Centenas de pessoas acompanharam a encenação da Via Sacra no Parque de Eventos da Festa da Uva na manhã desta Sexta-Feira Santa (29), em Caxias do Sul. Emocionados, os fiéis acompanharam atentamente cada uma das 14 passagens que revivem os últimos momentos de Cristo antes da crucificação. A encenação começou na escadaria que leva ao Monumento Jesus Terceiro Milênio pouco depois das 9h10min.
A celebração foi encenada por cerca de 30 jovens da Juventude da Diocese de Caxias do Sul. O grupo percorreu as estações da Via-Sacra, que se iniciam na condenação de Jesus até a morte na cruz e sepultamento.
Sentada em um dos degraus, Kellyn Finger da Costa, 39 anos, alimentava o filho caçula Gabriel, de quatro meses. Ela também estava com a filha Manuela, seis, e o esposo Cléber para assistir:
— É emocionante acompanhar a encenação. É um dia em oração e que nos leva a refletir sobre a vida.
No topo da escada, pouco antes do momento da crucificação, Rosângela Santos de Lima, 59, chorava:
— É a primeira vez que vim assistir e tudo o que presenciei aqui hoje me tocou profundamente.
No momento, em que na encenação, Jesus na cruz, diz que entregaria o espírito ao Pai, as lágrimas do público eram ainda mais visíveis.
— Senti como se estivesse na Cruz com Jesus, é como se sentisse toda a dor que Cristo sentiu e dói muito —emociona-se Tainara Zanotto, 24.
O namorado dela, Mateus Santos, 26, também estava emocionado:
— Senti uma tristeza profunda por tudo o que Jesus passou.
Com os olhos fechados em oração, os fiéis oravam e refletiam sobre o significado da Sexta-Feira da Paixão ao som do clássico católico Ninguém te Ama como Eu.
Emoção também entre o grupo de atores da Via Sacra
O grupo que encenou a Via Sacra ensaiou por cinco domingos, desde 18 de fevereiro. Nesta sexta, logo cedo se reuniram no Parque da Festa da Uva para o último ensaio. Pouco antes das 9h, Fábio Venâncio Miranda, 40, se preparava para interpretar Jesus Cristo pela primeira vez:
— O sentimento é difícil de explicar porque é muito tocante, é muito forte e, de tudo que a gente medita até chegar aqui para tentar fazer o melhor, vejo que eu não seria nem digno de estar aqui. Sou grato porque é realmente fabuloso poder fazer o papel daquele que tanto nos ama.
Já Jorge Luiz Ferro de Guimarães, 48, que já interpretou Pedro, dessa vez encenou Pôncio Pilatos.
— Dessa vez eu estou entregando Jesus à crucificação, então, é uma emoção diferente porque eu sinto na pele o peso e até mesmo culpa. Refleti sobre o personagem e ele é um político que faz o que o povo quer, e o povo quer a crucificação — analise ele.
Maria, mãe de Jesus, foi encenada por Andressa Rodrigues Cunha, 26, que estreou na Via Sacra.
Fé e doação
O ato nos Pavilhões começou com bênção do bispo Dom José Gislon. Ele comemorou a presença das crianças e pediu aos pais que cuidem da espiritualidade da família:
— A vida não é só matéria, ela é espírito, é preciso cuidar da vida espiritual das famílias e das crianças. Hoje lembramos do mal do mundo, que fere e faz a humanidade chorar. Mas celebramos o gesto de amor de Jesus. Esse gesto não foi para louvar a morte e sim para valorizar a vida. Foi um ato de amor por cada um de nós.
O momento de oração foi conduzido pelo padre Gustavo Predebon e pelo pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, padre Anesio Ferla. Predebon destaca a história da Via-Sacra preparada com dedicação e carinho pelos jovens anualmente.
— É sempre um momento em que a gente vai se identificando com a caminhada de Jesus e nós, cristãos, vamos também renovando a nossa fé, confiando no amor de Deus, que nos ama e está do nosso lado. Também é um momento de mobilizar os nossos grupos jovens e reunir nossas comunidades — afirma o pároco.
A reflexão desse ano foi voltada à Campanha da Fraternidade que tem como tema Fraternidade e Amizade Social e o lema Vós sois todos irmãos e irmãs. Para contextualizar o conceito da amizade social, os atores encenaram cenas da parábola do Bom Samaritano. Por isso o público foi convidado a doar alimentos não perecíveis e produtos de higiene pessoal que serão destinados a famílias atendidas pelas paróquias da zona norte da cidade.