Das diversas maneiras que a educação pode encontrar para melhorar no Brasil, uma delas certamente parte da iniciativa de estudantes críticos e questionadores como o caxiense Igor Mantovani, 18 anos. Aluno do Ensino Médio do Colégio Estadual Emílio Meyer, Igor reuniu no livro Educação: por que e como mudar percepções e apontamentos feitos a partir própria experiência como aluno e o contato com professores, visando a uma nova forma de se pensar o ensino no país.
O principal tópico da escola proposta pela jovem reflete a necessidade de permitir ao estudante explorar seu potencial criativo e impulsionar aptidões que a pasteurização do sistema atual muitas vezes esconde. Diante da polêmica reforma do ensino médio proposta em setembro pelo governo federal, Igor, que escreveu seu texto antes do anúncio do projeto, considera que a mudança é positiva, mas deveria contemplar também o ensino fundamental.
– Há uma frase do (Albert) Einstein na qual ele diz que se um peixe for avaliado pela sua capacidade de subir em uma árvore, ele vai ser sempre ignorado por ser incompetente. E a escola tende à padronização. O que eu proponho é que ela seja um lugar para identificar capacidades, mas que se permita procurar isso fora da escola, até por uma questão de infraestrutura. Sugiro o Ensino Fundamental em tempo integral, porém de quatro anos. Que permita concluir o Ensino Médio mais cedo e dar mais tempo para a especialização na área de aptidão da pessoa – destaca o jovem.
Entre as mudanças sugeridas por Igor, estão a forma de distribuição do currículo, que passaria a oferecer quatro períodos da mesma disciplina por dia, ao invés de fragmentá-las ao longo da semana (permitindo um raciocínio contínuo sobre o assunto). Com oito disciplinas distribuída em quatro dias, o escola dedicaria a sexta-feira para oficinas que permitam ao aluno experimentar e descobrir vocações profissionais. E recomenda uma visão diferente por parte do papel do professor, em que o foco na transmissão de informações seja desviado para a provocação ao aluno no sentido de fazê-lo ir atrás de determinado conhecimento que o interesse. Ou seja: que a escola não encerre questões para o jovem, mas sim o instigue a ampliar seu horizonte.
– A forma de ensinar está errada, porque a explicação que um professor passa é dada sob o seu ponto de vista. Uma mesma questão pode ser ensinada de formas muito diferentes e tu não aprende a matéria de fato, mas sim o que o professor pensa a respeito – diz Igor.
Modelo arcaico
Uma das principais incentivadoras do trabalho desenvolvido por Igor, a professora de língua portuguesa e literatura Liliana de Vargas, 54, destaca o quanto o pensamento do aluno vai de encontro a necessidades que ela, como professora, identifica:
– Nos dá muito orgulho o fato de ser um adolescente, que poderia estar dedicado apenas às questões da sua própria faixa etária, mas que decidiu pensar a educação. Nós precisamos de seres que não sejam apenas críticos, mas também transformadores. As escolas são arcaicas e tolhem qualquer possibilidade fora do pré-estabelecido e com isso o dom e o talento perdem para a padronização. Nesse sentido, a reflexão do Igor é muito pertinente e necessária – avalia a professora.
Sem a intenção de provocar uma revolução, o estudante que também gosta de escrever sobre ficção científica e pensa em ser professor de matemática acredita que pode, principalmente, instigar educadores a repensar paradigmas:
– Não é um livro só para professores, ou só para pais. É para todos que se interessam pelo tema da educação, com capítulos mais direcionados ao papel de cada um nessa mudança proposta.
Para viabilizar o livro, parte do valor foi paga pela própria família do jovem, outra parte com contribuição do corpo docente do Emílio Meyer. Com a revisão concluída, a expectativa é de fazer uma festa de lançamento com sessão de autógrafos na própria escola, no dia 10 de dezembro. Os exemplares custarão R$ 20.