Há tempos, a demora no atendimento, a falta de médicos e leitos, além de problemas de estrutura impactam no serviço prestado nas unidades de pronto-atendimento (UPAs) de Caxias do Sul. Na última semana, a situação ganhou um problema a mais, com a rescisão contratual por parte da empresa que fornecia pediatras à UPA Zona Norte, o que deixou a unidade com desfalques na escala médica. Diante de um cenário que persiste, a reportagem ouviu os usuários das duas unidades para que avaliassem a situação atual nas UPAs.
Alvo de constantes reclamações por parte de pacientes que precisam do Sistema Único de Saúde (SUS), a UPA Central apresenta problemas históricos, não apenas pela demora nos atendimentos, mas também por falta de estrutura e espaço físico. Um exemplo disso é que quando há mais pessoas no saguão, elas ficam sentadas no chão ou de pé, escoradas nas paredes devido à falta de cadeiras.
A lotação era um problema que poderia ter se resolvido com a inauguração da UPA Zona Norte, já que os pacientes poderiam se dirigir para outra unidade em busca de atendimento. Mas nem sempre é o que ocorre, já que as duas registram dias de lotação e demora. Na UPA Zona Norte, o espaço físico é mais adequado mas, no momento, a unidade está sem pediatras, o que faz com que os pais e responsáveis precisem se deslocar até o Centro para atendimento. Outro problema é a falta de vagas nos hospitais, já que os pacientes precisam aguardar por leitos nas unidades.
A reportagem esteve nas UPAs Zona Norte e Central, na terça (9) e na quarta-feira (10) para ouvir relatos de pacientes sobre como foi o atendimento. Nestes dois dias, das 8h às 10h e das 17h às 19h, as UPAs não estavam lotadas. No entanto, esse não costuma ser o cenário encontrado em outras ocasiões em que a reportagem esteve nas unidades.
O Pioneiro conversou com 12 das 21 pessoas que aguardavam por atendimento ou haviam sido atendidas das 8h às 10h na UPA Zona Norte e com 10 que estavam na UPA Central, das 17h às 19h, quando a fila chegou a 35 pacientes aguardando. Já na quarta foram ouvidas 14 das 29 pessoas na UPA Central, das 8h às 10h, e 15 das 32, na Zona Norte, das 17h às 19h.
Críticas e elogios
Há aqueles que se queixam da falta de médicos, estrutura precária, demora e das consultas. Por outro lado, também há pacientes que elogiam a agilidade e atenção dos profissionais, bem como a rapidez dos atendimentos. Para explicar esses dois cenários é preciso avaliar o fluxo de atendimento, que considera na triagem quais casos são mais graves, a escala de médicos naquele dia, o perfil do profissional, a quantidade de pacientes que aguarda por consulta e até mesmo a dor e o mal-estar relatados.
Porta de entrada, dos atendimentos de urgência e emergência as duas UPAs somaram 21.087 atendimentos em julho.
Movimento muda conforme o dia
O diretor de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde de Caxias do Sul (SMS), Fábio Baldisserotto, afirma que há dias em que o movimento maior é de pacientes com sintomas respiratórios e, em outros, clínicos. O médico explica que ainda é obrigatório devido à covid-19 atender pacientes respiratórios em consultórios diferentes e é preciso mudar o padrão de atendimento conforme aumenta a demanda dos tipos de atendimento.
— No começo dos plantões existe uma previsão das escalas, separando os médicos para atender o mesmo número de pacientes. De acordo com o andamento do plantão e a chegada das triagens, é feito um remanejo desses médicos caso eu tenha mais pacientes respiratórios do que clínicos. Às vezes, isso demora algumas horas, tem que higienizar consultórios e trocar jalecos. Essa movimentação é feita de duas a três vezes ao dia. Porém, ela não é tão rápida.
Por isso, às vezes alguns pacientes são atendidos mais rapidamente do que os que chegaram mais cedo, conforme os sintomas, explica ele. Ele frisa ainda que as segundas e terças-feiras são os dias mais movimentados:
— São aqueles pacientes que estão com sintomas respiratórios, querem trabalhar, mas a empresa não deixa porque têm sintomas respiratórios. Eles buscam a UBS, mas no posto de saúde não conseguem essa consulta e acabam vindo para a UPA. Muitos médicos das unidades reclamam de estar atendendo pacientes que poderiam estar nos postos de saúde, mas a culpa não é deles. Eles precisam de atendimento e não têm outra opção.
