Com as duas filhas pequenas sofrendo de problemas respiratórios, o policial militar Gabriel Baroni, 30 anos, está em busca de um novo plano de saúde, já que não quer passar mais um inverno lutando em busca de médicos credenciados ao Instituto de Previdência do Estado (IPE) em Caxias do Sul. Com as temperaturas mais baixas, as meninas, de dois e quatro anos, precisam constantemente de atendimento de especialistas e Baroni, usuário há nove anos do IPE, tem dificuldade para encontrar horários e médicos disponíveis. Além disso, não existiria mais em Caxias clínicas conveniadas que atendam pediatria em regime de urgência/emergência.
– Existe um pneumologista credenciado para toda a cidade. Então, pensa quando vamos conseguir consulta? E, na maioria das vezes, elas têm crises de asma de uma hora para outra, não há como agendar ou ficar esperando. Pior ainda é quando precisamos de ajuda à noite ou nos finais de semana – lamenta o pai.
Baroni afirma que nunca foi fácil conseguir consulta pelo IPE, mas reclama que a situação piorou muito no último ano. Em uma noite de abril, desesperado com uma crise alérgica da filha mais velha, enfrentou a fila no Pronto-Atendimento 24h.
– Tenho plano de saúde, são descontados R$ 106 da minha conta todos os meses. Por que tenho que recorrer ao Sistema Único de Saúde? Também já precisei de uma consulta e tive que pagar cerca de R$ 300 porque não tinha o especialista daquela área na lista de conveniados. Depois de muita burocracia, eles reembolsaram parte do valor, mas temos que passar por tudo isso mesmo? Em Caxias, o IPE não funciona. Temo que fique pior ainda com essa crise econômica que estamos passando no Estado – analisa.
Por meio da assessoria de imprensa, o instituto informou que os repasses para os médicos estão em dia, mas que há um descredenciamento em massa dos profissionais em algumas cidades gaúchas. No entanto, o IPE garantiu que isso não ocorre em Caxias: no ano passado, 14 profissionais teriam se desligado do plano. A justificativa seria o baixo valor repassado pelas consultas (R$ 26), defasado há pelo menos três anos. Hoje, a lista de médicos tem 173 nomes na cidade. Para tentar melhorar a situação, o IPE está propondo aos médicos um credenciamento como pessoa jurídica. A alternativa alteraria o valor da consulta e diminuiria os custos do profissional com o INSS.
– Alguns especialistas me atendem porque sou paciente há anos, mas sei que eles não marcam mais consultas para os novos conveniados. Eles justificam que, por atendimento, ganham a metade do que recebem com pacientes de outros planos. Todos faríamos a mesma coisa, não dá para trabalhar por pena, mas ficar sem atendimento de saúde não dá também – reclama uma aposentada de 61 anos, usuária do IPE há 13.
Cobrança de taxa extra é prática recorrente
Usuária do IPE há mais de 10 anos, uma aposentada caxiense - que não quer se identificar com medo de se expor e não conseguir mais horário para consultas - também se queixa da falta de especialistas. Porém, para ela, o maior problema é uma taxa que está sendo cobrada por alguns médicos. Ela conta que pelo menos dois profissionais já cobraram o valor extra, além da coparticipação, no momento do atendimento. Ela questionou as secretárias e ouviu que a prática era comum entre os conveniados do instituto.
– Eles alegam que, como o valor que recebem do IPE é menor do que o repassado por outros planos, eles precisam cobrar a mais. Seria uma forma de continuar a atender os usuários sem perder dinheiro. Mas não acho isso justo. Parece que eles fazem um favor. Me sinto enganada – lamenta.
Por meio da assessoria de imprensa, o IPE informou que está ciente da irregularidade e reforça que qualquer tipo de cobrança, diferente daquelas acordadas com a rede credenciada, é ilegal. O descumprimento total ou parcial das obrigações pode gerar advertências para o médico, suspensão ou até o cancelamento do credenciamento.
"Em nenhuma situação o beneficiário deverá arcar com algum custo adicional. Ele deve pagar apenas o referente à coparticipação. Essa cobrança varia de acordo com a categoria, e os valores vão de R$ 7 a R$ 21 para consultas e R$ 24 para emergências", diz o comunicado do IPE.
A cobrança de taxa extra deve ser denunciada pelo e-mail ouvidoria@ipe.rs.gov.br ou pelo telefone 0800.517797.