O grande número de casos de maus-tratos e abusos contra idosos registrados em Caxias do Sul motivou a elaboração do Pacto Municipal de Combate à Violência. Envolvendo entidades ligadas à terceira idade, o acordo visa assegurar o cumprimento dos direitos sociais das pessoas acima de 60 anos.
O documento será assinado nesta terça na prefeitura e envolve a participação de pelo menos sete entidades e organizações do setor público: Associação Jesus Senhor, Centro de Convivência Tia Oli, Centro de Convivência Capuchinhos, Coordenadoria do Idoso, Lar da Velhice São Francisco de Assis, Secretaria Municipal de Educação e Universidade de Caxias do Sul. Elas promoverão atividades de prevenção e conscientização sobre situações de violência, que serão detalhadas nos próximos dias. De janeiro a maio deste ano, foram registrados 216 casos de violência contra idosos na cidade, uma média de dois por dia.
– Esse número é alto e vem se mantendo nos últimos anos, o que é muito ruim. Muito é feito para promover a autonomia e a integração do idoso na sociedade, mas os casos continuam aparecendo. Resolvemos criar esse pacto, com ações para diversos públicos, para frear esse número – explica a titular da Coordenadoria do Idoso, Raquel Tsuruzono.
A maior parte das agressões, de acordo com Raquel, é cometida por familiares. Os dados de Caxias ainda revelam ainda que, das vítimas, mais de 70% são mulheres. Além disso, as violações mais comuns são a negligência, a violência psicológica e o abuso financeiro. Muitas ações planejadas para o pacto partirão dessas informações.
– A Secretaria da Educação, por exemplo, planeja ações com professores, que vão trabalhar com os pequenos nas salas de aula. Serão atividades de conscientização, de como devemos tratar os mais velhos, como ajudá-los. Os idosos também serão estimulados, nos grupos de convivência, a falar sobre sua vida e rotina. Aí, poderemos identificar casos de violência e, assim, evitar que ocorram – espera Raquel.
A última estimativa do IBGE apontou que Caxias tem cerca de 58 mil idosos. Com a expectativa de vida cada vez mais alta – de acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, nos últimos 50 anos, o Brasil saiu de uma expectativa de 48 anos para 78 – a criação desse pacto é imprescindível, de acordo com a presidente do Conselho Municipal do Idoso, Alda Lundgren:
– Os casos de violência são sempre um alerta. Nossa intenção agora é criar chances para as pessoas acima de 60 terem autonomia e para que a sociedade crie consciência de que precisa cuidar dos seus idosos.
Mais autonomia e menos chance para violência
O Centro de Convivência Capuchinhos, no bairro São Caetano, é uma das entidades que vai aderir ao Pacto Municipal de Combate à Violência. Em funcionamento há dois anos, ele atende a 34 idosos e oferece atendimento com psicólogas e terapeutas, além de oficinas e atividades socioculturais. De acordo com a coordenadora Roberta Vieira, ações de conscientização serão reforçadas entre os idosos e familiares. O centro faz parte da Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados (Lefan).
– Realizamos encontros com a família, que pode relatar os problemas que estejam acontecendo em casa. Podemos ajudar em alguns casos. Muitos acreditam que violência é só a física, mas a negligência, como deixar o idoso sem atenção e cuidados, também é uma forma violência. Alertamos sobre tudo isso como forma de prevenção – esclarece Roberta.
Como buscar ajuda
* Conselho Municipal do Idoso (CMI): Rua Visconde de Pelotas, 449, Centro. O telefone é o (54) 3901.1521.z Disque 100: pode ser realizado todo o tipo de denúncia. Não precisa se identificar.
* Polícia: procure uma delegacia ou denuncie pelo telefone 190, da Brigada Militar.