Cerca de 80% dos atendidos por dia nas UPAs são casos que poderiam ser resolvidos nos postos de saúde, segundo ele. Sobre as reclamações a respeito de atendimentos que podiam ser mais assertivos ou atenciosos, o médico destaca que são feitas reuniões, avaliações e encaminhamentos para buscar soluções para esses casos. Mas é uma questão de perfil do profissional.
— É um critério muito médico, mas sabemos que a maioria das pessoas não vai melhorar. Então, pode iniciar o antibiótico precocemente ou dar mais tempo de atestado, porque o paciente vai ter que voltar no outro dia. Tentamos trabalhar isso e sensibilizar os diretores técnicos que treinam as equipes para alinhar algumas questões. Só que é difícil padronizar o atendimento porque é questão de conduta profissional. Vai depender do médico solicitar um exame e iniciar o antibiótico.
Ele ressalta que se é percebido algum problema no fluxo ou com profissionais, é chamado o diretor para resolver o assunto. Caso os pacientes sejam mal atendidos, ele orienta os pacientes a acionarem a ouvidoria, pelos telefones (54) 3280-4446.
A orientação da SMS é para que a população busque as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) para consultas de rotina, uma vez que as UPAs são voltadas a prestar atendimentos de urgência e emergência. "Os pacientes que procuram as UBSs são acolhidos pela equipe de saúde e, se houver necessidade, podem ser encaminhados a outra unidade. A SMS pondera, no entanto, que histórica e culturalmente a população tende a buscar atendimento nas UPAs, o que acarreta em maior tempo de espera caso o quadro do paciente não seja urgente, conforme as classificações de risco".
Confira, abaixo, as avaliações de quem foi atendido na UPA
:: Terça-feira - UPA Zona Norte
"Estou com muita dor porque fui picado por um escorpião no joelho. Fui até a UBS ontem (segunda) e fui medicado com paracetamol e mandaram para casa. Então, vim buscar atendimento aqui porque está doendo muito. Fizeram a medicação e não estou mais com dor. O atendimento foi ótimo".
José Oliveira, 56 anos, carpinteiro, morador do bairro Pioneiro.
"O atendimento tem que ser mais rápido e assertivo. Meu marido está com pedra na vesícula e esta é a terceira vez que viemos aqui. Fora as consultas no posto do bairro porque ele está com dor há duas semanas. Não come, está debilitado e está se contorcendo de dor. Sabem o que ele tem, por que não encaminham para procedimento?"
Eva de Fátima Pinto Lentz, 51 anos, auxiliar de limpeza, angustiada com a situação do marido Ivo Dilson Lentz, 54. Eles moram no Santa Fé e o aposentado ficou das 8h até por volta das 13h na UPA até ser medicado e liberado.
"Meu filho está com muita febre, dor de ouvido, vômito e não tem pediatra. Na UPA Central, a pediatra não quis olhar os exames que levei dele que outra médica havia pedido. Ela passou medicação para infecção no ouvido e para o enjoo e foi isso. Na triagem, nem mediram os sinais dele. Só a febre. Vou ter que levar em outro médico para olhar o raio-x e hemograma".
Vanessa Rodrigues do Calmo, 33 anos e o marido Eberson do Calmo, 30, moram no bairro Charqueadas. Eles foram até unidade em busca de consulta para o filho Daniel Augusto Calmo, dois anos e oito meses, por volta das 9h20min. Ela já havia procurado o posto de saúde na semana passada e, como não tinha ficha para atendimento, levou o filho em uma consulta particular com valor mais acessível, só que agora precisa mostrar os exames para ter o diagnóstico correto. Como na UPA Zona Norte não havia médico, foram até a UPA Central porque o menino estava com febre. Lá ele foi atendido e eles deixaram o local às 11h22min.
"Costumo ir no posto do bairro, mas como estou com sintomas gripais decidi vir aqui que é atendimento de urgência. Foi a primeira vez que busquei consulta na UPA e o atendimento foi rápido e estou saindo medicado".
Iradir da Silva Villasboas, 61 anos, metalúrgico, e morador do Pioneiro.
"Deixei de ir na UPA Central e passei a vir na UPA Zona Norte porque aqui o atendimento é mais rápido. Lá a gente espera de cinco a seis horas, e aqui em uma ou duas horas geralmente sou atendida, medicada e liberada. Na recepção, a triagem e as enfermeiras atendem bem e os médicos também. Tem os estagiários da UCS também. Só acho que poderia ter mais médicos, o que ajudaria ainda mais nas consultas".
