Parar pode ser difícil. Em culturas como as que fundaram as cidades da Serra, onde trabalho e vida pessoal se entrelaçam, reduzir o ritmo depois de anos de correria pode ser ainda mais complicado. O perigo está em se sentir sem utilidade. E se deixar levar por esse pensamento pode ser a receita para um envelhecimento que leva, muitas vezes, à depressão, segundo a psicóloga e orientadora para a aposentadoria Francine Xavier.
No consultório e em grupos de convivência de idosos onde trabalha, Francine percebe as demandas defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que adotou, no fim dos anos 1990, o termo envelhecimento ativo para identificar direitos dos idosos à saúde, segurança, bem estar e convívio social.
— A sociedade, por si só, enxerga a pessoa idosa como alguém sem utilidade e muitos passam a acreditar nisso. A maioria percebe que perdeu o ritmo de antes, mas às vezes é só falta de estímulo. E além disso, percebem a família introduzindo atividades que eles nem sempre querem, como cuidar dos netos. Então, trabalhamos para que saibam negar o que lhes é imposto — analisa.
O sociólogo canadense Robert Stebbins, por exemplo, propôs em 2008 o que chamou de “lazer sério”. O conceito defende que todos deveriam encontrar ao longo da vida uma atividade a se dedicar quase que inconscientemente, sem a obrigação de realizá-la. Fazê-la por prazer. É mais um passo da receita indicada por Francine.
— Diversos estudos vêm sendo desenvolvidos relacionando o lazer sério com o envelhecimento. Ou seja, se depois da aposentadoria pudéssemos nos dedicar a esse lazer sério talvez seríamos mais realizados e felizes nessa fase da vida — conta.
Convivência e antigos hábitos além do trabalho
A participação em um coral e a convivência com a comunidade mantêm o espírito ativo de Dérica Endres, 75 anos. Viúva desde os 62, a então tecelã parou as atividades em 2011 e passou a se dedicar à família e ao lazer.
— Nunca senti falta do trabalho, sempre achei o que fazer. Cantei 11 anos na UCS e tenho, graças à Deus, amizades maravilhosas. Acordo cedo, faço minhas orações e cuido da minha saúde. Amo minha companhia — diz.
Longe de não aceitar a aposentadoria, Marisabet Perassolo, 63, diminuiu o ritmo há dois anos e idealiza os próximos anos com a mesma altivez da amiga Dérica. A professora, agora aposentada, por uma década trabalhou no Centro de Convivência Capuchinhos, em Caxias. No atendimento aos idosos, aprendeu que é preciso estar ativo, ainda mais depois da aposentadoria.
— Parei de trabalhar, mas continuo fazendo trabalhos voluntários no mesmo local onde trabalhava. E agora dou mais atenção a minha mãe que tem mais de 80 anos e também precisa de atividades e convívio — diz.
Ciclo de debates sobre Educação e Velhice
A Universidade de Caxias do Sul realiza na quarta-feira (2) um ciclo de debates sobre o tema. Chamado de Uma Questão de Sensibilização e Visibilidade Social da População Idosa, o evento ocorre das 19h30min às 21h45min no auditório do Bloco E do Campus-Sede. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas também pelo link.
O objetivo é promover um espaço de compartilhamento de ideias e compreensões sobre a velhice.
Confira a programação:
- 19h30min – Educação no Envelhecimento Ativo – Vania Beatriz Merlotti Herédia – doutora em História das Américas
- 20h15min – Educação na Velhice como Enfrentamento do Estigma Social: Desvelando Outros Horizontes Formativos – Amanda Khalil Suleiman Zucco – doutoranda em Educação
- 21h – Pedagogia Social como Sustentação Teórica do Programa UCS Sênior – Verônica Bohn – doutora em Educação, coordenadora do UCS Sênior
- 21h45min – Tempos e Espaços para a Poesia do Viver – Marli Cristina Tasca Marangoni – doutora em Educação