A mesma persistência e esperança que motivou o operador de máquinas, Rodrigo Agustini, e a equipe da Codeca, em Caxias do Sul, a procurar um celular entre nove toneladas de lixo por duas horas na estação de transbordo, foi o que motivou a dona do aparelho, a aposentada e mãe de Agustini, Ana Valkiria Massenz, a se agarrar na fé enquanto estava em casa. O caso ocorreu na última terça-feira (3), quando mãe e filho separavam lixo para o descarte e, sem querer, Ana colocou junto o eletrônico.
A religiosidade da aposentada está bem representada no celular: a tela de bloqueio é uma imagem de Santo Ângelo e, na tela desbloqueada, a imagem é de Nossa Senhora de Fátima. Por essas duas representações, Ana acredita que o encontro foi um milagre.
— Parece que vinha uma voz assim na minha alma, que estava me tranquilizando e eu me lembrei de Nossa Senhora. O Rodrigo (filho) sempre nos leva em Caravaggio, eu acendo minhas velinhas para ela. Agora vou ter que voltar para acender outras. Eu não acho (que foi ela), eu tenho certeza, porque o desespero que eu passei e para ele estar bem intacto como ele está, só pode ter sido ela (Nossa Senhora). Ela viu todo o meu sofrimento — defende a aposentada.
Este desespero vai além das fotos e dados bancários, que normalmente se tem no celular. Ana é subsíndica do condomínio onde mora, tendo o número de telefone de todos os moradores do local, além de ter o marido acamado, o que requer contato com diversos médicos, cujos telefones estão na agenda do aparelho. A dor também vinha do prejuízo financeiro possível, tendo em vista que o aparelho tinha apenas seis meses de uso.
Eu não acho (que foi ela), eu tenho certeza, porque o desespero que eu passei e para ele estar bem intacto como ele está, está novo, não estragou nada, só pode ter sido ela (Nossa Senhora)
ANA VALKIRIA MASSENZ
Dona do celular encontrado entre nove toneladas de lixo
— Comecei a chorar aqui dentro de casa, fui para os quartos, revirei, liguei para o Rodrigo e disse para ir atrás do caminhão. Eu peguei o telefone de casa para ligar para o celular e não chamava. Ele me dizia calma, mas eu estava chorando. Eu dizia "eu estou pagando o celular, tenho todos os contatos, como é que vou fazer?".
A boa notícia
A notícia que Ana queria escutar veio após horas de apreensão. Foi uma vizinha, que estava ligando para o celular durante toda a tarde, quem foi atendida por Rodrigo e comunicou a aposentada:
— Ela (a vizinha) me disse "vou te dar uma notícia boa: acharam o teu celular". Foi um alívio quando vi o Rodrigo com o aparelho aqui na frente (do prédio) — lembra.
Para ajudar o operador de máquinas a achar o celular entre as nove toneladas de lixo, o líder de operação de transbordo no turno da tarde, Jean Carlo Brito, uniu uma equipe para ajudar nas buscas. Além de Brito e Agustini, participaram outros cinco colaboradores da Codeca: Miguel Ramos Tubia, Edineia de Oliveira dos Santos, Sidemirso Greskide Siqueira, Lindones Pires da Rosa e Clairton Rodrigues da Fonseca.