Os problemas são recorrentes e as reclamações constantes quando o assunto é o largo da Estação Férrea: bagunça, barulho, sujeira, brigas, uso de drogas e sensação de insegurança. Mesmo assim, a Brigada Militar nem a Polícia Civil possuem estatísticas sobre crimes naquela região. Também não há registros sobre quantos chamados a corporação recebe com reclamações específicas. Para fins de comparação, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, onde havia problema semelhante, guardadas as proporções, o problema foi solucionado a partir do trabalho conjunto e com policiamento constante.
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– Para podermos mexer no policiamento, são feitos estudos criminais. A delegacia filtra os crimes por ruas e, a partir dessa análise, tomamos as atitudes necessárias – conta o coordenador da Operação Lapa Presente, Edson Soeiro.
Enquanto isso, a situação por aqui vai ficando pior. Na madrugada de domingo, um homem foi baleado nas costas após um tiroteio. Na mesma noite, um jovem de 22 anos foi preso em flagrante por porte ilegal de arma na esquina das ruas Os 18 do Forte e Marechal Floriano. Após esse acontecimento, no último encontro envolvendo moradores, empresários e autoridades municipais, realizado na segunda-feira, a prefeitura se comprometeu a melhorar a iluminação no local.
– Acredito que já houve outras épocas com mais ocorrências, quando se falava até mesmo em fechar as casas noturnas. Hoje, o número de ocorrências é compatível com o número de pessoas que existe na noite. É um local com grande concentração de público, onde se consome bebida alcoólica, então é um local mais propício à desordem – justifica o delegado titular do 1º Distrito Policial, Vítor Carnaúba.
Já o capitão Amilton Turra de Carvalho, responsável pelo policiamento na região, afirma que só a Brigada Militar não consegue fazer frente a todos os problemas:
– É uma das nossas prioridades. Estamos atentos a estas demandas e viemos trabalhando em conjunto com os demais órgãos responsáveis.
Jovens vêem no Largo da Estação única opção de lazer
As tribos são muitas, mas a reclamação é uma só: jovens que frequentam o entorno da Estação dizem que não há outro lugar onde possam se divertir em Caxias do Sul. Em alguns casos, o que leva os grupos ao espaço público é a falta de dinheiro para entrar nas casas noturnas; em outros, apenas uma preferência por um local aberto e seguro.
Na Rua Dr. Augusto Pestana, próximo à Marechal Floriano, é onde ficam os jovens que gostam de som alto e carros rebaixados. Eles estacionam os veículos, abrem o porta-malas e cada grupo coloca sua música. Na sexta-feira à noite, quando o Pioneiro visitou o local, um carro tocava funk enquanto o carro ao lado tocava sertanejo universitário. Para conversar com eles, somente aos gritos.
– A gurizada que curte carro baixo e som alto gostaria de ter um lugar próprio para se divertir. Não queremos incomodar ninguém ou incentivar o uso de drogas. Mas seria bom ter um lugar onde pudéssemos aproveitar as coisas que a gente gosta sem atrapalhar os vizinhos – comenta um jovem que preferiu não se identificar.
Esse mesmo grupo também se reúne em loteamentos nos bairros São Caetano ou na Lagoa do Desvio Rizzo, mas na Estação é onde se sentem mais seguros.
– Quando os vizinhos reclamam, a gente abaixa o volume porque já sabe que às vezes eles se incomodam, mas temos poucas referências de lugares pra ir, e dependendo do lugar, ainda corremos o risco de ser assaltados – afirma o estudante Pedro Pezzi, 15.
Já na esquina da Os 18 do Forte com a Coronel Flores, em frente a uma loja de conveniência, por volta das 11h30min de sexta-feira, o movimento estava calmo. Havia muitos jovens na rua conversando e bebendo, mas sem gritos ou confusões.
A vendedora Franciely Fagundes, 24, estava com dois amigos em frente à loja. Eles foram até a Estação para um festival de música e resolveram ficar mais um pouco após o evento.
