Já foi até tema de Carnaval: "se Caxias tiver mar, eu não vou mais reclamar". A composição do Bloco da Ovelha — "Caxias do Mar: Maresia e Cerração" — foi lançada há alguns anos, mas continua sendo sucesso entre os foliões caxienses que se identificam com a letra por saberem da falta que um refrescante mergulho pode fazer nos dias mais quentes do verão serrano.
Dona Fátima de Paula Camargo, 55, sabe. Há quatro décadas ela mora na Zona Norte de Caxias do Sul, se diz uma das primeiras do Loteamento Pôr do Sol, no bairro Santa Fé e, nos dias em que os termômetros atingem a casa dos trinta e poucos graus na cidade, é nos fundos de casa que ela encontra alternativas para a família se refrescar. É assim desde que as quatro filhas eram crianças e, agora, a história se repete com as 10 netas que se revezam em visitas à casa da matriarca. No dia 7 de janeiro, a neta de oito anos, Sophia Camargo Bernardi, se divertiu no pátio da avó.
— A gente já teve uma piscina de montar, mas acabou estragando, porque era muita gente, e não teve mais conserto. Outro dia as meninas estavam aqui, esquentou muito e elas usaram uma caixa d'água que estava sobrando em cima da casa. Encheram de água e usaram isso para brincar de se molhar — relata Fátima.
A moradora relata falta de opção na região onde vive e a dificuldade de acesso a locais que ofereçam espaços para banho, como balneários, normalmente localizados em áreas menos urbanizadas. Neste caso, há a barreira do transporte e a própria cobrança de ingresso. Mesmo quando o custo é baixo, para uma família numerosa, que vive com baixa renda, o valor pode pesar no orçamento.
— Aqui é difícil porque fica longe e a gente leva quase um mês inteiro arrumando um dinheirinho, poupando, para ir para um camping ou balneário. Tem que trabalhar duro para conseguir. Um dá dez (reais), outro dá vinte, outro bota a carne, e assim vamos juntando — conta a matriarca, que mora com o marido e trabalha com serviços gerais, sem emprego fixo.
Quando o calor "aperta", alguns moradores da cidade acabam por ignorar os avisos de perigo, acessando, sem medo, os reservatórios para abastecimento de água. Um número que está maior do que o total registrado no verão passado, se consideradas as abordagens realizadas pela Operação Verão Seguro. Segundo o Samae, desde o início da operação, em 6 de dezembro de 2022, 1.218 indivíduos já foram orientados, sendo que na edição anterior, da temporada 2021/2022, este número chegou a 1.127.
A operação, que está na 16ª edição, é realizada em parceria com a Guarda Municipal (GM), o 5º Batalhão de Bombeiro Militar (5º BBM) e o Batalhão de Polícia Ambiental (Patram), e tem como foco o Complexo Dal Bó, localizado no bairro Fátima, e a Maestra, no Santa Fé. Segundo a empresa, dentre as cinco represas pelas quais é responsável em Caxias do Sul, estas duas são as mais procuradas.
A proibição de tomar banho nas barragens está na Lei Complementar nº 246, de 6 de dezembro de 2005, motivada pelos riscos que a atividade representa. Apesar disso, somente na última semana, 25 pessoas foram abordadas. Na semana anterior, 130.
— Pela falta de opções, as pessoas procuram locais de banho que não têm estrutura, como pessoas especializadas que possam prestar socorro. O ser humano tem necessidade de ter relação com a natureza, com a água, a vegetação... Quem tem alta ou média renda consegue pagar a mensalidade de um clube para ter uma condição segura ou tirar alguns períodos para ir à praia. A gente vê que muitas margens de rios poderiam ter um balneário público, mas normalmente vão para a iniciativa privada, privando o acesso de quem tem baixa renda. São pessoas que já vivem em uma condição vulnerável e que se colocam em outras condições, desde o espaço onde moram até os momentos de lazer — observa Terezinha de Oliveira Buchebuan, que é professora do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da UCS e coordenadora do Escritório Modelo do curso (TaliesEM).
Em um projeto de doutorado que cursa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela avalia espaços públicos de lazer de comunidades de Caxias do Sul. Ainda sem revelar detalhes do estudo, que está em fase de elaboração, ela adianta que, embora a cidade disponha de muitos espaços de qualidade — são 418 áreas de esporte e lazer — o acesso por parte da população de baixa renda ainda é um desafio.
— Na área mais central há uma boa oferta, o Parque dos Macaquinhos, Cinquentenário, o Estádio Municipal e até mesmo os espaços abertos da UCS. Mas, se for mais para fora da região central, as alternativas são mais localizadas e exigem o pagamento de transporte para acessar. Em escalas menores, há praças nos bairros, com equipamentos mínimos, há uma carência muito grande — completa a doutoranda.
Para o professor e advogado Adir Rech, embora o uso das bacias não seja adequado para banho, os espaços poderiam ter seu entorno ocupado para o lazer, com uma infraestrutura adequada para a prática de atividades de esportes e lazer, de forma segura.
— Caxias tem muitas áreas públicas passíveis de serem ocupadas com lazer. Sem descaracterizar a bacia, sem gerar poluição da água, mas ocupando. Isso permitiria criar toda uma estrutura para evitar que a população se aproxime de locais perigosos — avalia Rech, citando locais como Complexo Dal Bó, Faxinal e Marrecas.
Ainda segundo o profissional, que é doutor em Direito Ambiental e Urbanista, a cidade poderia realizar um zoneamento da área rural, especialmente em áreas balneáveis, para dar finalidade a estes espaços, criando condições para que sejam ocupados de forma regular.
