada. Consequentemente, cria-se outro transtorno: com a dificuldade de observar os veículos do sentido oposto, muitos motoristas acabam ficando sobre as faixas de pedestres, prejudicando quem precisa fazer a travessia a pé. A velocidade de 40km/h também é pouco repeitada no trecho.
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– É uma coisa bem visível, há uma necessidade muito grande de se colocar a sinaleira. A gente percebe que o movimento aumenta a cada dia e os acidentes também. Se em 2012 (quando foi protocolado o pedido) já era uma necessidade, imagina agora – compara o presidente da Associação dos Moradores (Amob) do Cruzeiro, Gilberto Suzin.
Para tentar solucionar a questão, lideranças da Amob criaram um abaixo-assinado e coletaram mais de mil assinaturas reivindicando a melhoria na sinalização. Segundo Suzin, o documento já foi apresentado à Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM).
– Em princípio, eles acharam que não era necessária essa sinaleira. Mas, em função de todos esses acidentes, o pessoal resolveu fazer um levantamento. Porém, a gente ainda não teve um retorno desse estudo. Vamos entrar 2017 novamente sem uma solução – aponta o presidente da Amob.
Dono de uma chapeação na esquina perigosa, Marcio Tesch, 44 anos, também reforça a necessidade sinalização adequada:
– Outro dia, teve um capotamento aqui. A gente só ouviu o estouro. Eu acho que deviam colocar a sinaleira ou pelo menos instalar um quebra-mola – avalia o empresário.
COMUNIDADE
População: 12.575 habitantes*
Região: leste
Iluminação: boa, segundo avaliação da Amob.
Educação pública: os estudantes do bairro são atendidos pelas escolas estaduais Província de Mendoza e Aquilino Zatti e pela Escola Municipal Ítalo João Balen. Há também a Escola de Educação Infantil Perci dos Santos.
Transporte: os moradores ouvidos pela reportagem não reclamaram das linhas que circulam no bairro. Para a Amob, uma das necessidades ligada ao transporte público se refere a melhoria na cobertura de alguns abrigos de ônibus.
Lazer: a Praça Avelino Manoel Avrela, localizada na Avenida Sirius, tem equipamentos de ginástica, brinquedos e quadra de futebol.
Saúde: possui uma unidade básica de saúde. Usuários ouvidos pela reportagem sugerem que o horário do postinho seja ampliado para diminuir as filas. Atualmente, a UBS atende das 7h30min às 16h30min.
*Conforme levantamento do IBGE em 2010.
CONTRAPONTO
Segundo Rogério Garcia, diretor de Sinalização Viária da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade, a pasta está ciente da necessidade de colocação de uma sinaleira no cruzamento da Bortolo Zani com a Dionísio Lorandi. No entanto, ele afirma que não há equipamento disponível viabilizar a instalação.
– Este cruzamento, possivelmente, esteja nos próximos pacotes do programa de semaforização nos bairros. Acho positiva a instalação para a comunidade, mas, até o fim do ano, acredito que não seja colocada porque realmente não temos o material – justifica Garcia.
Quem não conhece o Tio Iba?
Quando a família de Ibanês Antônio Avrela, 68 anos, o Tio Iba, saiu de Bom Jesus para viver no bairro Cruzeiro, em Caxias do Sul, no início dos anos 1950, não imaginava que seria uma das precursoras do bairro. O pai dele, Avelino Manoel Avrela, inclusive foi um dos moradores que fez a venda dos terrenos da localidade. Hoje, Avelino (falecido há cerca de 50 anos) nomeia a praça do bairro e cinco dos seus filhos ainda moram na localidade. Tio Iba, por sua vez, comandou por mais de 40 anos um bar que leva seu nome e que hoje é gerenciado pela filha e pelo genro.
– Quando nós viemos para cá, eu tinha uns quatro anos, não tinha muita coisa. Era praticamente tudo mato, tinha muitos eucaliptos e parreiras. Na verdade, dava para contar as casas – lembra ele.
O chão batido e a pouca oferta de energia elétrica de mais de 60 anos atrás em nada lembra o bairro desenvolvido que o Cruzeiro se tornou, aponta o morador.
– Logo que chegam, os moradores mais novos dizem que o Cruzeiro é um dos melhores bairros de Caxias. E eu concordo, porque hoje é praticamente uma cidade. Modéstia à parte, a gente tem tudo.