Os prejuízos que o bloqueio da BR-116 entre Nova Petrópolis e Caxias do Sul trazem vão além dos R$ 4,5 milhões apurados pela prefeitura da cidade das Hortênsias e aportados à Defesa Civil com os danos em residências e necessidade de obras emergenciais. Quem depende do trecho para estudar, trabalhar ou fazer tratamentos de saúde também enfrenta dificuldades diárias, e o turismo da cidade é duramente atingido na melhor época do ano, já que o Natal se avizinha, provocando queda de 30% a 50% do movimento estimado.
Leia mais
Obras em trecho bloqueado da BR-116 na Serra têm início previsto para novembro
Comunidade organiza abaixo-assinado pela recuperação da BR-116, na Serra
Superintendente do DNIT anuncia aprovação do projeto de duplicação do trecho urbano da BR-116, em Caxias
Duas semanas após o rompimento da estrada e longe de uma previsão de liberação, quem depende de deslocamento diário encontrou alternativas que vão desde caronas até hospedagens solidárias na casa de conhecidos. É o caso da gerente de farmácia Dalva Laureano, 47 anos. Moradora do bairro Santa Corona, em Caxias, a viagem diária até o trabalho, em Nova Petrópolis, que levava pouco mais de 40 minutos, transformou-se em algo impraticável para quem tem um expediente pela frente. Ela dorme na casa de uma amiga na cidade vizinha e volta uma ou duas vezes por semana para casa, em Caxias.
– Tenho uma amiga merendeira que fica na casa de um aluno, e ela tem filho pequeno. Uma situação é mais difícil que a outra – desabafa.
A única empresa que segue oferecendo ônibus entre os dois municípios é a Expresso Caxiense. O percurso dura cerca de duas horas e meia e é feito por Vila Cristina, ERS-452, Feliz e Picada Café. O valor da passagem ainda não aumentou, mas um possível aumento está em estudo. A Citral cancelou a linha Nova Petrópolis/Caxias do Sul. Procurada pela reportagem, a direção estava indisponível para dar entrevista.
A Associação dos Universitários de Nova Petrópolis (Aunp) estima que 30 dos cerca de 200 alunos tenham desistido do serviço de ônibus que os levava diariamente a Caxias. Isto porque a passagem vai aumentar de R$ 10 para R$ 15, e exige saída antecipada em mais de uma hora. O jeito, agora, é improvisar: um grupo de oito amigas reveza o sistema de carona em dois carros e sai às 18h30min usando o desvio por Linha Temerária. A atendente Janaina Rosane Willig, 20 anos, explica que é um pouco mais arriscado, mas torna-se uma saída para não faltar trabalho.
– Dá um pouco de medo porque à noite, na volta, é muito escuro. Nós faltamos aula quando o dia está muito ruim – lamenta a estudante de Ciências Econômicas da UCS.
O Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) deve publicar até quinta-feira, no Diário Oficial da União, o contrato com a empresa que fará a recuperação da estrada. As propostas seriam entregues ontem. A obra consiste na construção de um número de contenção na encosta, o que solucionaria definitivamente o problema. O trabalho está orçado em R$ 15 milhões e tem previsão de duração de seis meses, com início ainda em novembro. A possibilidade de liberação para veículos leves vai ser avaliada ao longo da obra.
Para doentes, situação é pior
Os percalços do bloqueio da BR-116 também atingem moradores de cidades vizinhas. A aposentada Maria das Graças Dorneles encarou cinco horas de viagem de ônibus para ir de Caxias do Sul a São Francisco de Paula. A partir de São Francisco, a Citral está operando somente até Nova Petrópolis, via BR-116. Portanto, há dois caminhos: ou ir até Nova Petrópolis e enfrentar outras 2h30min até Caxias do Sul via Expresso Caxiense, ou se deslocar até Tainhas e de lá embarcar a Caxias do Sul.
– Preciso para ir ao médico, tenho exames em Caxias. Mas fica na contramão, virou um problema – afirma a aposentada.
