A Estrada José Novello, em Vila Cristina, segue sem previsão de solução. O trecho que liga a comunidade de Viva Maria à área central de Vila Cristina, no interior de Caxias do Sul, está interditado desde 2022. Por conta disso, a prefeitura não pode realizar consertos em um trecho de 500 metros que cedeu. Há um projeto de revitalização, com prazo de início das obras indefinido. Enquanto isso, as 15 famílias moradoras da comunidade precisam colocar as próprias máquinas para restaurar a estrada, que é de chão, tem dois metros e meio de largura e permite a passagem de apenas um veículo pequeno por vez.
Em junho de 2022 houve a cedência de parte da estrada. Em agosto uma equipe da prefeitura decretou a interdição do trajeto. Desde então, há sinalização de trecho interditado e a orientação é de que as pessoas desviem por Galópolis, passando de dois para 30 quilômetros de distância para chegar ao centro de Vila Cristina.
Mesmo interditada, a José Novello continua servindo como a principal passagem entre Viva Maria e a área central de Vila Cristina. O casal Daniela Paula de Oliveira Knach, 27 anos, e Charles Knach, 48, tem três filhas, de 11 e cinco anos e uma menina recém-nascida. A família precisa passar diariamente pela estrada para ir até a Unidade Básica de Saúde (UBS), fazer compras de itens básicos para a casa e levar as duas filhas mais velhas para a escola.
— Pela estrada, em dois quilômetros temos acesso a todas as estruturas que precisamos. Se formos por Galópolis, onde a prefeitura orienta, são 30 quilômetros. Em uma emergência como que vou andar 30 quilômetros? Ao mesmo tempo é perigoso passar aqui, é estreito e tem grandes pedras do lado de cima da estrada — descreve a moradora.
Além de moradores, há produção de frutas cítricas na comunidade. O produtor Carlos Dallegrave, 61, está há três safras transportando as frutas da propriedade pelo caminho interditado. Ele utiliza em um carretão, veículo muito comum nas propriedades rurais, para depois transpor para o caminhão que aguarda na margem da BR-116 e faz a entrega aos compradores.
— É vergonhoso, são dois anos e não fizeram nada. Nós só pedimos uma estrada para trabalhar. Por enquanto, até sair o projeto que envolve estudos ambientais e tudo mais, seria necessário medidas que permitissem a nossa passagem. Aqui tem produtores, gente que trabalha nas empresas da cidade, que vai para a escola e não tem como ficar com uma estrada assim — afirma Dallegrave.
Ivo Paniz, 64, produz uvas e outras frutas há 50 anos. Ele vive a mesma situação de Dallegrave. Por isso, eles e outros produtores se reuniram para arrumar por conta própria a estrada. Devido à chuva que atingiu Vila Cristina em maio, barreiras também caíram pela José Novello. Os produtores precisaram desobstruir a via, fazer a limpeza da vegetação que caiu, colocar cascalho e assentar as pedras.
— Eu, por exemplo, produzo mais de 300 quilos de uva por safra. Como que vou transitar 30 quilômetros a mais? Pensa o prejuízo que isso vai dar. Então, quando pedimos para a subprefeitura limpar e recebemos um não como resposta, nós mesmos fizemos e arriscamos nossa vida passando por aqui, mas é o jeito. Como que eles só interditam a estrada e não resolvem a questão? — questiona o produtor rural.
Moradores de Caxias do Sul também têm chácaras na Viva Maria. A família do policial militar Jackson Cardoso tem uma casa no topo do morro há 17 anos. Segundo ele, a estrada nunca esteve nas condições precárias que se encontra atualmente.
— Precisamos que a prefeitura saia da esfera do tal estudo, e haja, pois agricultores estão colocando as próprias vidas em risco, escoando a produção à beira de um precipício. Chama atenção também a prefeitura ter feito um financiamento de R$ 40 milhões e essa estrada não ter aparecido entre as vias que serão recuperadas. Agora, após a chuva estão sendo mapeados os pontos que sofreram impactos climáticos e também a estrada não aparece mapeada — ressalta Cardoso.
O que diz a prefeitura
A prefeitura de Caxias do Sul, por meio da assessoria da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (SMOSP), destacou que a licença ambiental e os projetos para a revitalização da estrada já estão finalizados. Agora, está em fase final do Termo de Referência para iniciar o processo licitatório. A resposta do poder público é de que "o Termo de Referência deve ser finalizado em torno de 60 dias. Aí depois pode se dar início ao processo licitatório. Ali tem que ser feito o retaludamento da encosta, alargamento viário e ajuste do greide. O projeto tem um valor estimado em R$340 mil."
Segundo a prefeitura, "a única alternativa que ofereça segurança às pessoas, por enquanto, é o acesso pela 4ª Légua ou por Galópolis. O trecho onde houve o deslizamento de terra e o estreitamento da pista é altamente perigoso e não tem nenhuma medida paliativa que possa ser feita."
Não há uma data definida para a conclusão da revitalização da estrada.