Um relatório apresentado nesta terça-feira (11) por pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (SGB) aponta 11 ações que podem ser realizadas para a redução de riscos na comunidade da Barragem do Salto, em São Francisco de Paula. Na metade de maio, cerca de 20 pessoas foram evacuadas da região após o surgimento de rachaduras, deslizamentos e o risco de desmoronamento de uma encosta de 60 metros que está às margens do reservatório da usina.
Entre as sugestões do estudo estão a de esperar por um período de estiagem para que a população possa retornar para casa, avaliações das estruturas próximas as trincas que surgiram e monitoramento diário destes terrenos. Todas são para serem seguidas a curto prazo (confira a lista completa no fim da matéria).
A prefeitura de São Francisco de Paula afirma que realizará na íntegra aquilo que é de responsabilidade do município — a Barragem do Salto é administrada pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). O prefeito Marcos Aguzzolli lembra que ações mitigatórias já estão em andamento, especialmente nas rachaduras. As fissuras apareceram em pontos como a Avenida Eletra e arredores.
— Fizemos uma espécie de tamponamento. Cimentamos com cimento mole para entrar bem nas fissuras, para evitar que mais água descesse em caso de chuva e entrasse nas rachaduras. É uma ação para preservar, para que em caso de chuva não venha a ser mais encharcado, para evitar de jogar mais peso naquele solo e evitar que ele venha a deslizar — explica o prefeito.
O prefeito reforça que a barragem não apresenta risco de colapso. Ele lembra que uma das preocupações é de que a encosta próxima à barragem ceda e caia no reservatório. O temor é de que uma onda seja gerada neste movimento. Como esclarece Aguzzoli, estudos recentes mostram que duas das rachaduras dessa região, próximas a essa encosta, não estão interligadas, o que reduz as chances deste deslizamento. Mas, o risco não está completamente descartado.
— Foi feito esse primeiro (relatório) e ainda precisa mais estudos — afirma Aguzzolli.
Moradores seguem fora de casa
Com as ações mitigatórias e os estudos em andamento, os moradores da comunidade do Salto ainda não podem retornar para casa. A prefeitura disponibilizou o Centro do Idoso de São Francisco de Paula como abrigo, mas os habitantes preferiram ir para outros lugares. Ao mesmo tempo, as aulas seguem suspensas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino Ramos, que fica na região.
O prefeito explica que o relatório dá o entendimento de que os alunos podem voltar a frequentar a escola. Porém, a definição deve ser feita pela 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE). A reportagem questionou a pasta e a matéria será atualizada quando houver resposta.
— O relatório que chegou para nós, no nosso entender, no entender da Secretaria do Meio Ambiente, é de que as aulas poderiam ser recomeçadas. Mas, isso depende da 4ª CRE. O relatório foi enviado a eles. É uma questão deles analisar — informa o prefeito de São Francisco de Paula.
Mesmo se o retorno for confirmado, o prefeito comenta que adaptações precisarão ser feitas de igual. Uma delas é a limitação da passagem para veículos pesados, por conta das condições do solo.
Prefeito cobra concessionária
Dentre as ações mitigatórias sugeridas, a criação de sistema de alerta à população residente no local é de responsabilidade da CEEE, de acordo com o prefeito Marcos Aguzzolli. O chefe do Executivo declara ainda que todo o entorno da barragem tem que ser fiscalizado pela concessionária.
— A companhia deveria fiscalizar o entorno. Afinal de contas, a responsável pelo entorno das barragens é ela. E, nesse momento, que acaba tudo isso, quem tem que ir atrás das soluções, atrás de tudo, não é a concessionária, é o prefeito, é a prefeitura, é o município. Tipo assim, na hora do bom, a concessionária fica, é dela, e na hora do problema, é o município que tem que resolver — declara Aguzzoli.
Em nota, a CEEE informou que "as rachaduras e trincas surgiram em edificações particulares e em vias públicas localizadas numa encosta nas proximidades da barragem do Salto, da localidade de Eletra. A Prefeitura de São Francisco de Paula está conduzindo a avaliação sobre a estabilidade do solo na região e realizando as medidas indicadas. A CEEE Geração está apoiando a prefeitura com estudos complementares e mantém contato constante com as autoridades. A barragem do Salto encontra-se íntegra e dentro de seus parâmetros normais de operação. Até que seja concluída avaliação sobre a estabilidade da encosta, de forma preventiva e em coordenação com a Defesa Civil, a barragem continuará em estado de emergência".
Ações sugeridas
O relatório sugere quatro ações a curto prazo. Entre elas, a de espera para que os residentes da área do Salto possam retornar para casa. Confira abaixo as medidas sugeridas pelo estudo do Serviço Geológico do Brasil (SGB).
Medidas a curto prazo
- Monitoramento diário das trincas de movimentação. As rachaduras já abertas são condutoras de água de novas chuvas. Se novas chuvas de grande volume ocorrerem nos próximos meses, é esperado que novos movimentos ocorram;
- Aguardar período de tempo de estiagem para realizar o retorno da população residente no entorno das áreas críticas;
- Avaliação por especialista para verificar as condições estruturais das casas e prédios próximos aos deslizamentos e trincas que ocorreram;
- Avaliação de especialista para verificar as condições dos sistemas de drenagem e águas servidas nas ruas avaliadas, com o fim de verificar a existência de pontos de acúmulo de água nos sistemas.
Medidas mitigatórias
- Monitoramento constante da região. Problemas com movimentos de massa podem ser recorrentes, principalmente em períodos de chuvas de grandes volumes ou chuvas estacionárias;
- Criação de sistemas de alerta à população residente no local, frente a períodos de grandes chuvas, e promoção de simulados de evacuação;
- Avaliação, por empresa especializada em geotecnia, de viabilidade técnica e econômica da execução de obras de contenção nos locais onde ocorreram deslizamentos próximos às residências.
- Avaliação de viabilidade técnica e econômica da execução de obras de drenagem que busquem reduzir os pontos de surgência de água na encosta e encaminhamento correto das águas das chuvas de forma que se evite o super saturamento do solo;
- Criação de políticas públicas para redução das ocupações das áreas descritas a fim de evitar a formação de novas áreas de risco;
- Ações de educação ambiental e de percepção de risco para os moradores destas áreas e formação de líderes comunitários que possam ajudar e orientar a população local em conjunto com a defesa civil municipal;
- Realização do mapeamento das áreas de risco em São Francisco de Paula. Uma nova avaliação se torna essencial para detectar possíveis novas áreas de risco, similares às examinadas, e reavaliar aquelas já identificadas, especialmente em relação ao nível de perigo que representam.