Pior ainda é voltar de uma sessão de radioterapia em um caminho incerto e demorado. A professora Dalene Maria Bergamo da Silva, 54 anos, está saindo de Gramado antes do meio-dia e retorna à noite, perto das 21h. As sessões de radioterapia ocorrem no Hospital Geral e são diárias. O transporte é gratuito e da prefeitura, o motorista é de confiança, elogia Dalene, mas a estrada deixa tudo mais difícil:
– O ruim é a volta. Nós ficamos fracas, e eu estou muito, muito cansada. A adrenalina fica lá em cima – conta.
Turismo cauteloso, mas confiante
É com perspectivas diferentes que a rede hoteleira e o comércio encaram o cenário que se apresenta para a Região das Hortênsias, especialmente Nova Petrópolis, nos próximos meses. O presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares e Similares da Região das Hortênsias (SindTur), Fernardo Boscardin, é otimista. Ele destaca que a grande maioria dos turistas que chegam para se hospedar na região desembarca no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e não passa pelo trecho bloqueado.
– Apenas 1% do fluxo de turistas da região vem da própria Serra. A grande maioria vem de outros Estados e desce em Porto Alegre. Nem dá para comparar com o transtorno que foi a interrupção da ERS-115 (entre maio e janeiro) – avalia Boscardin.
O prejuízo tende a ser bem maior na área do comércio, setor em que se estima que 50% da clientela seja de outros municípios da Serra, sendo 30% de Caxias do Sul. Nas duas primeiras semanas de bloqueio, os corredores do Aspen Shopping ficaram praticamente vazios logo que a BR-116 foi interrompida. O centro de compras tem maior parte das visitas agendadas via operadoras de turismo, e teve idas de grupos canceladas. Das 25 semanais, somente 9 se mantiveram.
Segundo o presidente da Associação Comercial e Industrial de Nova Petrópolis, Claudio Michaelsen, o momento é de unir esforços entre órgãos municipais, federais e estaduais, além do próprio empresariado.
– Temos a indústria moveleira que entrega em Caxias, assim como nossos produtores agrícolas também são fortes em Caxias. O comércio, a hotelaria, a indústria vão sentir bastante. Nossa fé é que em dezembro as coisas estejam melhores, e que alternativas se consolidem até lá – defende.
ROTAS E DESVIOS
Enquanto prosseguir a interdição da BR-116 em Nova Petrópolis, será necessário recorrer a caminhos alternativos para fazer o deslocamento entre Caxias do Sul e a Região das Hortênsias. Confira as opções recomendadas:
– Via RSC-453 (Rota do Sol) - 214 kmSiga pela Rota do Sol até São Francisco (cerca de 137 quilômetros) e depois use a ERS-235 (são mais 77,9 km, passando por Gramado e Canela) até chegar a Nova Petrópolis
– Via ERS-122 - 137 km Siga pela ERS-122 até a BR-116, em São Leopoldo (bairro Scharlau). Acesse a rodovia federal e siga até Novo Hamburgo. Esse trecho tem cerca de 95,9 km. De lá até Nova Petrópolis (passando por Estância Velha, Ivoti, Presidente Lucena e Picada Café, via 116), são mais 46,4 km.
– Via ERS-452 - É uma opção para quem não estiver seguro ou disposto a enfrentar estrada de chão. Na rotatória após o pedágio de Vila Cristina, acessar a ERS-452 e passar por Vale Real, Feliz, Linha Nova, retornando à BR-116 em Picada Café e seguindo até Nova Petrópolis. Esse trajeto percorre cerca de 59 km.
– Desvio por Linha Olinda - É o desvio mais curto e está em bom estado desde sábado, quando foi liberado. Aumenta a viagem em cerca de 19 km. Seguindo de Caxias do Sul pela BR-116 em direção a Nova Petrópolis, logo após a Ponte do Rio Caí deve-se entrar à direita para a localidade de Linha Temerária. Após passar pela sede social da localidade, haverá uma bifurcação, na qual deve-se pegar à esquerda. Em seguida, seguir o caminho de Arroio Paixão (há placas de identificação), que irá levar até Linha Olinda.
– Estrada de Vila Oliva a Gramado - Uma opção para sair de Caxias do Sul e chegar à Região das Hortênsias é pela estrada que liga o distrito de Vila Oliva à Gramado, cujo trajeto é de aproximadamente 18 quilômetros. O caminho, que alterna estrada de chão e asfalto, está em boas condições, mas exige atenção em dias de chuva.