Um rapaz tranquilo, de fácil aprendizado e que se interessava por música, eletrônicos e teorias do espaço sideral. Assim é a lembrança de quem conviveu com Brian Grandi, 20 anos, encontrado morto no final da madrugada desta quinta-feira (23) em uma praia do município de Passo de Torres, no litoral catarinense.
O caxiense estava desaparecido desde que a ponte pênsil entre Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, e Passo de Torres, em Santa Catarina, virou e derrubou dezenas de pessoas na água, na madrugada da última segunda-feira (20). O velório começa nesta quinta (23) à noite, na Funerária Serpax, em Torres, e o enterro é nesta sexta (24), às 10h, no Cemitério Campo Bonito, também em Torres.
Fabrício Feiten, 23 anos, amigo de Brian, chegou na quarta-feira (22) a Torres para acompanhar as buscas. Assim como os familiares, Feiten alimentava esperanças de encontrar o amigo bem, mas foi surpreendido quando o corpo foi encontrado na beira da Praia Azul, em Passo de Torres, a cerca de cinco quilômetros da ponte pênsil.
Marceneiro e morador do bairro Bom Pastor, Feiten conheceu Brian em 2019 por ter amigos em comum. Chegou a morar junto com ele por alguns meses no bairro Rio Branco. Foi nesse período que se aproximou de uma pessoa que definiu como "muito gente boa":
— Vimos que tínhamos muitas coisas em comum, íamos para todo lugar junto, caminhávamos por Caxias sempre conversando e contando histórias. Ele gostava de eletrônicos, computador, celular, games. Gostava de falar sobre o espaço.
Feiten viu o amigo pela última vez em novembro do ano passado, antes de ele ir para Torres, onde morava atualmente com a mãe. Os planos eram de visitar Brian durante o Carnaval, mas acabaram não dando certo.
— Era pra vir com minha namorada e outros amigos passar o Carnaval, estávamos planejando desde dezembro, mas não deu certo.
Brian estudou até o 9º ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Santa Corona, no bairro onde morava com a família. Por lá deixou nos professores a lembrança de ser um aluno interessado e de fácil aprendizado. Professor de História, Nicolas Meneghetti de Pieri lembra do interesse dele por jogos e da personalidade tímida que não o prejudicavam em sala de aula:
— Era introvertido, mais quieto e se dava bem com todo mundo. Era muito inteligente. Se fosse avaliar a parte escrita, era onde tinha mais dificuldade, mas sustentava a aprendizagem nas relações que estabelecia. Escutava tudo com bastante interesse.
Mabel Echer deu aulas de informática para Brian e lembra do interesse do aluno por música:
— Muitas vezes era preciso chamar a atenção dele porque ele desenha guitarras por tudo. Passava a aula desenhando guitarras nos cadernos.
"Era uma versão mais nova de mim", diz tio
A morte precoce de Brian Grandi não será superada tão facilmente por quem conviveu por anos com o garoto, inclusive dividindo a mesma cama. O tio, o tatuador Ériton Jung Alves, 25 anos, recebeu o jovem em casa até dezembro do ano passado, quando Brian foi morar em definitivo no Litoral Norte. Durante o período em que tio e sobrinho moraram juntos, foram construídas as principais memórias que agora ficarão para sempre no coração de Alves.
— Ele morava comigo e dormia nos meus pés porque ainda não tínhamos cama para ele. Quando compramos um colchão, tirávamos na sorte quem ficaria com a cama. Dividíamos tudo e nos espelhávamos um no outro, passávamos horas ouvindo Guns N'Roses e Raul Seixas, falando de astronomia, que era, junto com a música e computador, a coisa que ele mais gostava — relatou Alves.
A personalidade tranquila de Brian e o que um ensinou ao outro também foram lembrados pelo tio.
— Ele era muito, muito calmo, qualquer situação estressante era o primeiro a falar para que as pessoas relaxassem. Eu o ensinei a dirigir e ele me ensinou a tocar guitarra. Em resumo, era uma versão mais nova de mim, então é muito difícil — disse.
Relembre o caso
Brian estava desaparecido desde que a ponte pênsil entre Torres, no litoral norte do Rio Grande do Sul, e Passo de Torres, em Santa Catarina, virou e derrubou dezenas de pessoas na água, na madrugada da última segunda-feira (20).
O jovem estava com o seu celular e havia enviado fotos e mensagens da festa de Carnaval, em que estava com os amigos, para a família. Segundo a mãe, Cristiane dos Santos, 38 anos, o grupo estava de carro, em Passo de Torres, e seu filho de bicicleta. O veículo havia ficado perto da travessia, ainda no território de Torres, o que obrigou que Brian tivesse que atravessar a ponte para buscar a bicicleta. A ideia era encontrar os amigos em uma praça depois.
Depois que a estrutura virou, Brian não recebeu mais as mensagens enviadas pela mãe. A bicicleta dele foi localizada por Cristiane nas proximidades do local.
O delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso, responsável pela investigação, confirmou que o rastreamento do celular de Brian registrou a última localização na região da ponte perto do horário do acidente (2h21min de segunda-feira). A pesquisa foi possível através do e-mail da mãe, que estava vinculado ao telefone.