Vera Fernandes, 53 anos, é diarista. Moradora do bairro Universitário, ela passou a buscar consultas com mais frequência depois que foi infectada pela covid-19 e teve sequelas.
:: Terça-feira - UPA Central
"Atendimento nota 10, não esperei muito, o médico que nos atendeu foi muito gentil, muito querido. Não levamos nem 30 minutos para ser atendidos".
Mara Gonçalves, 52 anos, cuidadora de idosos, levou o filho Jeferson, 16, estudante, para consulta.
"Vim para atendimento pediátrico porque na UPA Zona Norte não tem, aí tive que vir aqui. Levei 1h30min para ser atendida. Até que comparado (com outras vezes), não foi tão demorado, às vezes demora bem mais. Eu gosto da outra UPA (Zona Norte), lá sim é bem mais rápido, ainda mais com crianças. O atendimento aqui (UPA Central) foi bem bom, o médico foi bem simpático. É mais a questão da demora, às vezes se a criança está com febre alta pode dar vômito, convulsionar, é bem ruim a situação".
Ramone de Abreu, 34 anos, telefonista.
"É difícil eu vir aqui. Hoje eu tive um desconforto no estômago, parece uma virose. Fui bem atendida, a médica foi maravilhosa. Cheguei aqui às 13h, fiz exame de sangue, medicação, porque eu estava bem ruim, sou hipertensa, mas aqui foi bem tranquilo".
Aline Machado, 39 anos, porteira.
:: Quarta-feira - UPA Central
"Minha filha estava com febre e dores no corpo por causa da amigdalite e a pediatra percebeu que ela estava sentido calafrios. Ela decidiu deixar internada para ser monitorada. O atendimento foi ótimo".
Ladir Braga, 44 anos, diarista, bairro Kayser, levou a filha Yasmin Rufino, seis, para atendimento.
"Levei uma pancada num jogo de futebol na sexta e estou com falta de ar e dor nas costelas. No sábado vim até a UPA Central e fui medicado, mas continuei com dor. Não pediram exame e continuei com dor. Se o médico tivesse solicitado um raio-x, o atendimento teria sido melhor".
Paulo Joel Oribes Paz Junior, 23 anos, padeiro, morador do bairro São Luiz.
"Busco atendimento nas duas UPAs porque mudei de bairro. O maior problema é a demora para atendimento depois que passa pela triagem. Hoje está tranquilo porque vim acompanhar meu esposo, mas semana passada, na quarta-feira, fiquei quatro horas aqui e estava lotado. Eu me sentia mal e dormi em uma cadeira".
Luana da Silva Francescato, 23 anos, estava com o marido Christian Eduardo da Silva Marsiglio, 27 anos. O casal mora no bairro Pio X.
"Estou com amigdalite há 10 dias. Consultei há alguns dias e a doutora receitou antialérgico e anti-inflamatório. Não melhorei e voltei porque tive febre. O atendimento foi rápido, e dessa vez ela prescreveu anti-inflamatório. Podia ter tido mais atenção ao meu caso na primeira vez, o que evitaria que eu tivesse que voltar".
Cristiane Maciel dos Santos da Silveira, 29 anos, auxiliar-administrativo, moradora do bairro Nossa Senhora das Graças.
"Ela estava com vômito e dor de estômago. Chegamos perto das 8h e 9h25min estávamos indo embora. Foi uma das melhores consultas. O atendimento foi bom".
Jeniffer da Silva, 31 anos, cozinheira, levou a filha Ágata da Silva de Macedo, 13 anos, para consulta.
:: Quarta-feira - UPA Zona Norte
"Estou procurando uma consulta psiquiátrica para ser internada. Até agora (3h depois de chegar) eu só passei pela triagem. Não esperava que fosse demorar tanto, não é justo. Eu me sinto mal, é ruim ficar esperando. (Até a hora que a reportagem esteve no local, Leila ficou 5h aguardando. Por não ter telefone para contato, não foi possível verificar quantas horas a mais ficou e nem se conseguiu atendimento)".
Leila Falcão Carneiro, 32 anos, acompanhante.
"Estou há duas horas esperando e só passei pela triagem. Eu ‘tô’ com dor para fazer xixi, com dor de cabeça e com febre. Está demorando para ser atendida, eu sempre venho aqui e é sempre três horas de espera. Acho que é porque tem poucos consultórios, tem que ter mais, porque vem muita gente e são poucos. (Neilimar ficou três horas no local até ser atendida. Com sintomas de cistite, estava na sala de espera encolhida pela dor)".
