A partir de dezembro deste ano, a prefeitura de Caxias do Sul pretende iniciar a retirada de 40 famílias da Vila Sapo. Essas pessoas moram em uma área de risco, no entorno de um trecho conhecido como Valão, às margens da Rua Olinda Blauth, no bairro Serrano. O novo endereço será no Loteamento Morada do Vale, no bairro Oriental, zona sul de Caxias, onde 140 lotes foram comprados — a assinatura ocorreu na última sexta-feira (5). A partir de então, a Secretaria Municipal de Urbanismo dá inicio ao planejamento do cronograma de obras para, em seguida, começar o assentamento das famílias.
O secretário municipal de Habitação, Volmir João Moschen, afirma que o planejamento incluiu licitação para a construção das moradias, que devem ser de alvenaria. Os moradores serão contatados antes de cada remoção:
—Vale ressaltar que a secretaria já efetuou levantamento sócioeconômico, mas, antes das remoções, haverá novamente contato direto com cada família. Iremos preparar a remoção com cautela e respeitando o tempo de cada família. Iremos conversar com todos. Cada caso será analisado.
No local onde ficam atualmente essas 40 casas, a prefeitura planeja fazer obras de saneamento, que não foram detalhadas por Moschen mas que são para sanar problemas de alagamentos e invasões. Em uma segunda etapa, sem previsão de data, o secretário ressalta que outros moradores devem ser retirados de outras áreas de risco. A quantidade de pessoas que permanecerão não foi divulgada.
Recordação da tragédia
O morador Cleverson de Góis, 31 anos, está na fila para receber uma casa nova. Ele mora na Vila Sapo desde 2008 e foi um dos vizinhos que tentaram salvar os irmãos Maiquel, 17, Mateus, 12, e Mariele, 3, mortos carbonizados após um incêndio que atingiu 20 casas em agosto de 2012. As casas pegaram fogo por conta de uma vela acesa porque não havia energia elétrica.
— Eu me lembro ainda daquele dia. Tentamos entrar na casa e tirar as crianças, mas a madeira caiu e trancou eles lá — relembra o homem, que trabalha como entregador de gás.
Sobre o esgoto ainda corre atrás das casas, o morador conta que não há cheiro forte na região porque a água é corrente, mas que constantemente os terrenos estão alagados.
Góis atualmente mora com a esposa, Patrícia, e os filhos Luana, 10, e Eduardo, 7, em um terreno comprado pela família. A casa é de madeira, com dois pisos. A família mora embaixo e um dos irmãos dele, na parte superior. Na frente da casa fica o terreno onde tinha as casas queimadas. Ele conta que, desde a tragédia, nada mais foi construído ali.
— A prefeitura vem roçar todo ano e já colocou terra ali, porque tudo era água. Mas ainda alaga. Na chuva de maio acordamos com a água dentro de casa, batendo na canela. A água subiu até na minha coxa, tivemos que sair de casa e se abrigar na mãe, que mora na rua de trás aqui — afirma o morador.
Na rua sem saída onde ele mora, que não tem denominação, é estrada de chão, com enormes buracos ocasionados pela chuva. As condições são precárias, conforme relatam os próprios moradores. Uma das residentes é a dona Marlene Firmino da Silva, de 84 anos, que mora há 25 no bairro Serrano e gosta do local, mesmo reconhecendo que há problemas com o saneamento e com a chuva.
Desde agosto de 2012, segundo os moradores, eles já tiveram cadastros feitas pela prefeitura e as casas deles receberam placas amarelas com numerações. Agora, aguardam novas orientações sobre a mudança que deve se iniciar em dezembro.