Entre janeiro e setembro de 2024, 306 moradores de Caxias do Sul foram internados, de forma compulsória ou não, para tratamento contra o alcoolismo. Uma média de 34 pessoas por mês de diversas idades. Já em 2023, durante todo o ano, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), foram 403 internações, com 38 óbitos.
O alcoolista, quando tem a intenção espontânea de parar de beber, pode procurar um método de tratamento junto ao município, que conta com quatro espaços para internações hospitalares e outros cinco para terapias com equipes multidisciplinares e médicas. Todos via Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, são gratuitos.
A pessoa que sofre da doença, segundo dados coletados e divulgados pelo Hospital Israelita Albert Einstein, apresenta uma vontade incontrolável de beber, não domina a hora de parar e ingere cada vez. Além disso, sente os efeitos físicos e psicológicos da abstinência, que é a restrição de algo que a pessoa já é dependente, mas que tenta parar.
Caps Reviver e Novo Amanhã
Desde 2001, há em vigor uma lei de reforma psiquiátrica (10.216/2001), onde o Ministério da Saúde propaga a possibilidade de redução no número de internações para ampliar o atendimento em serviços multidisciplinares. Caxias do Sul segue esta linha, conforme a diretora técnica da Rede de Atenção Psicossocial, Luciana Lunardi de Almeida. Por isso, via SUS, os interessados em tratar do transtorno por uso de álcool podem procurar um dos cinco Centros de Atenção Psicossocial (Caps) ou qualquer Unidade Básica de Saúde. A busca também pode ser feita por algum membro da família.
A diretora Luciana de Almeida explica que os Caps Reviver e Novo Amanhã atendem 24 horas por dia com 12 leitos de desintoxicação em cada:
— Este é um serviço substitutivo, que é para receber o tratamento sem necessidade de internação ou dar continuidade após o período de internação hospitalar. Nestes dois, de forma espontânea, a pessoa pode ter atendimentos diários e voltar a dormir em casa ou passar 12 dias desintoxicando aqui. Porém, ele pode ir embora a qualquer momento, por isso não consideramos internação.
O usuário de álcool, ao procurar um dos Caps, passará por uma avaliação médica, que definirá qual é o tratamento adequado para o respectivo caso. Luciana explica que há terapias e oficinas em grupos ou individuais, sempre acompanhadas de uma equipe multidisciplinar. Para quem fica no Caps por 12 dias, há atendimento de enfermagem também.
O psicólogo do Caps Reviver, Vinicius Sauer, explica que uma das dinâmicas feitas com os usuários em recuperação é conversa em grupo. Nas quartas-feiras à tarde, ele reúne-se com aqueles que estão desintoxicando no Caps e outros atendidos.
O profissional destaca que é um grupo heterogêneo e não tem uma quantidade de pessoas definida, acontece conforme a intenção de participação do usuário do serviço.
— A gente senta em círculo e conversa. O assunto não é determinado, mas eu sempre tento manter na temática do alcoolismo para evidenciar os problemas que o envolvem. Aparecem diversas cenas características, como arrependimento, rever a vida, recapitulação de coisas perdidas, planos e esperança — relata Sauer.
Ele destaca que não costuma anotar o que os pacientes passam, pois o intuito é que seja um ambiente de escuta. Mas, caso alguma situação se sobressaia e possa ajudar no atendimento clínico e terapêutico deste paciente, Sauer repassa os detalhes para a equipe multidisciplinar.
Internações
Caso o médico avalie que o paciente precisa de internação hospitalar para uma desintoxicação mais profunda, os homens adultos são enviados para tratamento na Clínica Paulo Guedes, no bairro Ana Rech, ou no Hospital Virvi Ramos. As mulheres são encaminhadas para a Clínica de Repouso, no bairro Santa Catarina, e as crianças e adolescentes para o Hospital Geral. Essa destinação é válida para transtornos do alcoolismo ou qualquer outro psiquiátrico. O mesmo acontece com os Caps: o Reviver e o Novo Amanhã atendem adultos e com transtornos leves. O Caps Aquarela faz atendimento infantojuvenil e os centros Mental e Cidadania atendem casos de transtorno grave.
— As internações hospitalares, quando compulsórias, só acontecem com indicação médica. Em casos em que o paciente já está prejudicando a si, como, por exemplo, com ideia suicida ou sem comer, sem ter a vida que costumava ter antes.
A diretora técnica explica que o tempo de tratamento, tanto no Caps quanto no hospital, dependerá de cada caso, conforme a avaliação médica. Além dos atendimentos que acontecem via SUS nos Caps, Caxias do Sul conta com grupos de alcoólicos anônimos.
Dados do RS
Conforme a última divulgação do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, o Rio Grande do Sul liderou o ranking em internações em 2023. Calculado pela taxa de 100 mil habitantes, o RS tem 69,9% das internações do país e esteve, no ano passado, em quinto na lista de óbitos decorrentes deste transtorno. Com a pesquisa realizada, o centro identificou que, quanto mais internações são feitas, menos pessoas morrem. Das internadas, a faixa etária de 35 a 54 anos se sobressai e os homens são a maioria.
Também, a contabilização nacional apontou algumas características do público consumidor, como, por exemplo, no RS, as pessoas com mais de 55 anos são as mais propensas a óbitos em decorrência do álcool. Os homens morrem mais que as mulheres. Os motivos das mortes são doenças alcoólicas do fígado e os transtornos mentais e comportamentais associados ao uso de álcool. Na população com mais de 34 anos, destacam-se as doenças hepáticas e a hipertensão. Já no público jovem, a violência ou acidentes de trânsito estão entre as principais causas.