Gramado vive um momento de retomada. Depois de uma baixa por conta da chuva de maio, o município da Região das Hortênsias volta a registrar um movimento maior de turistas e aumento na taxa de ocupação hoteleira. Segundo a secretaria de Turismo, neste fim de semana o índice chega aos 70%. São boas notícias para a cidade que ainda espera retorno completo à normalidade, com melhorias na malha aérea do Estado. Enquanto isso não ocorre, a maior parte dos turistas tem origem no RS, Santa Catarina, Paraná e países vizinhos, como Argentina, Uruguai e Paraguai.
Na sexta-feira (19), a reportagem esteve em Gramado e pôde conferir uma cidade em pleno funcionamento, seja na gastronomia, hotelaria ou atrações turísticas. Pela RS-235, muitos carros e ônibus de excursão, inclusive com identificação de países vizinhos, chegavam. Já no Centro, famílias e casais ocupavam os pontos turísticos, como a Igreja São Pedro e a Rua Coberta. Entre as conversas, o que chamava atenção era a língua espanhola, que misturava-se com os mais diversos sotaques brasileiros.
Como explica o secretário de Turismo de Gramado, Ricardo Reginato, a cidade neste momento está recebendo mais turistas no fim de semana. Isso ocorre por conta do público regional, que historicamente aproveita para visitar as Hortênsias nos sábados e domingos. Durante a semana, a taxa de ocupação fica em cerca de 35%. O que também impulsiona o movimento neste mês são as férias escolares, que atraem turistas de outras regiões do Brasil, como o Sudeste.
— O gaúcho é o que mais visita Gramado. Depois do gaúcho vem o catarinense, depois temos São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O público gaúcho sempre foi o que mais nos visitou, o que acontece é que ele nos visita mais no final de semana. Neste momento estamos com os finais de semana mais movimentados que o meio de semana. Agora, por se tratar de férias de julho, nós temos recebido público de São Paulo, da região Sudeste, que vem de carro também, e do Mercosul — descreve o secretário.
Para comparação, o julho típico em Gramado costuma ter média de ocupação entre 80% e 85%. Neste ano, segundo o Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (Sindtur), a média do mês deve ficar em 40%. Apesar de quase 50% a menos que o registrado no ano passado, por exemplo, a taxa de ocupação é vista com bom olhos pelo setor. Isso porque, em maio, quando a enchente atingiu o Estado, a ocupação foi de apenas 13%.
Segundo o presidente do Sindtur, Claudio Souza, o perfil dos turistas segue o mesmo: gaúchos, seguidos de paulistas e catarinenses. O que acontece, desta vez, é um crescimento da parcela de gaúchos dentro de uma total menor.
— O movimento está concentrado nos finais de semana, com aumento do público do Rio Grande do Sul, seguido por São Paulo e Santa Catarina — detalha.
Movimento lembra a praia
Em uma comparação simples, o lojista Sérgio Leote, 59, acredita que o turismo em Gramado neste momento lembra o do litoral no verão: mais tranquilo nos dias úteis e mais movimentado nos fins de semana. No balcão, à espera de vender casacos pesados assim que esfriar, o empresário observa também que, além do gaúcho, a maior parte dos visitantes que passam pelo Centro é catarinense, paranaense e de países vizinhos. Ele relata que até já foi perguntando sobre casas de câmbio.
— Gramado está mais ou menos semelhante à praia, meio de semana é um pouco fraco, fim de semana o pessoal se libera do seu trabalho. E aí, já vem mais o turista dos outros Estados — analisa Leote.
Em outra loja na área central, ao lado da Rua Coberta, a funcionária Geni Petry, 61, percebe que o turismo melhorou bastante em julho, especialmente na última semana. Ela atendeu turistas de diversos Estados:
— Agora, nas últimas semanas, até está vindo de São Paulo, Brasília, Minas, Paraná... Mas antes, vinha só aqui ao redor, mais de Porto Alegre e de Caxias do Sul. Agora está começando bastante também de Florianópolis, de outras cidades de Santa Catarina. Está retomando aquele movimento do resto do país.
De ônibus ou avião
Mesmo com o impacto na malha aérea, há turistas que utilizam o avião. É o caso dos irmãos Carlos Borghi, 67, e Maria Lúcia Borghi, 70. Eles saíram de São Paulo (SP) na última terça-feira (16), pousaram em Jaguaruna (SC) e chegaram de carro à Serra depois de três horas de viagem. O passeio estava planejado desde janeiro. Os irmãos esperavam pelo frio de julho, mas acabaram pegando uma semana mais quente. Mesmo assim, na primeira vez na Região das Hortênsias, os aposentados aprovaram Gramado. Borghi, por exemplo, adorou o Mini Mundo.
— Está tudo bem, o que vier está bom, né? Só que agora ficamos sem roupa, porque não tem para o calor — diverte-se Maria Lúcia.
Já do Paraná, de viagem que também estava planejada desde o início do ano, o casal de professores Genevaldo Antônio Silva, 64, e Mônica Eposhi, 49, fez a viagem com um ônibus de excursão. Os turistas chegaram na sexta e ficam até segunda (22). Também pela primeira vez na cidade, foram surpreendidos pelo calor.
— Maravilha. Eu estou encantado. É realmente bastante lindo — elogia Silva.
A força da Região das Hortênsias
Em uma das lojas da Vinícola Vista Alegre, o proprietário Antônio Gralha, 36, relata que, se não fosse o impacto nos aeroportos, era para Gramado estar "lotada". Pela experiência no ramo há 11 anos, Gralha acredita que a temporada de verão baterá até as melhores expectativas. Ele lembra que o pós-pandemia, por exemplo, trouxe um momento excelente para a cidade. Além disso, o empresário cita a força especial da Região das Hortênsias:
— Nós, que somos daqui, somos apaixonados. Quem vem para conhecer já vira um novo amor. Tem lugares que tu viaja, conhece uma vez e está top. A galera que vem a Gramado e Canela quer vir de novo.
Uma prova disso estava na própria loja. O empresário atendia uma família do Rio Grande do Norte, que é cliente dele há oito anos. Além da venda de vinhos finos, com produção própria em Flores da Cunha, a vinícola oferece degustação completa com acompanhamento de queijos, salame e geleias.
O atendimento, como é destacado pelo empresário, é um dos diferenciais. E é isso também que o município busca mostrar para todo o Brasil. Além de lembrar que Gramado segue funcionando, o secretário de Turismo, Ricardo Reginato, cita que a prefeitura realiza ações presenciais em outros Estados para divulgar o turismo local. Na cidade, também há promoções para atrair os visitantes.
— Naturalmente, nós temos certeza que, de alguma forma, o turismo é um vetor fundamental para essa reconstrução do Estado — destaca Reginato.