– A gente não vem sempre, mas se não for festa fechada, a única opção é aqui (na Estação). É claro que tem pessoas que exageram, gritam, mas geralmente é tranquilo – afirma a jovem.
A sensação de segurança, no entanto, não é unânime. Além da reclamação constante dos vizinhos tanto quanto à falta de segurança quanto à sujeira e ao barulho, alguns jovens afirmam frequentar menos o local por causa das confusões.
– Tenho evitado vir para cá porque não é mais seguro. Outro dia, fui empurrada por um cara que pedia dinheiro na rua. Quando venho, é para entrar em uma boate – conta a recepcionista Caroline Zago, 18.
Operação Lapa Presente, no Rio de Janeiro, é exemplo
Os problemas do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, eram semelhantes aos que são vistos na Estação. Moradores reclamavam de som alto, sujeira nas ruas, pouca iluminação e da criminalidade. Desde o início da Operação Lapa Presente, em janeiro de 2014, a região passou por mudanças. Em dois anos, houve queda de 95% dos roubos na região e 93% dos registros de furtos. Novos bares abriram, a frequência de público aumentou e a sensação de segurança melhorou.
Conforme o coordenador da Operação Lapa Presente, Edson Soeiro, a solução passa, necessariamente, pela união de forças entre diversos órgão como prefeitura, secretarias, governo do Estado, Brigada Militar, e Polícia Civil.
– Quando iniciamos o trabalho, cada órgão atuava de forma individual. Agora, o trabalho é conjunto e a reclamação é mínima. O Disque Lapa, nossa central para receber as denúncias, que antes tocava de 20 a 30 vezes por noite, hoje recebe cerca de três ligações – afirma Soeiro.
Para isso, agentes do programa patrulham diariamente a região a pé, de bicicleta e em viaturas. Fazem parte da Operação 136 agentes, sendo 76 policiais militares e 48 agentes civis. Eles trabalham uniformizados com coletes reflexivos e identificados. Todas as abordagens realizadas são filmadas. Além do serviço de ronda policial, são feitos acolhimento de moradores de rua, manutenção e conservação do bairro, melhorias na iluminação, coleta de lixo, além do ordenamento público, repressão ao estacionamento irregular e a cambistas.
Reclamações de moradores
:: O advogado Cassiano Benedetti, 36 anos, que mora próximo à Estação, afirma ter ligado para a polícia de sexta-feira a domingo neste final de semana, sem conseguir dormir.
– Era tanto barulho que os vidros da minha casa tremiam. Já assaltaram meus vizinhos, nesse final de semana quebraram os medidores aqui do prédio, já vimos gente transando na entrada da nossa garagem, fazem xixi na escadaria e deixam garrafas de cerveja espalhadas pela calçada. A situação está insustentável – desabafa o homem.
:: Empresários que trabalham no local dizem que a falta de segurança assusta os clientes. É o caso do fotógrafo Silas Abreu.
– O barulho não nos incomoda muito, mas quando é preciso sair mais tarde do estúdio, os clientes pedem que acompanhe até o carro porque têm medo, se sentem ameaçados – afirma, destacando que o potencial da região poderia ser melhor aproveitado caso houvesse uma guarita da Brigada Militar no local e policiamento 24 horas, por exemplo.
:: Guilherme Montanari, 39, também morador das redondezas, passava pela Estação no último final de semana e foi parado por um jovem que perguntou abertamente se ele queria comprar maconha ou cocaína. Cansado de ligar para a Brigada Militar, Fiscalização de Trânsito, Ministério Público e Prefeitura cobrando soluções, ele começa a desmontar os móveis e preparar a mudança.
– O código de posturas do município diz que não se pode fazer barulho após às 22h. Eles ficam com som alto até as seis horas da manhã, a polícia vem eles abaixam o volume por cinco minutos e depois erguem novamente, chega a ser patético. Eles querem um local para se divertir e eu quero assegurar o meu direito de poder dormir – reclama o homem.