Neilimar Aparicio Valdez, 19 anos, padeira.
"Ontem de noite comecei a passar mal, consegui levantar da cama e ir para a UPA Central, onde fiquei até 14h/14h30min e acabou a energia do prédio inteiro. Aí eles pediram se eu esperaria ali (UPA Central) ou viria para cá (UPA Zona Norte). Eu fiquei mais meia-hora esperando e vim para cá. Das 15h até agora (eram 18h) eu só passei pela primeira triagem. Havia passado antes, mas perderam os arquivos e disseram que não iam me chamar se não pedisse de novo para fazer a triagem. Me colocaram para o final da lista e só vão me chamar quando o pessoal que chegou depois de mim for atendido. Na minha opinião, acho uma sacanagem não ter gerador em um prédio (UPA Central) que é de saúde pública. Eu já usei os serviços das UPAs e, geralmente, o tempo de espera é de 6h a 7h. Já estou acostumado com isso. (Através de contato telefônico, Lucas relatou ter sido atendido seis horas após chegar na unidade)".
Lucas Miguel Carvalho Silvestrin, 22 anos, programador.
O que diz a SMS sobre os relatos
Em nota, a SMS afirma que "compreende todos os relatos, bem como a expectativa da população por atendimento imediato nas UPAs. Em relação à falta de pediatra na UPA Zona Norte, o problema foi divulgado pela Prefeitura, esclarecendo que o motivo da escala incompleta foi a rescisão de forma unilateral por parte da empresa que contrata esses profissionais para a Universidade de Caxias do Sul - UCS (gestora da UPA Zona Norte). Diante disso, a Universidade tem buscado outras formas de contratação de pediatras. Mesmo que a escala esteja incompleta, todas as crianças passam por triagem na UPA Zona Norte, recebem o primeiro atendimento e, conforme avaliação, podem ocorrer transferências para a UPA Central, com suporte do Samu."
A mesma nota ressalta a utilização do Protocolo de Manchester e que dúvidas e insatisfações devem ser apresentados para a ouvidoria, já citados acima.
A história das UPAs, em oito pontos
:: Caxias passa a ter duas UPAs, com a abertura da unidade Central
Após impasses, manifestações e dois anos de polêmicas, a UPA Central abriu as portas no dia 19 de dezembro de 2019, às 23h57min. O então Postão 24h fechou em outubro de 2018 para reforma. Mas, 11 meses antes, quando o então prefeito Daniel Guerra anunciou a intenção de compartilhar a gestão, manifestações do Conselho Municipal de Saúde (CMS) e dos servidores municipais tornaram-se rotineiras.
Apesar da conquista da abertura, o início do funcionamento não passou batido dos impasses históricos: a UPA abriu sem alvará dos bombeiros. Porém, na época, não foram apontados riscos aos usuários e funcionários e, por isso, o funcionamento teve continuidade. Mesmo com os tumultos, a abertura da unidade no Centro foi um grande marco para a cidade, que até então contava apenas com a UPA Zona Norte, no bairro Centenário.
:: Abertura do setor pediátrico na Central
Nos primeiros dias, a UPA Central tinha apenas atendimento adulto, com início do atendimento às crianças no dia 6 de janeiro de 2020. Pais e responsáveis precisaram aguardar mais um tempo, mas no dia 1º de fevereiro dois médicos começaram a atender os pequenos. Até então, o atendimento às crianças ficava restrito à UPA Zona Norte e a inclusão do serviço auxiliou no desafogamento das demandas da primeira UPA. À época, o InSaúde, que administrava a UPA Central, alegou que o atraso ocorreu pela dificuldade na contratação dos profissionais da pediatria.
:: UCS assume gestão da UPA Zona Norte
Com o fim da gestão do Instituto de Gestão e Humanização (IGH), no dia 30 de junho de 2020, iniciou, no dia seguinte, a gestão feita pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), vigente até hoje, na UPA Zona Norte. Até a assinatura do contrato entre a instituição e a prefeitura, houve impasses com o Ministério Público Federal (MPF), com recomendação e ação pedindo uma licitação para a gestão. Mesmo com a ação judicial, a Câmara de Vereadores aprovou o pedido, enviado ao Legislativo em caráter de urgência, e a prefeitura manteve os planos com a UCS.
