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O medo que os caxienses sentem ao caminhar nas ruas, principalmente à noite, é explicado em números: na cidade, um pedestre é assaltado a cada cinco horas. Esta média foi registrada nos primeiros seis meses do ano, conforme dados da Polícia Civil de Caxias do Sul. De acordo com a Brigada Militar (BM), dos 98 bairros com registros de roubos a pedestre, Centro, São Pelegrino, Lourdes, Rio Branco e Cinquentenário concentram quase metade dos casos (44%). Ainda conforme os dados do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), 46% dos roubos ocorrem entre 18h e meia-noite.
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– Estes são os horários de maior circulação de quem trabalha e estuda. E o Centro e o São Pelegrino são os polos comerciais e estudantis do município. Por isso, são áreas mais suscetíveis à ação destes ladrões de oportunidade – resume o capitão Amilton Turra de Carvalho.
Os números divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), Polícia Civil e Brigada Militar (BM) não coincidem. Ainda assim, não há dúvida que o tipo de roubo mais comum é contra pedestres. De acordo com o setor de inteligência do 12º BPM, este tipo de roubo representa 53% do total de casos na cidade. Os ataques a pedestres aumentaram 22% em comparação com o mesmo período do ano passado: subiram de 752 para 935 registros. Entre janeiro e junho, houve pelo menos 21 casos com lesões às vítimas – todas feridas por faca. Uma delas morreu.
Para o capitão Turra, esse delito é um problema de saúde pública que reflete na segurança, uma vez que a maioria dos roubos envolvem pequenos valores e são praticados por viciados em drogas. Os criminosos preferem investir contra pessoas que ostentam objetos de valor, como joias, equipamentos eletrônicos ou bolsas, e agir quando vislumbram uma situação de vulnerabilidade: alguém sozinho ou em locais de pouca iluminação.
– Geralmente, eles não usam armas. O roubo é feito apenas na ameaça, surpreendendo a vítima e com uma presença agressiva. Normalmente, os autores são usuários de drogas que precisam destes objetos para o escambo da droga que usam. As ruas mais visadas são aquelas que têm movimentação e possuem rotas de fugas até os pontos de droga – analisa o oficial.
"Fiquei congelada só olhando a arma", lembra vítima de arrastão
Os assaltos em paradas de ônibus também são enquadrados como roubo a pedestre. Também nestes casos, os assaltantes geralmente procuram por vítimas sozinhas. Porém, esta não é uma regra. Na noite do dia 20 de agosto, uma dupla promoveu um arrastão contra 10 pessoas que aguardavam no ponto próximo ao Shopping San Pelegrino. Uma estudante do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, que prefere não ser identificada, foi uma das vítimas.
– Eu tinha ido ao cinema com um amigo. Chamei o meu pai para nos buscar e, para facilitar, fomos esperar na parada, que tinha outras pessoas. Era por volta de 22h. Eu fui a primeira a ser abordada. O rapaz, que parecia ter uns 30 anos, falou baixinho que queria a minha bolsa e celular. Eu fiquei sem reação. Na terceira vez, ele apontou a arma para mim e gritou que era um assalto – relembra a jovem, de 18 anos.
De acordo com a estudante, um segundo assaltante ficou do outro lado impedindo as vítimas de correr. Outra jovem foi agredida com um chute e caiu. Repetindo ameaças, os bandidos recolheram bolsas, carteiras, casacos e celulares.
– Eu tinha ouvido que este horário estava complicado, mas só fui esperar o meu pai. Achei que não ia demorar. Sempre pensei que iria correr, chorar ou reagir de alguma forma (a um assalto). Mas na hora, fiquei congelada só olhando a arma – lamenta a vítima.