Um levantamento da Secretaria Estadual da Educação mostra que a violência se enraizou no ambiente escolar. Em 38 estabelecimentos pesquisados na rede estadual em Caxias do Sul, foram computados 2.468 casos, incluindo indisciplina em sala de aula, agressões verbais e físicas a professores e alunos, furtos e arrombamentos, assaltos na entrada e saída, posse ou tráfico de drogas, bullying, depredação da instituição e acidentes do entorno do colégio, o que dá uma média de 13 ocorrências por dia levando-se em conta que foram registradas nos meses de novembro e dezembro de 2015, e março, abril, maio e junho deste ano. Os itens que mais chamam a atenção são indisciplina em sala de aula, com 1.206 casos, e agressões verbais a professores e funcionários, que somam 547 ocorrências.
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A sondagem foi realizada para mapear os principais problemas relacionados à violência dentro das escolas estaduais e, depois, planejar estratégias para diminuir o número de casos. Em todo o Estado, a secretaria analisou dados de 1.255 instituições que participam das Comissões Internas de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipaves), sendo 80 de abrangência da 4ª CRE.
O levantamento traz um alerta para coordenadores e professores, mas é visto mais como uma forma de dimensionar o que ainda precisa ser feito para reduzir a violência no ambiente escolar, de acordo com a titular da 4ª CRE, Janice Moraes:
– O conhecimento maior sobre alguns assuntos, como o bullying, fez com que novos casos não tenham sido registrados. Hoje, temos um trabalho grande de conscientização, de mostrar para os alunos o que é certo e errado. Mas ainda temos muito o que fazer.
As ações desenvolvidas pelas Cipaves, de acordo com a coordenadora do projeto na 4ª CRE, Marivane Carvalho da Rosa, auxiliam na redução de casos de violência. Ela explica que os colégios não são obrigados a montar uma comissão, formada principalmente por professores, pais, alunos e direção, mas todas as instituições estaduais de Caxias têm uma. No Estado, as Cipaves foram implementadas no ano passado; na rede municipal, existem desde 2007.
– De um ano para cá, cada escola vem se estruturando conforme a sua demanda. Temos muitas ideias que estão dando resultado e reduzindo os números de violência. O engajamento dos participantes nos mostra isso – afirma Marivane.
Pequenos projetos, grandes resultados
A Cipave de cada escola tem autonomia para desenvolver projetos para reduzir e evitar a violência dentro e no entorno da instituição, segundo a coordenadora do projeto das comissões na 4ª CRE, Marivane Carvalho da Rosa. Conforme a demanda, os colégios fazem um diagnóstico do problema e, depois, traçam ações.
Na Escola de Ensino Médio Erico Verissimo, os cerca de 680 alunos participam de inúmeros trabalhos realizados pela Cipave. Um deles, explica a professora e coordenadora pedagógica Fernanda Toss, é baseado no diálogo e na troca de informações. No levantamento da secretaria estadual de educação, o colégio apresentou 326 casos de violência. A indisciplina em sala de aula é o item com mais ocorrências, 120.
– Atitudes simples, como um "oi" para os alunos em uma noite gelada faz diferença. Eles se sentem melhores, mais motivados a buscar e fazer o bem. Também temos o projeto da professora Renata Molin, que interpreta a personagem Madame P. Ela foi criada para, por meio de performances teatrais, fazer com que os estudantes reflitam sobre palavras importantes, e que estão se perdendo com o tempo, como respeito e educação – completa.
O número de registros de indisciplina em sala de aula é menor na escola Dr. Assis Antônio Mariani, no bairro Jardim Eldorado. Mas, mesmo com 37 casos, 83 a menos do que na Erico Veríssimo, a Cipave realiza ações com os 680 estudantes. Uma delas é desenvolvida na hora do recreio, quando eles são estimulados a praticar esporte, como ping pong e pebolim.
– Ideia é que os intervalos fiquem mais interativos e que eles não ocupem a cabeça com besteiras. Também incentivamos o hábito da leitura com um cantinho especial. Percebemos, em um ano de Cipave, diminuição nos desentendimentos e nas agressões verbais, por exemplo – diz a vice-diretora no turno da noite e coordenadora pedagógica, Simone Mazzochi.
OCORRÊNCIAS* (Estado / 4ª CRE / Caxias):
Indisciplina em sala de aula 23.930 / 1.718 / 1.206
Agressões verbais a professores e funcionários 4.811 / 673 / 547
Agressões físicas a professores e funcionários 199 / 34 / 32
Furtos ou arrombamentos na escola 803 / 51 / 35
Assaltos na entrada ou saída da escola 1.099 / 146 / 144
Violência física entre alunos 4.861 / 301 / 140
Violência no entorno da escola 5.625 / 85 / 59
Posse ou tráfico de drogas 294 / 43 / 19
Bullying: 2.631 / 178 / 144
Depredações e/ou pichações dentro da escola 1.275 / 147 / 126
Acidentes no entorno da escola 430 / 22 / 16
Totais: 45.958 / 3.398 / 2.468
* Registradas nos meses de novembro e dezembro (2015) e março, abril, maio e junho deste ano