Os desfiles da Festa da Uva de Caxias do Sul são um sucesso na edição de 2024 — tanto que os ingressos para as arquibancadas estão esgotados. As repórteres da RBS TV Michelle Pértile e Gabriela Garcia foram convidadas a participar do corso alegórico como figurantes na comunidade de Santa Lúcia do Piaí. Elas desfilaram na ala dos Distritos.
Ambas participaram pela primeira vez do corso e contaram um pouquinho sobre a atração na Rua Sinimbu. O próximo desfile ocorre neste domingo (25):
A emoção da Gabriela Garcia
"Demorei a pegar no sono. A adrenalina ainda estava correndo pelo corpo após uma noite mágica no Centro de Caxias do Sul. Como alguém "de fora", que veio da região metropolitana do Estado, não posso deixar de pensar na generosidade das pessoas que me convidaram para ser parte do desfile cênico-musical da Festa da Uva. Uma semana antes da grande apresentação, fiz uma entrada ao vivo no Jornal do Almoço. Estávamos com um grupo do distrito de Santa Lúcia do Piaí para anunciar o início dos desfiles. Após a última entrada na TV, o clima estava tão bacana que eles perguntaram: "tu não queres desfilar com a gente?".
Convites assim não acontecem com frequência. Por óbvio, aceitei, e ainda convidei a Michelle para se juntar a mim. Os amigos de Santa Lúcia levaram roupas típicas e adereços para vestirmos. Eu, que cresci em uma família de origem alemã, me senti uma verdadeira descendente de imigrantes italianos. Mais do que já me sinto naturalmente, por uma questão de identificação e afeto com as pessoas e com a região. Demorei um pouquinho até começar a abanar para o público. Quando a gente é alvo de tantos olhares, sente certa timidez. Mas tão logo pensei isso, deixei a emoção tomar conta. Quando percebi, estava sem fôlego de tanto dançar, cantar e abanar. Meu chapéu de palha voou com o vento quando cheguei em frente à arquibancada. Consegui recuperá-lo, assim como o fôlego.
Mas a sensação de estar com aquelas pessoas, naquele momento tão simbólico para o distrito, vai ficar para sempre na minha recordação. Assim como a amorosidade, a delicadeza e a alegria dos envolvidos nesse momento. No fim, um convite despretensioso durante um dia de trabalho se tornou uma aventura para recordar para sempre. Por isso, registro aqui minha gratidão ao distrito de Santa Lúcia do Piaí. Sou grata também às centenas de pessoas que tornam esse espetáculo possível, ao ocuparem a arquibancada ou se aconchegarem nas calçadas, com sorriso no rosto e mão no ar, acenando para os figurantes. É uma troca linda, que só a Festa da Uva e uma região como a Serra podem nos proporcionar."
A felicidade da Michelle Pértile
"Sou descendente de imigrantes italianos, então a história do povo que é da Serra se entrelaça com a minha. Quando recebi o convite da minha amiga e colega Gabriela para desfilar, não pensei duas vezes. É claro que a resposta era sim. Apesar de viver a cultura, nunca tinha parado para celebrá-la. E é isso que é tão lindo nos caxienses, eles comemoram aquilo que são.
Antes mesmo de começar, o desfile já se mostra encantador. Enquanto a gente se arruma, várias pessoas se oferecem para ajudar. É também uma atenção ímpar por ouvir, quem está ali se importa com seu grupo, quer saber como está e o que tem para contar. Quando o corso começa a andar, o coração bate mais forte e o sentimento é de como estar entrando em um grande palco, onde a celebração é a existência. Em cada adereço, dança e música, está a história de todos que vieram antes da gente. Santa Lúcia do Piaí é uma comunidade marcada pela cultura italiana e pelo trabalho no campo. A simplicidade e humildade são sinônimos daquelas pessoas. A cada passo que dávamos em direção à Praça Dante Alighieri, íamos nos sentindo mais parte daquele povo e a responsabilidade de representar tanta gente ia aumentando.
São cerca de 40 minutos de dança e de interação com o público, dos preparativos ao fim do desfile, então cansa. É necessário disposição, mesmo que toda a energia gasta seja retribuída pelos aplausos e sorrisos das pessoas que se espreitam nas calçadas para assistir. Todo esse cansaço, porém, desaparece ao chegar em frente as arquibancadas. As luzes iluminando o grupo, que canta e dança sem parar, a narradora falando o nome e a história da comunidade, tudo isso é uma recompensa pelo caminho trilhado. Os olhos enchem de lágrimas e o pensamento é: que bom que estamos aqui, não queria estar em nenhum outro lugar do mundo agora."