— A ocupação indesejada pode descaracterizar o espaço que poderia ser uma área de lazer, de interesse turístico, uma paisagem preservada — completa.
Secretaria avalia parceria com clubes e projeto de piscina pública
Atualmente, locais como a Cascata dos Molin, em Vila Seca, contam com parceria para a oferta de atividades sendo estas, porém, mais voltadas para aventura. Por questões de padronização e segurança, o titular da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel), Gabriel Citton, afirma que atividades "focadas em água" exigem equipes treinadas e capacitadas, algo mais difícil, segundo ele, de ser assumido pela prefeitura, pois precisaria ser regulamentado.
Ele entende que, a curto prazo, uma alternativa que já está em estudo poderia garantir maior acesso a espaços como clubes de piscina. São cerca de 10 em funcionamento, hoje, na cidade.
— A maioria deles tem isenção de IPTU, por ser de utilidade pública. Então pensamos em trabalhar cotas. Poderia ser uma vez por semana abrirem piscinas para as pessoas que não têm condições, uma parceria diretamente com os clubes. A ideia é começar um projeto para, quem sabe no ano que vem, já ter isso pronto. Isso, a curto prazo, seria o melhor, porque a gente sabe que ser sócio de um clube, hoje em dia, não é fácil — comentou Citton.
Em relação às barragens, ele afirma que há tratativas com o Samae na busca por alternativas para disponibilidade de um local de banho, como uma piscina pública gratuita ou de baixo custo, acessível à população que não tem condições de se associar a clubes ou se deslocar para fora da área urbana.
— Será feito um estudo, mas um diagnóstico já feito aposta que são moradores do entorno que vão. Então, não adianta fazer uma piscina pública no Enxutão, por exemplo. Teria que ser algo do lado da represa — comenta.
Quanto à ocupação dos espaços como forma de coibir acessos ilegais, o secretário citou o projeto Navegar, com canoagem, remo e vela na barragem Dal Bó todos os sábados. A atividade também faz parte da programação da Colônia de Férias, oferecida pelo Poder Público a estudantes de oito a 17 anos, de segunda a sexta-feira, até o dia 17 de fevereiro. São 30 vagas disponíveis por semana.
Também durante a temporada, até o dia 24 de fevereiro, às quartas-feiras, o Navegar está no Move-te Férias, projeto que atende grupos de 18 a 59 anos, bem como de idosos, com atividades diversificadas em parques, praças e ginásios da cidade. Mais informações pelo telefone (54) 3901-1265, das 8h às 16h.
Em conformidade com os direitos previstos na Constituição Federal, a Lei Orgânica Municipal prevê a garantia de espaços urbanos que melhorem a qualidade de vida, além da preservação e criação de áreas verde e de lazer. Aos educandos, a garantia de lazer também está prevista, inclusive aos deficientes físicos, sensoriais, mentais ou múltiplos, com profissionais especializados.
Dentro de temas como o desporto, o documento também pretende assegurar aos moradores da cidade o acesso às práticas desportivas, com a disponibilidade de condições, espaços e profissionais necessários. Sendo, ainda, direito do cidadão, o artigo 223 da Lei Orgânica Municipal, se refere à "garantida mediante políticas sociais, econômicas e ambientais, que visem à redução ou à eliminação do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços de sua proteção, promoção e recuperação", citando que "o direito à saúde implica em condições dignas de trabalho, saneamento, moradia, alimentação, educação, transporte e lazer".
De acordo com Citton, o município tem mapeado e atuado na criação de áreas de lazer. Ele citou uma praça que deve ficar pronta ainda este ano no Loteamento Vitória. Segundo ele, conforme identificada a necessidade, procura-se meios de viabilidade financeira.
— A gente vê quais áreas precisam mais e depois corremos atrás de dinheiro. O orçamento acaba sendo o problema, porque no governo primeiro vem Educação, Obras, Saúde, Proteção e depois as outras (secretarias). Por isso temos sempre que brigar por orçamento ou, quando algum vereador nos indica, tentamos ir atrás de verba parlamentar para fazer — afirma o secretário.
Segundo ele, as obras buscam sempre atender a uma estrutura básica composta por parquinho para as crianças, espaço para sentar à sombra de árvores e, se identificado que a área tenha população idosa, também são adicionadas academias voltadas à terceira idade.
Piscina pública de Farroupilha tem reabertura prevista para a próxima temporada
Está prevista para a próxima temporada a abertura da nova piscina pública que está sendo construída no Parque dos Pinheiros, em Farroupilha. A obra iniciada ainda em 2019 passou por troca de empreiteira e ficou orçada em R$ 942 mil, com previsão de ser concluída até maio. O projeto realizado com emendas parlamentares e contrapartida da prefeitura prevê a reforma da piscina que já existia, de 400 metros quadrados, além da construção de uma piscina infantil com água aquecida, de 128 metros quadrados, novos banheiros, assim como uma área de gramado e outra de piso no entorno das piscinas.
Segundo o diretor do Departamento de Esporte e Juventude de Farroupilha, Cilonei Monteiro, as duas piscinas comportarão até 550 pessoas e os valores cobrados aos usuários ainda não foram definidos.
— Ainda não foi definido nada nessa questão, até porque a prioridade no momento é que a obra fique pronta o mais rápido possível — comenta o diretor, que acredita que a conclusão possa ocorrer até mesmo antes do prazo previsto.
Antes de fechar para reformas, a piscina pública de Farroupilha podia ser frequentada mediante pagamento de taxa de inscrição na prefeitura, com o custo que variava de R$ 35 (para estudantes) a R$ 65 (para o público em geral), e isenção para crianças menores de sete anos e pessoas com mais de 60 anos.