A fila para almoçar no Restaurante Popular de Caxias do Sul nunca esteve tão longa. A crise aumentou a demanda da população por refeições mais baratas. O restaurante, subsidiado pela prefeitura, serve almoços a R$ 1, mas a licitação com a empresa contratada para administrar a cozinha prevê um limite de 820 refeições por dia. No último mês, a média de quem fica na fila em vão é de cerca de 50 pessoas, segundo Janete Tavares, coordenadora de Segurança Alimentar e Inclusão Social do município.
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O almoço começa a ser servido às 11h e, por volta do meio-dia, funcionários já começam a avisar que nem adianta permanecer na espera porque a catraca já esgotou a contagem diária.
O número de refeições é o mesmo desde que o primeiro Restaurante Popular, que ficava na Rua Os Dezoito do Forte, foi fechado e todos os almoços foram concentrados no atual endereço, na Rua Vinte de Setembro, em frente ao Postão 24h. A inauguração ocorreu em 2007. Segundo a coordenadora, apesar do contrato com a empresa terceirizada ser renovado anualmente, não foi previsto aumento de refeições porque a oferta dava conta do público, o que não tem ocorrido nos últimos tempos.
– Nós já temos um público permanente composto, na maioria, por idosos; muitas pessoas que vão no Postão e também já aproveitam para almoçar, mas agora aumentou muito o número de pessoas desempregadas e de gente procurando emprego no Centro. Chama atenção também o crescimento de estudantes, muitos estagiários – aponta Janete.
É o caso de Renato de Almeida, 30 anos, de Belém do Pará. Recentemente ele perdeu emprego em uma cooperativa de Nova Petrópolis e estava almoçando no local no intervalo da peregrinação por uma vaga de vigilantes em Caxias do Sul nesta quarta-feira. Ele chegou na fila do restaurante por volta das 10h para garantir a refeição.
Aldo Gomes dos Santos, 63 anos, morador do bairro Santa Fé, almoça há dois anos no Restaurante Popular e diz que precisa chegar cada vez mais cedo para garantir refeição devido ao aumento do movimento.
Os gastos anuais da prefeitura com a Nutriflach, de São Leopoldo, e para a manutenção do local é de cerca de R$ 1 milhão. Conforme Janete, a prefeitura paga R$ 8,20 por refeição.
Espaço para ampliar o número de almoços não seria problema. Conforme a coordenadora de Segurança Alimentar, o local tem capacidade para servir até mil refeições. Embora reconheça a necessidade de ampliar a oferta, Janete diz que a ação depende do orçamento para o próximo ano e não há nenhuma sinalização momentânea de que será possível ampliar o número de pratos servidos.
Aumenta procura também nos bairros
A coordenadora de Segurança Alimentar e Inclusão Social diz que algumas das pessoas que não conseguem almoçar no Restaurante Popular do Centro de Caxias são encaminhadas para outros programas ou até mesmo para receber cestas básicas.
O Banco de Alimentos, por exemplo, arrecada alimentos em projetos como o Sábado Solidário, e depois repassa para organizações de assistência social. Há também o Prato Solidário que recolhe o excedente de alimentos produzidos em cozinhas industriais e doa às entidades assistenciais.
O município ainda mantém cinco cozinhas comunitárias em bairros. Como os alimentos são do banco e apenas a carne é comprada por meio de licitação, Janete diz que foi possível reorganizar o cardápio para ampliar o número de refeições em locais onde também aumentou a demanda por causa da crise.
É o caso das cozinhas comunitárias do bairro Mariani, que aumentou de 110 para 130 o número de refeições, e do Cânyon, que saltou de 300 para 350.
– São pessoas que não têm dinheiro para comprar comida, mas elas têm um prazo para participar do programa. Se for pelo desemprego, é até arrumar o trabalho. Assim é possível passar as refeições para outra família que estará precisando mais no momento em que a outra já estiver melhor colocada – exemplifica.
Recentemente, mais uma cozinha foi inaugurada no bairro Villa Lobos para servir 80 refeições à noite. O município atende também o bairro Tijuca com 60 a 80 refeições por dia de acordo com a demanda e outras 180 viandas à noite no Bom Pastor II.