Moradora do bairro Piratini, em Gramado, há 40 anos, Marli Tomazi, 53 anos, teve que deixar sua residência na Rua Henrique Bertolucci na última quinta-feira (2). O asfalto começou a ceder em virtude da infiltração de água no solo. Ao todo, ela morava com mais oito pessoas da família em duas casas que dividiam o mesmo terreno.
— Saímos todos. Eu, meus três filhos, nora e neto. Na outra casa, moravam meu irmão, que é deficiente, meu ex-cunhado e meu ex-marido. Nunca imaginámos que poderia acontecer algo parecido. Quando vimos, as lajotas estavam desgrudando das paredes — conta Marli.
Em área de encosta, o Piratini, popularmente chamado de Baixada, é um dos bairros mais populosos e antigos de Gramado. Na manhã deste sábado (4), moradores tentavam retirar às pressas alguns pertences pessoais. O solo continua cedendo e estalos em edificações eram escutados a todo instante.
— Estou alojada numa sala comercial, que é do meu irmão. Estamos procurando um outro local para morar. Eu cuido do meu irmão deficiente. Temos que encontrar uma casa para se estabelecer. Não vai mais ter como voltar tão cedo — diz.
Os números oficiais de residências evacuadas no bairro não foram divulgados pelo Gabinete de Gerenciamento de Crise. No entanto, a fenda no solo atingiu três ruas que ficam uma paralela a outra. Na parte superior do morro, está a Henrique Bertolucci, um dos principais acessos ao bairro. Abaixo, fica a Rua Afonso Oberherr, que teve todas as casas evacuadas e, na parte mais inferior, está a Rua Guilherme Dal-ri, que também teve praticamente todas as residências desocupadas. Nesta, duas residências já caíram.
Conforme o Gabinete de Crise de Gramado, são monitorados 48 pontos da cidade pelas secretarias de Meio Ambiente, Planejamento e Governança.
— As chuvas aumentaram. Entre ontem (quinta) e hoje (sexta), a gente teve 480 milímetros de chuva. É muito para um período curto. Tivemos um aumento de 21 pontos em que a gente passou a monitorar por causa dos deslizamentos. Nossa principal atenção neste momento está voltada para a região do Piratini e Altos da Viação Férrea, na Várzea Grande — afirma a secretária de Meio Ambiente, Cristiane Bandeira da Silva.