Cinco dias após o caso do menino de dois anos que foi encontrado no banco de trás de um carro de aplicativo em Caxias do Sul, a mãe da criança procurou a reportagem para dar a sua versão. Isso porque ela alega que a forma como o caso foi tratado não condiz com o que de fato aconteceu. Segundo a mulher, de 27 anos, não houve esquecimento.
A mãe do menino*, e também de uma menina de 6 anos que estava na mesma corrida quando voltavam de uma festa de aniversário de 15 anos, alega que teria alertado o motorista que voltaria ao veículo - estacionado em frente à casa - para buscar o menino de dois anos de idade, que estava no banco de trás. Isso porque, segundo ela, o menino sofre de asma e não pode pegar frio, razão pela qual primeiro ela abriria o portão e entraria em casa com os pertences primeiro.
- Quando saí do carro eu falei: “já volto para pegar o meu pequeno”, e ele disse “tá bom". Mas quando voltei, ele já havia arrancado o carro e estava a uns cinco metros de distância. Eu corri gritando “devolve o meu filho!”, cheguei a acordar os vizinhos, mas ele não ouviu. Pode ter sido um mal-entendido, acho que não foi por querer, mas ao dar entrevistas ele (o motorista) não mencionou essa parte. Por isso parece que eu esqueci o meu filho, mas isso jamais iria acontecer - relata.
Os momentos seguintes foram de tentativas de localizar o motorista, mobilizando um tio do menino que trabalha na Guarda Municipal, que então fez contato com a Brigada Militar, que por sua vez encontrou Jandir -que já havia chegado em casa e deparado com o menino no banco de trás do veículo, indo então até a casa para devolver a criança.
O que parece ter sido um mal-entendido entre ambos pode ter acontecido quando a mãe, antes de descer do automóvel, falou algo como “já que tu acordou, vamos descer”. Tanto a mulher quanto o motorista recordam dessa fala, porém, o motorista diz ter achado que ela se referia ao menino de dois anos, e por isso acreditou que todos tinham descido do carro. A mãe diz que a fala foi dirigida à filha.
Versões diferentes
Outro ponto em que a mulher e o motorista discordam é quanto ao tempo que o motorista teria ficado com o veículo parado em frente a casa, enquanto ela abria o portão e entrava na residência. O motorista diz ter ficado cerca de cinco minutos, tempo em que chegou a recusar uma corrida e aproveitou para contar os ganhos do dia. A mãe diz que o tempo foi menor.
A mãe comenta que a repercussão do caso foi muito pesada para ela, principalmente em comentários nas redes sociais, mesmo sem que ela fosse identificada. Pessoas que a conhecem, no entanto, também teriam considerado que ela tivesse culpa no caso, pela forma como foi relatado pelo motorista e pelo tratamento na mídia:
- A história saiu em todos os jornais, na TV, sites. Foi muito triste ver muitos comentários me culpando, sem ninguém querer ouvir o lado da pessoa que sofreu*. É importante que as pessoas saibam que não foi uma mãe que estava bêbada, como li em alguns comentários, mas sim uma mãe que estava preocupada o tempo todo com o filho que tem asma e já foi internado muitas vezes.
O que diz o motorista
Após conversar com a mãe do menino, a reportagem voltou a entrevistar Jandir Valmor Maia, o motorista do carro de aplicativo. O homem nega que a mulher tenha dito que voltaria após sair do carro. Segundo ele, a última fala foi aquela em que ele entendeu que a mãe se referia ao menino já ter acordado, e por isso ela sairia com ele também no colo.
- Nós estávamos no Centro ainda quando ela disse que ia deixar a criança (menor) dentro do carro. Mas quando chegamos na frente da casa ela falou aquilo: “tu já acordou, vamos sair”, e isso foi a última coisa que ouvi. Pra mim os três tinham saído. Mas ela não me disse que iria voltar. Simplesmente pegou e saiu. Eu ainda fiquei parado cinco minutos, recusei a corrida seguinte e fiquei contando os ganhos do dia. Só depois disso desliguei o aplicativo e arranquei pra ir pra casa - alega Jandir.
A Brigada Militar chegou a fazer o registro da ocorrência, que não foi encaminhado à Polícia Civil.
* A mulher não está sendo identificada em cumprimento ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
* A reportagem do Pioneiro/GZH não havia conseguido contato com a família da criança até então.