Faltando pouco mais de dois meses para o início do verão — a estação começa oficialmente no dia 21 de dezembro — é natural que o movimento se intensifique na Rota do Sol, a principal ligação entre a Serra e o Litoral Norte. E é justamente nesse período do ano que os problemas da rodovia estadual voltam à tona e preocupam os usuários.
As reclamações, porém, se intensificaram a partir de maio, quando a estrada também sofreu danos por conta da chuva intensa que atingiu o Estado. Nesta semana, a reportagem do Pioneiro percorreu a RS-453 desde o entroncamento com a BR-116, no bairro São Ciro, em Caxias do Sul, até a localidade de Aratinga, em São Francisco de Paula, quando a estrada muda para RS-486. Mais uma vez, o que se percebe são muitos buracos e ausência de sinalização.
As condições
Da saída de Caxias até o acesso à localidade de São Braz, no interior do município, a rodovia apresenta poucos buracos, e o trânsito flui sem grandes problemas. A situação começa a piorar nas proximidades do trevo de acesso ao distrito de Fazenda Souza, onde é possível perceber placas degradadas pelo tempo, caídas, apagadas, ou até mesmo a ausência de sinalização para orientar os condutores.
Logo à frente, o km 158 passa por problemas desde maio, quando a tubulação principal que recebia água da represa Marrecas, no sentido Serra-Litoral, não resistiu aos dias consecutivos de chuva e rompeu. É possível perceber que foi realizado um trabalho inicial de contenção de uma encosta e uma primeira camada de asfalto. No entanto, os motoristas precisam ficar atentos ao passar pelo trecho.
Nas proximidades do km 164, pouco antes do acesso a Vila Seca, no sentido Serra-Litoral, há placas que sofreram avarias com o tempo. Neste percurso, a reportagem percebeu buracos. Em pontos que foram tapados por operações antigas e há desníveis, causando transtornos aos usuários. A mesma situação de irregularidade é percebida entre os kms 174 e 176, no acesso à Penitenciária Estadual de Caxias do Sul, na localidade de Apanhador.
Nos quilômetros seguintes, até Lajeado Grande, no interior de São Francisco de Paula, os motoristas também encontram buracos e sinalização degradada. No acesso à localidade, é perceptível que buracos foram tapados. No entanto, a situação acabou gerando desníveis no asfalto.
No trecho de Lajeado Grande até Várzea do Cedro, no entroncamento com a RS-110, que leva a Bom Jesus ou à sede do município de São Francisco de Paula, o asfalto é bom, com poucos buracos e sinalização em boas condições. A situação volta a ficar complicada no km 242, próximo do entroncamento com a RS-020, que vai a São Francisco de Paula. Nesse ponto, o asfalto está danificado e o condutor precisa ter atenção.
Já no km 251, onde estão sendo feitas as obras para a construção de um pelotão do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), o asfalto e a trafegabilidade são bons. Dali em diante, até a localidade de Aratinga, onde a rodovia muda de RS-453 para RS-486, são poucos buracos e o tráfego flui bem.
Morosidade pública e falta de zelo
Questionado a respeito das condições da rodovia, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) disse em nota que "a recuperação da Rota do Sol (RSC-453/ERS-486) está entre as obras prioritárias em rodovias, contemplada no Plano Rio Grande. A recuperação está na fase de instrução técnica para contratação ainda este ano".
Apesar de ações de recuperação, como as já realizadas na rodovia em anos anteriores, é consenso que há dificuldades em manter a conservação da Rota do Sol, assim como de outras rodovias. Conforme o professor de Engenharia Civil da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Bruno Susin, alguns fatores podem ajudar a explicar o problema.
Um deles é a circulação de veículos com excesso de carga, associado a uma fiscalização muito esporádica dessa prática. Caminhões com peso maior do que o permitido aceleram muito a degradação do pavimento. Outro ponto é a morosidade dos órgãos públicos, que precisam cumprir a legislação.
— Quando a gente faz o projeto de uma pavimentação, já dimensiona ela para o futuro. A gente já coloca ali alguns fatores para simular um trânsito que vai existir lá na frente, quando a gente estiver entregando a obra. Só que quando estamos entregando a obra já estamos naquela situação limite do projeto. Então, ela já começa a operar no limite e isso acelera a degradação — explica.
Existe ainda a falta de uma solução definitiva para o problema, como as operações tapa-buracos, que geram custos.
— É um gasto que se acumula. Se para resolver o problema eu gasto 5 hoje, vou lá e gasto 1 para remendar. No ano que vem, eu tenho que gastar 1 de novo. Então, em 5 anos, eu gastei os 5 que eu gastaria para resolver o problema e eu sigo com o problema — exemplifica Susin.
No caso da Serra, existe ainda o inverno, que contribui muito para o surgimento de problemas. Na avaliação do engenheiro, o volume de chuva de maio foi fora do comum.
— O Estado precisa colocar um valor maior na engenharia. Temos que usar a engenharia não só para obras novas. Temos que usar para manter funcional e operante o que já existe.