
Na tentativa de reduzir os cancelamentos de voos por conta da neblina, o aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul, passa a contar com um novo procedimento de aproximação para pouso a partir desta quinta-feira (13). Trata-se do RNP AR 1.5, um sistema que opera com rastreamento via satélite, mas precisa da homologação dos órgãos aeronáuticos para ser utilizado. O início das operações ocorre a partir do aumento da demanda com o fechamento do aeroporto de Porto Alegre e foi confirmado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Da sigla Required Navigation Performance ou Performance de Navegação Requerida, o sistema opera com a aeronave seguindo pontos pré-determinados em um mapa. Esse é considerado um procedimento de não-precisão, o que impede pousos com visibilidade próxima a zero. Além disso, tanto a aeronave quanto os pilotos precisam estar aptos a adotá-lo, daí a sigla complementar AR, de autorization required ou autorização requerida. Não há necessidade de instalação de aparelhos no solo.
O RNP é utilizado para facilitar pousos com clima adverso e também em aeroportos com obstáculos no entorno (inclusive relevo) e com grande tráfego aéreo, por exemplo. Por permitir adotar percursos mais diretos de aproximação, também é possível reduzir o consumo de combustível.
Caxias do Sul já utiliza uma modalidade chamada RNP AR 3.0. Essa modalidade possibilita pousos com nuvens a 100 metros de altura e 1,5 mil metros de visibilidade horizontal. Ou seja, a essas distâncias, os pilotos precisam enxergar a pista para concluir o pouso. Com a nova modalidade a ser adotada a partir desta quinta, os mínimos exigidos serão de 80 metros de altura e 1,2 mil metros de visibilidade horizontal. Isso aumenta as chances de pilotos habilitados prosseguirem com o pouso sob tempo fechado.
Nesta quarta-feira (12), técnicos da Anac estarão no aeroporto Hugo Cantergiani. Segundo a agência, a visita tem o objetivo de "prestar apoio e informações técnicas sobre a infraestrutura existente no aeródromo". Também na manhã desta quarta, o complexo recebeu uma aeronave Embraer IU-50, do Grupo Especial de Inspeção em Voo (Geiv), do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). O avião é equipado para medir e inspecionar equipamentos de operação em aeroportos. A aeronave partiu por volta de 8h40min do Rio de Janeiro e pousou em Caxias às 10h40min. No início da tarde, sobrevoou novamente a região por cerca de 1h30min.
Medida possível
A adoção da modalidade mais precisa de RNP é a medida apontada como possível para o terminal caxiense, uma vez que o complexo não comporta a instalação do Instrument Landing System (ILS) ou Sistema de Pouso por Instrumento. Utilizado principalmente em aeroportos com tráfego intenso, o sistema, conhecido como antineblina, consiste em um conjunto de antenas e luzes fixados no solo que emitem sinais de rádio captados pelas aeronaves.
O ILS conta com três modalidades. A categoria I, considerada a menos precisa, exige altura mínima de 60 metros para as nuvens e 550 metros de visibilidade. Especialistas ouvidos pela reportagem, contudo, apontam que, caso houvesse possibilidade técnica, apenas um ILS categoria II — semelhante ao de Porto Alegre — poderia dar mais efetividade à manutenção das operações sob mau tempo. Essa versão exige nuvens com 30 metros de altura e visibilidade de 300 metros.
— Penso que o categoria I não iria mexer muito, porque para manter o aeroporto do jeito que são os nossos nevoeiros, teria que ser um categoria II já — avalia Jared Jost, professor de Regulamentos de Tráfego Aéreo do curso de Ciências Aeronáuticas da Uniftec.
A prefeitura de Caxias também está encaminhando a compra de um Indicador de Percurso de Aproximação de Precisão ou Precision Approach Path Indicator (Papi). O sistema consiste em um conjunto de luzes instaladas ao lado da pista, mas auxilia somente os pousos realizados sob condições visuais.