– Cada final de semana é como se tivesse acontecido uma guerra aqui.
Dita por um empresário que prefere não se identificar, a frase resume o sentimento de quem mora ou trabalha nas imediações da Avenida Ruben Bento Alves (Perimetral Norte), na altura do bairro Sagrada Família, em Caxias do Sul.
Nas noites de quinta-feira a domingo, além do som alto dos veículos, a via se transforma em pista para rachas. O cenário ao amanhecer é degradante: garrafas quebradas, copos e até fezes e urina pelas calçadas. Nem uma operação envolvendo diversos órgãos inibiu o agito no final de semana. Na madrugada de sexta para sábado, a fiscalização flagrou veículos rebaixados, com películas clandestinas e outras irregularidades. Na noite seguinte, sem policiais e fiscais por perto, o problema voltou a se repetir.
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A baderna se concentra entre as rótulas da Randon e da Caixa Econômica Federal, trecho de reta e com quebra molas em apenas um dos sentidos, o que estaria estimulando os rachas e atraindo as turmas. Desde o início do ano, esse é o endereço escolhido por centenas de jovens, muitos deles menores de idade. Na noite de sábado, por exemplo, três crianças aparentando não mais do que oito anos circulavam entre adolescentes.
Carros são estacionados na via ou sobre amplas calçadas em frente a revendas de automóveis. Pelo menos duas lojas começaram a fechar o acesso com correntes para evitar que a calçada amanheça imunda. Animada por música altíssima e bebidas, a festa costuma durar até o amanhecer. Em uma página no Facebook, os jovens se vangloriam e até debocham quando há ação policial.
Além de rachas envolvendo carros e motos, motociclistas empinam os veículos em meio ao trânsito habitual. No sábado, perto de meia-noite, um motoboy carregando mochila para telentregas se exibia com esse tipo de manobra.
Lixo fica pela calçada
A música alta e ronco de motores atrapalham o sono de quem mora em vias próximas da Perimetral Norte. A concentração de jovens costuma começar cedo, por volta de 21h. Muitos se aglomeram junto a um posto de gasolina mas, após a meia-noite, quando o estabelecimento fecha, eles se reúnem a outras turmas na perimetral. Há movimento até nas tardes de domingo. Apesar da operação do final de semana, moradores e empresários reclamam da falta de policiamento e da sujeira deixada após as noitadas.
– Antes de começar a trabalhar, temos que limpar o lixo que eles deixam – reclama Luís Reinaldo Wolff, gerente de uma das empresas prejudicadas pela concentração das turmas.
Funcionária da limpeza de uma revenda de veículos, Maria de Lourdes da Silva, 54 anos, sofre para higienizar a fachada. Nas manhãs de quinta a sábado e de segunda-feira, o trabalho começa com pesada faxina na calçada - ela já encontrou até preservativos.
– É muita falta de respeito, alguém tem que fazer alguma coisa – pede.
Outra discussão
Caxias do Sul também discute a falta de espaço para quem aprecia som automotivo: o estacionamento do futuro Ecoparque foi descartado.
Pedido de providências
Na semana passada, um documento assinado por representantes de oito empresas instaladas no trecho da baderna foi entregue para a prefeitura e para a Brigada Militar. Eles pedem mais blitze e a construção de quebra-molas para inibir os rachas na Perimetral Norte e, consequentemente, as confusões e a sujeira.
A prefeitura recebeu a reivindicação na quinta-feira e organizou uma blitze na noite de sexta-feira. A ação teve a participação da Brigada Militar, Guarda Municipal, secretarias de Trânsito e Urbanismo, Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Guarda Municipal.
Segundo o coordenador da força-tarefa, Alexande Bortoluz, as ações serão ampliadas. Segundo ele, a loja de conveniências de um posto das proximidades, que está ajudando a atrair as turmas, encerra o atendimento por volta da meia-noite, portanto, estava regular.
– Identificamos um comerciante ambulante que foi notificado porque o comércio dele estava gerando sujeira. Ele deve se apresentar amanhã (hoje) na prefeitura e vamos transferi-lo para outro local. De qualquer forma, a fiscalização será intensificada, mas vamos nos reunir para estabelecer como – diz Bortoluz.