A assinatura do convênio foi firmada no dia 30 de junho, horas antes da gestão começar a valer. A transferência foi feita à meia-noite do dia 1º, simultaneamente enquanto os atendimentos ocorriam, sem paralisação do serviço. À época, foram previstas 250 contratações diretas e indiretas. A reportagem tentou o número atualizado das contratações com a UCS, mas até o momento, não teve retorno da instituição.
:: Festas clandestinas na pandemia e irregularidades
A UPA Central passou por uma inspeção, em junho de 2020, após fotos de uma festa junina, realizada no refeitório da unidade, terem sido expostas em redes sociais. Na época, o InSaúde, que administra a UPA, identificou, pelo menos, 14 funcionários contratados.
O Pioneiro teve acesso a fotos e mensagens trocadas em grupos de trabalhadores, que comprovavam que a prática das comemorações, até então restritas pela pandemia de covid-19, eram frequentes no local. O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) Serra, à época, fez 19 apontamentos. A questão foi para o Ministério Público, entretanto, o contrato do InSaúde, mesmo com a polêmica, foi renovado para a gestão de 2021.
:: Problemas de insegurança com assaltos e furtos
Um problema atual, mas não de hoje. Em setembro de 2021, furtos na UPA Zona Norte viraram pauta, após um homem furtar ampolas de morfina. Na mesma época, em um intervalo de 66 dias, duas invasões já haviam sido registradas. Um mês após o primeiro caso mencionado, a solução apresentada foi o fechamento dos portões de grade à noite e o aumento da periodicidade das rondas da Guarda Municipal.
Já esta semana, quase um ano após a discussão, o Conselho Municipal de Saúde enviou um ofício à SMS solicitando medidas de segurança para a UPA Central. Além de furtos no local, uma mulher teria relatado ao Conselho ter sido assaltada por um homem armado com faca no interior do prédio. A SMS relata desconhecer o caso apresentado e afirma que há videomonitoramento e ronda da Guarda Municipal para coibir essas ações.
:: Habilitação da UPA Central e a demanda para o cofre municipal
Já são quase três anos que a prefeitura aguarda que o Ministério da Saúde habilite a UPA Central para que, com o reconhecimento, possam ser enviados recursos financeiros que podem variar de R$ 250 mil a R$ 500 mil, mensalmente, do governo federal para a manutenção da unidade de saúde. Enquanto a habilitação não é aceita, a prefeitura arca, mensalmente, com R$ 2,4 milhões.
O primeiro pedido foi feito ainda em 2019, antes da inauguração da UPA. Após a abertura do serviço, diversas reivindicações foram feitas pela prefeitura. De acordo com a SMS, nesta quinta-feira (11), a pasta recebeu a informação que a situação da habilitação segue em avaliação.
:: Falta de médicos
Desde 2018, a UPA Zona Norte apresenta problemas como a falta de pediatras. Mudou a gestão, em 2020, quando a UCS assumiu, entretanto, o histórico problema persiste. Em 2019, o Cremers realizou, novamente, uma vistoria, que constatou a falta de médicos. A primeira foi realizada em março e, a segunda, quatro meses depois, quando foi constatado que a “situação só havia piorado”, segundo relatório.
Já na UPA Central, a mesma reclamação não demorou um mês para acontecer. No ano passado, a prefeitura chegou a abrir processo contra o InSaúde e o MP cobrou explicações sobre a falta de profissionais. De acordo com o presidente do Conselho, Alexandre Silva, o problema ainda persiste.
No último sábado (6), uma reunião emergencial entre a prefeitura e a UCS buscou solucionar a questão. A reportagem questionou a UCS sobre quais soluções estão sendo estudadas, mas até o momento, a instituição não deu retorno sobre o assunto. Na terça (9) e quarta (10), pais e responsáveis que chegavam com crianças no local, precisavam ser direcionados para a UPA Central, pois não havia médico na pediatria.
:: Longa espera por atendimento nas duas UPAs
Se faltam médicos, o atendimento leva mais tempo para ocorrer. Reclamações de demora no atendimento nas duas unidades são frequentes. Na UPA Central, já haviam reclamações de cinco horas de espera para atendimento no 15º dia de funcionamento na unidade.
Durante as 8h de vistoria da reportagem, o Pioneiro conversou com aproximadamente 50 pessoas e a maioria apontou a demora no atendimento como reclamação. Um usuário, na quarta (10), levou 11h para ser atendido — cinco horas esperando na UPA Central e mais seis horas na Zona Norte (confira relato acima).